Desembucha Coração

Eu prescindia que havia alguma coisa errada, enfim, só não conseguia decifrar o que era! Poxa, mesmo não tendo coragem de desabafar ao meu grande amor as mais puras palavras que ele em pessoa ou em espírito arrancava da minha alma ou sentimento, enfim, por escrita eu era obrigada a fazer isso. As palavras que por este caminho eu não tomava caligraficamente, eu deixava de ser eu, tornando a mulher mais infeliz diante dos meus conhecimentos. Era um sentimento aonde em lugar algum eu não conseguiria arrumar paz. Pois, a minha paz era ele.

Nossa! O meu amor por ele tinha se tornado vício em escrita. Sara, ainda bem que eu lhe tinha como amiga. E que amiga! Afinal, em sigilos era ela que sempre servia de correio elegante para que as minhas declarações chegassem a ele.

Enfim, ele nunca me respondia, mas também... o receio de levar um não da parte dele ou um insulto era tão grande, que sempre que o avistava, procurava eu se ausentar. Pois, minhas pernas tremiam, meu coração pulsava tão forte insinuando por muitas e muitas vezes ouvir o toque das minhas pulsações soarem pelos ouvidos.

Sara sempre procurou me alertar deste vacilo, mas enfim, frágil, incrédula de que eu poderia sim, merecê-lo na minha vida, talvez fora esse o meu pior vacilo. Algo que sempre jurei a mim mesma de que um dia; antes de eu mesma imaginar, haveria eu te chegar nele enfrentando este amor pessoalmente, enfim, era isto o meu maior sonho! Poxa, como eu adora ouvir a voz dele! Como adorava encará-lo de frente. Aquela face, aqueles olhos, aquela fisionomia que só Deus sabe o que significava para mim. Enfim, os dias foram passando, eu juro, lutei o quanto pude para que esse dia chegasse, e que todos os meus desejos sobre este anjo tudo viesse a se concretizar!

Eu não dei conta, mas foram ao todo quatro anos, para que eu desse conta de tudo o que eu mesma criei. Sara distanciou de mim, pois segundo ela, teria arrumado um emprego tornando-se difícil de encontrarmos com freqüência. Algo que aceitei numa boa, afinal, quem é que não precisa trabalhar para conquistar o que almeja?

Nossa amizade foi se esfriando. Nossas rotinas tornaram-se diferenciada. Um dia, chegou ao meu ouvido de que Sara estaria de namorado, porém, só não chegou o nome do bendito cujo. Poxa, como eu fiquei triste! Afinal, agora de uma vez por toda senti na pele de que dali em diante realmente eu teria perdido uma grande amiga. E o pior, até a minha melhor amiga namorando e somente eu, ainda na solidão!

Poxa, agora sozinha, sem amiga, mas ainda por um grande sentimento por Percival, tudo se tornaria mais agressivo a minha alma! Aquele amor me atordoava de vez, e o pior, quem é agora que me serviria de fonte para conscientizá-lo do meu amor a ele? Tive que ser mais audaciosa, ou eu me enfrentava aproximando pessoalmente de Percival, ou, arrumava um jeito de apelar pelas escritas.

Infelizmente, fui uma grande covarde comigo mesma, apelando somente pela escrita.

Sara, por onde andava você agora? Sem Sara por perto, tive que ser um pouco mais audaciosa, por endereço enviá-lo as cartas. Atitude da qual descobriu ele quem era a autora da carta.

Eu sempre sonhei conversar pessoalmente com ele. Enfim, jamais acreditava que isto se concretizaria, afinal, eu era mais do que covarde comigo mesma. Enfim, a vida me surpreendeu, fazendo-nos ficar de frente a frente.

Era uma tarde ensolarada, acabara eu de chegar a um ponto de ônibus, estando de destino ao meu emprego, mas para minha surpresa era Percival, que se encostava ali, alegando e muito precisar falar comigo. Conversar com ele? Cai em risos nostalgicamente. Aquilo não era um favor a ele, era à minha alma. Quem é que não curte, adora, sonha, deseja, almeja conversar com a pessoa amada?

Fiquei tensa naquele momento, mas desembuchei um sim, tão logo junto dele partindo à primeira mesinha de lanchonete que ficava próxima do ponto de ônibus, sentando e por convite dele tomando açaí.

—Teu nome é Ana? – perguntou ele, a um tom tenso quanto ao meu. De início respondi um sim, logo insinuando de que estaria delicioso o açaí. Algo que de imediato arrancou risos dele. E que risos!

O tempo foi passando, o açaí logo era ingerido por ambas à parte, e o pior, a conversa entre nós ia perdendo assunto; motivo que Percival apelou, a um modo gentil retirando do bolso folhas das quais veio à tona do que seriam. Nossa! Eram as cartas que eu lhe havia enviadas!

De um modo sombrio, mas sem perder a educação, ele foi logo direto ao assunto, indagando se era eu mesma a autora das cartas ou se era Sara. De início, assustei. Mas por que Sara? Sara e eu sempre fomos amigas. E outra, por qual motivo, justo ele vir a me perguntar dela?

Lamentável! Aquele dia que tinha tudo para ser um dos melhores dias da minha vida, logo veio como uma bomba. Percival há quatro anos era namorado de Sara. De inicio, lógico que me deu uma tamanha vontade de correr atrás dela, tirando as maiores justificativas de tudo o que ela me aprontou, enfim, cedada pela presença de Percival, não tive coragem de deixá-lo ali, ao contrário, minha vontade foi de enfrentar minha própria psique, desabafando-lhe tudo do que há quatro anos, eu me acovardei.

Sem temer as consequências, dei- lhe um sim, confessando ser a autora das cartas, melhor, autora do único recurso que tinha para me aliviar do bendito amor que ainda sentia e muito por ele. Cheguei a lhe pedir perdão, mas com risos meigos ele negava, justificando que não havia motivo, e que apenas só precisava da minha fidelidade àquele momento. Poxa, conversamos tanto, houve muito deslize da parte dele, me alegando que foram as minhas palavras que o fez se apaixonar por Sara. Afinal, foram às mesmas ausências que o fez a estranhar; confessando-o a autora das cartas.

Minhas últimas cartas direcionadas a ele, mas com caligrafia diferenciadas de Sara, o despertou, fazendo com que ele xerocasse-as, comparando com as que a mesmas que ela escrevia a ele com as caligrafias dela. Tinham palavras poucas diferenciadas, enfim, eram poucas, não roubando os sentidos das minhas.

Percival alegava-me de que não conseguia perdoar Sara. De início me sentia um pouco culpada, noutros instantes, revoltadas pela trairagem de Sara com minha pessoa. Mas, enfim, minha psique sempre foi leal a um dilema de minha mãe: “Nesta vida, jamais perdemos daquilo que nunca fora nosso; fora que, cada um tem a metade da sua laranja”.