4 - O Segredo do Edileuza - Filhos da Terra

Edileuza não deixava de ir aos cultos da Igreja Nacional do Reino do Amor, nas terças, quintas, sábados e domingos. Com seu vestido cinza batendo no tornozelo, uma blusa cobrindo até a altura do pescoço, cabelos longos maltratados e com a cara fechada, saía com a bíblia debaixo do braço e o olhar fixo no chão, para que não pairasse nenhuma dúvida entre os vizinhos sobre a sua pureza. Pagava o dízimo em dia e era sempre elogiada pelo pastor, por sua conduta ilibada.

Por conta de sua dedicação, fora escolhida pelo pastor para estudar a bíblia com os superiores, com vistas a tornar-se uma pastora e poder levar a mensagem de Jesus aos pecadores. Em casa ninguém sabia, pois desistira de converter a família. Quando era cobrada pelo pastor, para se empenhar mais na conversão dos familiares, ela respondia que "em casa de ferreiro o espeto é de pau". "Não é por falta de esforço não - continuava - eles ainda não foram tocados, irmão, mas sangue de Jesus tem poder, aleluia!". "Aleluia, irmã", respondia o pastor.

Ao retornar à sua casa, depois do culto de uma terça-feira de verão em que lera e uma passagem do deuteronômio, caminhando na penumbra da rua, a jovem evangélica foi abordada por um rapaz. Edileuza apertou o passo, procurando afastar-se, porém foi imobilizada, tendo a boca tapada, com vigor: - Não grite e tudo acabará bem - ameaçou o estranho. Ela não esboçou nenhuma reação, apenas orava, pedindo proteção ao Senhor, enquanto o rapaz levantava seu longo vestido e alisava suas coxas e seios.

- Vou retirar a mão de sua boca, promete que não vai gritar? Perguntou o rapaz. Edileuza balançou a cabeça afirmativamente.

- Ótimo, assim é melhor, não quero machucá-la. Quero que se entregue, pois sou louco por você - disse o moço, excitado, subitamente beijando-a na boca.

Foi um beijo longo, com as mãos debaixo do vestido, percorrendo freneticamente o corpo de Edileuza, que amolecia. Empurrou-a contra o muro, levantou o vestido, deixando à mostra duas coxas rosadas, grossas e rígidas, em seguida desabotoou o sutiã e beijou sofregamente os seios, desferindo suaves mordidas nos mamilos. Edileuza permaneceu inerte. Apos longos loucos minutos, o rapaz pôs-se a chorar diante de uma mulher de sentimentos opostos, que não sabia se gritava por socorro ou se consolava o agressor. Ao perceber que era dona da situação, perguntou: - Quem é você e o que quer de mim? Mas não obteve resposta. O rapaz fugiu na penumbra. Edileuza levou a mão nas coxas molhadas de esperma e sentiu um arrepio. Ao chegar em casa foi direto para o seu quarto, em silêncio. Zenaide folheava uma revista de modas e assim continuou, sem prestar atenção na irmã, que se atirou na cama sem tirar a roupa, com a bíblia sobre o peito e o olhar perdido no teto de telha de amianto. Em seguida dormiu.

Ao ver a irmã dormindo, Zenaide retirou a bíblia delicadamente e a colocou sobre o criado. Percebeu que ela tinha o sono agitado, balançando a cabeça negativamente e dizendo "não, não, pare satanás, não me tente". Zenaide acordou-a carinhosamente, alisando com suavidade os cabelos da mana. Edileuza abriu os olhos, assustada, olhando a irmã, que dizia: - Você estava tendo um pesadelo, por isso te acordei. Minha irmãzinha, o que está acontecendo?

- Não está acontecendo nada - respondeu -, foi um pesadelo, obrigada.

- Como não? Você se debatia agitadíssima. Acho que anda rezando demais. Olha que pra tudo tem limite, devia mesmo arranjar um homem, fazer sexo e descarregar as energias armazenadas.

- Você é uma depravada - respondeu, agressiva.

- Aí é que você se engana - retrucou Zenaide.

- Anda por aí mostrando o rabo como uma puta - disse a beata, com o semblante carregado.

- Mostro sim, o rabo é meu. Quem não quer ver estrela, não olhe para o céu. Agora quer saber de uma coisa? Tenho quase quatorze anos e sei muito bem mais do mundo que você. Sei o que quero, ainda não transei. Faço o meu charme, jogo as tranças, sei seduzir os homens, mas farei sexo com quem eu quiser, na hora que eu quiser. Não estou preocupada com isso, por enquanto. Quero ganhar dinheiro, muito dinheiro e sair desse buraco. Estou me preparando, correndo atrás, pode ter certeza - disse Zenaide, com um olhar sonhador.

- Tudo bem, irmãzinha, mas primeiro você devia aceitar Jesus!

- Não me venha com este papo, Edi. Já aceitei Jesus, só que do meu jeito, tá legal? Vamos mudar de assunto, senão a gente acaba brigando - respondeu Zenaide, voltando a folhear a revista.

Edileuza tirou o vestido de costas pra irmã, com receios de que ela visse nódoas em suas coxas. Em seguida dirigiu-se ao banheiro. Enquanto a água caía em seu corpo, lembrava do beijo e das mãos do rapaz alisando seu corpo. Ficou excitada.

Próximo capítulo:

5 - Wallace Surpreende

Rapidinho:

Filhos da Terra é uma novela dividida em vinte cinco capítulos. Narra a trajetória de Zenaide, uma ninfeta, que se envolve num mundo do sexo, droga e fúria. A história de uma garota da periferia; pobre, sensual, que sonha com o sucesso. Zenaide e sua família, num turbilhão de sentimentos. Um jornalista, como um anjo de guarda, surge em sua vida. Um amigo, um pai; um amor.

Capa: Berzé; Ilustrações do miolo: Eliana; editoração eletrônica: Fernando Estanislau; impressão: Editora O Lutador - 2009, primeira edição

Agradeço pela leitura e peço a quem encontrar algum erro de gramática ou digitação, por favor, me avise.

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