AMANDA III - "SONETO DO AMOR TOTAL" III - PARTE 3
III – “SONETO DO AMOR TOTAL”
Quando Marco voltou do banho, de volta à sala, enxugando os cabelos, viu os cadernos de Amanda sobre a mesa de centro. Sentou no sofá e começou a folheá-los.
- Como foi a aula hoje, Amanda?!
- Normal! A professora de Literatura me pediu pra fazer um trabalho pra entregar no dia 20 de outubro, pra compensar as aulas que eu perdi essa semana. Você me ajuda?
- Claro! Sobre o quê?
- Pesquisa sobre Vinícius de Moraes. Biografia e um poema.
- Poxa! Vinícius! Eu adoro! Eu acho que a Branca também. Todo ano ela dá esse trabalho pro terceiro ano.
- Você fez? - ela chegou até a porta, enxugando as mãos num pano de prato.
- Fiz. Você não lembra? Eu coloquei aquele poema... Como é mesmo o nome?... “Soneto... do amor total”. É lindo. Sei até de cor. Ela me fez ler o trabalho para todos os terceiros do colégio e ainda levou com ela. Aquela espertinha.
- Declama pra mim? - ela pediu.
- Agora?
- É! Você disse que sabe de cor. É curtinho...
- Não está com fome?
- Vai aumentar meu apetite...
Ele sorriu e levantou-se, indo para perto dela. Passou os braços em volta dela e respirou fundo.
- Eu até dizia que esse poema foi feito pra mim. Deixa eu ver...
Ele olhou nos olhos dela e começou:
“Amo-te tanto, meu amor... não cante /
O humano coração com mais verdade /
Amo-te como amigo e como amante /
Numa sempre diversa realidade /
Amo-te afim, de um calmo amor prestante, /
Eu te amo além, presente na saudade. /
Amo-te, enfim, com grande liberdade /
Dentro da eternidade e a cada instante. /
Amo-te como um bicho, simplesmente, /
De um amor sem mistério e sem virtude /
Com um desejo maciço e permanente. /
E de te amar muito e amiúde /
É que um dia em teu corpo de repente /
Hei de morrer de amar mais do que pude.”
Quando terminou o poema, ele a beijou e os olhos de Amanda estavam molhados.
- É lindo!... Vou usar esse poema no meu trabalho.
Marco sorriu.
- A Branca vai se lembrar do meu trabalho que ela pegou no ano passado.
- Que é que tem? Vinícius é universal. Todo mundo pode gostar do mesmo poema.
- Ela vai pensar que você copiou de mim.
- Como, se ela levou o seu trabalho?
- Vai pensar que a gente mora junto e eu te contei...
Amanda sorriu, enxugando o rosto, e o beijou.
- Isso é uma suspeita infundada... ela brincou. - Vem jantar.
Ela entrou na cozinha novamente, puxando o marido pela mão.
Jantaram e depois arrumaram a cozinha, ela, lavando a louça, e ele, enxugando e guardando tudo. Quando terminaram, voltaram para a sala e Marco reparou na pasta branca, ao lado dos cadernos dela e a pegou.
- Que é isso? Nunca vi essa pasta com você.
Amanda olhou para ele e só então se lembrou da bendita pasta. Ficou receosa em contar, mas não podia mentir.
- É... a lição que eu perdi na semana passada.
- Toda?! Poxa! A Ângela fez cópia pra você? - ele disse, abrindo a pasta. – Eu te ajudo a copiar.
- Não, não foi a Ângela...
- Não? - ele perguntou lendo as folhas. – Quem foi então? A Débora?
- O Marcelo...
Marco olhou para ela e franziu a testa e olhou de novo para as folhas, passando os olhos por alguma delas.
- Ah, é? - perguntou, aparentemente calmo. – Gentil ele, não?
- Eu não pude recusar. Ele já veio com tudo pronto pra me entregar, Marco. Ficava chato eu dizer que não queria. Ele é um colega de classe...
Marco sentou-se no sofá e ficou calado. Continuou lendo as folhas e tentando combinar consigo mesmo que não faria nenhuma cena de ciúme.
- Se você quiser, eu devolvo amanhã, ela falou.
- Não, tudo bem. Você vai precisar mesmo. Não importa de quem venha. É só um monte de folhas.
- Sério?
- Sério.
Amanda sentou-se perto dele e beijou seu rosto.
- Te adoro!
- Mas não abusa, hein? Isso aqui significa que ele passou a semana inteira pensando em você e eu não tenho sangue de barata.
- Está certo. Vou lá pro quarto arrumar minha roupa pra manhã.
Marco continuou a ler algumas folhas e passou pela parte de Matemática. Quis matar a saudade, já que sempre gostou da disciplina.
"SONETO DO AMOR TOTAL”
PARTE III
DEUS ABENÇOE A TODOS
OBRIGADA!