AMANDA IV - ANDRÉ XIII-PARTE 1

I – ANDRÉ

André e Marco se sentaram à mesa e o rapaz perguntou:

- Quer beber alguma coisa?

- Não. Eu confesso que estou meio... enjoado, meio estranho...

- Enjoado? Está... grávido? - André conseguiu brincar.

- Não! Que ideia! - Marco conseguiu até rir.

- Mas não pode acontecer? Com a Amanda quero dizer... Vocês estão casados há dois meses...

- Não, não tem nada a ver. Meu enjoo tem mais a ver com... uma pessoa que eu vi quando cheguei aqui... que me tirou o chão.

- Quem? - André perguntou, com sincera preocupação.

- Não... Ninguém... O que você queria falar comigo?

André afrouxou o nó da gravata e cruzou os dedos das mãos sobre a mesa.

- Eu sei que você... é padrinho do meu filho com a Débora...

- Eu sou padrinho do filho da Débora com o Aldo, André...

- É, eu sei, eu sei... Desculpa, eu... – André respirou fundo e fechou os olhos para ter coragem de continuar. – Mas ele é meu filho também e eu... queria... Eu sei que ele fez um ano esse mês e... eu queria vê-lo. Eu comprei um... presente pra ele... e queria entregar... na mão dele.

Marco se apoiou no encosto da cadeira e ficou olhando para as mãos unidas sobre a mesa, imaginando o que dizer.

- Eu não sei o que posso fazer sobre isso.

- O menino pode ir na sua casa ou na casa da sua mãe. Você não o vê sempre?

- Vejo, mas...

- Eu preciso só de um dia. Amanhã é véspera de Natal. É feriado. Você pode dar uma desculpa de que quer... dar um presente pra ele e pedir para vê-lo...

- Se o Aldo descobre...

- Marco, você é inteligente o suficiente pra conseguir fazer isso sem que o Aldo descubra. Ele não confia em você?

- Claro que confia, mas... o Aldo não é mais o garoto besta e ingênuo que você conheceu, André. Ele agora é casado, pai de família e ama aquele menino demais... tanto quanto ama a filha deles que acabou de nascer...

- Mas eu só quero o direito de ter um minuto com meu filho! - André falou, erguendo a voz, nervoso, fechando as mãos sobre a mesa.

- Ele não é mais seu filho, Marco disse, ainda calmo, mas tentando não reagir ao seu comportamento. – Esquece ele, André. Ele está bem, é bem cuidado e é amado. Tenta refazer sua vida e... parte pra outra.

- Você não acredita mesmo no que está falando, não é? - André tinha um tom de tristeza na voz. – O que aconteceu comigo podia acontecer com qualquer cara da minha idade, até com você. Estou errado?

Marco não respondeu imediatamente. Lembrou-se de Bete e de todas as vezes que havia transado com ela sem proteção. Ou mesmo com Amanda, dois meses antes do casamento.

- Você não está errado, mas... se acontecesse comigo... eu não teria dado as costas pra mãe do meu filho...

- Teria sim, se não visse em volta de você o apoio de ninguém. Se você tivesse o pai que eu tenho que vivia viajando pelo país e vivesse sozinho numa casa com um irmão mais novo e mais nada que te dissesse que seria possível criar um filho e assumir cuidar da garota e dele, sozinho.

Marco baixou os olhos sem argumento. André continuou:

- Eu não estou me justificando. Foi burrice demais transar com a Débora sem pensar nas consequências, mas eu gostava dela e ela gostava de mim e eu não estava ligando pra nada mesmo. Pra mim estava valendo ser feliz enquanto eu podia... e eu fui. Fui muito feliz. Mesmo estar com o Otávio e o Caio... curtindo com a tua cara e tentando ferrar com a tua vida, me fazia me sentir dono da minha vida. Já que eu estava sozinho mesmo... Só que agora tenho que pagar o preço. E ainda vou ter que seguir meu pai pra onde ele for...

- Como assim? O que você quer dizer com isso? - Marco perguntou.

- Eu e meu irmão vamos mudar com meu pai pra Bahia. Vamos morar com ele lá. Eu vou... começar a trabalhar com ele. Foi a punição que ele me deu por ter... engravidado a Débora e... pela confusão que houve na sua casa, ter envolvido você, tê-lo feito... reencontrar sua mãe e todo o resto.

- Mas você não teve culpa disso. Nem eu sabia.

- Ele não quer saber. Ele quase me bateu naquele dia. Rezou um terço de três semanas no meu ouvido, me forçou a voltar pro colégio e terminar o terceiro. Eu não queria mais voltar a estudar, mas ele disse que se eu não voltasse, me colocaria pra fora de casa. E eu só não saí, porque... não tinha pra onde ir.

Os olhos de André brilharam pela indignação, olhando distante para lugar nenhum.

- Eu sinto muito, de verdade, disse Marco. - Eu vou ver o que consigo fazer sobre você ver o Júlio. Eu posso até pensar na possibilidade de contar pro Aldo. Ele não vai se opor, se eu disser os seus motivos. O Aldo tem um coração enorme. Teu filho está em ótimas mãos. Tenha certeza disso.

- Mas não são as minhas... André falou com a voz embargada.

Marco ficou em silêncio e olhou de novo para as mãos.

- Eu sei que eu não tenho mais direito nenhum de pedir nada pra você, mas... como padrinho do garoto... cuida dele pra mim... Eu sei que você pode, mesmo a distância.

Marco ergueu os olhos novamente e assentiu.

- Vou fazer isso. Eu já adoro o Júlio César, de verdade... e a família dele toda.

- Quem teve a ideia desse nome?

- O Aldo...

- Inspirado no seu.

Marco apenas balançou a cabeça confirmando e sorriu de leve. André ficou olhando para a mesa e não disse mais nada. Marco viu por cima do ombro dele que Otávio se aproximava deles e num movimento imperceptível, balançou a cabeça como se não acreditasse que aquilo estava acontecendo. Otávio aproximou-se da mesa, com as mãos no bolso da calça e já sem o paletó.

- Oi.

- Oi, Marco respondeu.

André ergueu a cabeça e virou para trás. Quando viu Otávio virou o rosto novamente e se levantou.

ANDRÉ

PARTE I

DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS

SEJAMOS, TODOS, LUZES NA ÁRVORE DE NATAL DO CRISTO!

OBRIGADA SEMPRE

Velucy
Enviado por Velucy em 10/12/2018
Reeditado em 10/12/2018
Código do texto: T6523242
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