15 - Para Onde Vai o Governo? - Filhos da Terra

Na redação, Elói passava maus momentos, por ter votado e defendido a eleição de Lula. Ao completar um ano de governo, a realidade econômica e social não davam sinais de melhoras. Ao contrário, a situação estava difícil: a saúde um caos; o desemprego aumentando; a violência crescendo; os ataques da mídia empresarial aumentando e os argumentos em defesa do governo, diminuindo. As pessoas perguntavam: afinal, para onde vai o governo? Elói era alvo de deboches de muitos colegas de redação, que acabavam revelando seus preconceitos e ódio contra o novo governo. E, claro, o governo dava munição aos opositores com declarações confusas e trapalhadas palacianas. Elói não cedia aos argumentos dos colegas, mas intimamente estava decepcionado. O governo aderira à política do capital financeiro; o Partido dos Trabalhadores transformara-se em um apêndice do governo, abrindo mão de sua autonomia, perdendo a capacidade crítica de suas características originais, de partido democrático, socialista e de massas. Não era mais um espaço de organização do povo brasileiro e o governo consolidava políticas conservadoras. A esperança de Ellói era de que os movimentos sociais saíssem do imobilismo, pois somente por meio deles poderia haver pressão sobre mudanças de rumo. Era um governo que estava em disputa, e o poder econômico, com o apoio da mídia empresarial, estava levando a melhor. Elói compreendia, que o poder de fato, estava em outras mãos, representando, simbólica e terrivelmente pelo FMI. O malabarismo continuava com Palocci.

- E aí, companheiro? - perguntou Manuela, com ironia -, Até quando vamos aguentar este governo chinfrim?

- Você deve estar se referindo ao governo do estado, esse sim, acabou com a liberdade de imprensa - respondeu irritado.

- Pelo menos não vejo ninguém reclamando dele, mas o governo federal, puxa!

- Manuela, o Lula não vai solucionar nada da noite para o dia. Enquanto o seu Aécio intimida jornalistas! Vai ver se eu estou lá na esquina - retrucou, encolerizado.

- As piadinhas o deixava estressado. A única resposta que conseguia formular era: - cuidado, o Lula pode conquistar um segundo mandato e calar a boca de vocês.

Embora não tivesse votado em Lula, Renato Barros era bom de prosa. Com ele, mantinha um diálogo de alto nível. Era também um fiel depositário das decepções e críticas de Elói.

- Renato, na verdade não estou nem um pouco satisfeito com os rumos, ou a falta de rumo do governo - dizia, bebendo seu uísque doze anos, na Cantina do Lucas -, minhas críticas são as concessões absurdas aos padrões econômicos e financeiros ao FMI e a obsessão com o equilíbrio das contas, inclusive, influenciando gastos. Entendem, que gastar com universidades públicas é favorecer as elites endinheiradas, como se fosse um desperdício. Isso é política neoliberal, continuísmo.

- Sim, concordo. Renato interrompe a conversa, para perguntar ao garçom sobre Seu Olímpio, o velho garçom comunista. - Então, Elói, concordo com você, além das dificuldades por conta das alianças. Você conhece a história do fisiologismo sedento de verbas, o baixo-clero, a corrupção. Essa turma não tem jeito, eles sempre se elegem e não importa quem está no executivo. Entra governo, sai governo, o PMDB está de plantão, para colaborar com a go-ver-na-bi-li-da-de! Já pensou? Sarney, Jader Barbalho, Newton. Sem falar em Paulo Maluf, Delfim... Mas voltando a questão da conciliação, no Brasil sempre foi assim. A história comprova que somos campeões de conciliação de classes e me parece que tem aprovação popular. Neste processo conciliatório, o Estado é instrumento da elite. Muitos defendem, que para melhorar as condições de vida da população é necessário fazer o país crescer, com base em taxas de no mínimo sete por cento ao ano durante décadas, para recuperar os anos de estagnação, etecétera e tal. No governo Fernando Henrique, bastou um leve crescimento, para os problemas de infraestrutura surgirem, houve apagão de energia elétrica. Que tipo de apagão poderá surgir no governo Lula eu não sei, uma vez que ele terá de tomar medidas em favor do crescimento, isto é, se antes não for deposto.

- Esse é o meu conflito - disse Elói olhando as horas -, a elite do dinheiro não engole o Lula, apesar de ele ser extremamente benevolente com ela, ficam o pé atrás, por causa de sua origem pobre, sindicalista. E claro, por sua inserção social. Nesse sentido eu o defendo, contra o preconceito de classe, mas quando o vejo aplicando o receituário neoliberal...

- Eu não descarto a possibilidade de um impeachment - interrompeu Renato -, porém não vejo uma conjuntura favorável. Mas aqui tudo é possível, se for para manter o privilégio de uns poucos. Acontece que saímos recentemente de uma ditadura militar, de um presidente afastado e o Lula teve uma votação expressiva. Torná-lo refém das políticas neoliberais, creio ser a opção preferencial da burguesia nacional e internacional. Assim não será necessário tirá-lo da presidência. O Fernando Henrique era o queridinho das elites, de repente o Lula aparece...

- É aí que entram os movimentos sociais, porque não é possível! As desigualdades sociais são enormes, há uma demanda e nós, queremos as tais mudanças, não podemos nos omitir - finalizou Elói, anunciando que precisava ir pra casa.

- Nós não, cara-pálida, vocês. Tô fora, você sabe do meu ceticismo com os políticos... Não tenho idade, nem tempo - retrucou Barros, rindo.

- Alienado, é isso que você é - respondeu Elói, retribuindo o sorriso.

- Não misture alhos com bugalhos. Se há governo, sou contra!

Despediram-se.

Próximo capítulo:

16 - Reviravolta

Rapidinho:

Filhos da Terra é uma novela dividida em vinte cinco capítulos. Narra a trajetória de Zenaide, uma ninfeta, que se envolve num mundo do sexo, droga e fúria. A história de uma garota da periferia; pobre, sensual, que sonha com o sucesso. Zenaide e sua família, num turbilhão de sentimentos. Um jornalista, como um anjo de guarda, surge em sua vida. Um amigo, um pai; um amor.

Capa: Berzé; Ilustrações do miolo: Eliana; editoração eletrônica: Fernando Estanislau; impressão: Editora O Lutador - 2009, primeira edição

Agradeço pela leitura e peço a quem encontrar algum erro de gramática ou digitação, por favor, me avise.

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#LulaLivre Doravante esta hashtag estará em minhas publicações enquanto não apresentarem as provas contra Lula