AMANDA - UM ANEL NUM LAGO GELADO X - PARTE 7
VII – UM ANEL NUM LAGO GELADO
A voz de Teo estava embargada e ele se afastou de Marco para se recompor.
- Olha, chega disso. Quer dar umas voltas de bicicleta no bairro?
- Você não tem bicicleta, lembra? E nós dois na minha, sem chance, Marco falou, conseguiu sorrir.
- Eu vou até a pé do seu lado, mas vamos sair daqui.
Marco balançou a cabeça e continuou sorrindo com o jeito que o amigo tinha de ser espirituoso até quando estava triste.
- Taí, eu te fiz sorrir! Pra alguma coisa prestou eu vir até aqui. Eu sou o bobo da sua corte, Imperador.
- Não diz isso em voz alta na frente de ninguém da escola, pelo amor de Deus. Eu acabo com você, Marco brincou.
Teo ficou sério.
- Eu só não quero te ver sofrer assim. Eu sei que pra quem está de fora é fácil falar, mas... você tem a gente. Você tem seu pai, sua mãe e... por mais absurdo que possa ser, você ainda tem a Amanda.
- Não tenho mais. O pai dela...
- O pai dela é uma cara legal. Ele estava... nervoso, zangado, triste, desesperado quando disse aquele monte de coisa pra você, e eu dou razão pra ele porque eu imagino... ou nem imagino o que é estar na situação dele com a única filha numa cama de hospital entre a vida e a morte, mas... eu não acredito que ele tenha falado tudo aquilo de coração. Ele gosta de você e sabe que você não teve culpa de nada.
- Será que não tive mesmo?
- Para, Marco! Cala a boca, que saco! Se você repetir isso de novo, eu vou embora daqui e não volto mais.
Marco sentou-se na cama. Teo sentou-se a seu lado e continuou:
- Você só estava brigando pela garota que ama. E eu disse “ama”, não amava, porque ela está viva e vai voltar pra você. Você merece isso, tá legal? Vai erguer a cabeça e olhar pra frente pra esperar a princesa acordar?
Marco colocou as duas mãos no rosto, depois as colocou nas pernas esfregando-as, respirou fundo e respondeu:
- Vou tentar.
Teo sorriu e colocou o braço em volta de seus ombros, apertando-os.
- Esse é o meu garoto.
Alguém bateu na porta entreaberta e os dois olharam na direção dela. Era Aldo.
- Posso entrar?
- Claro. Oi, Aldo, disse Marco.
O rapaz entrou.
- Eu... estava na janela de casa e vi Teo entrar aqui e... vim te ver também. Como é que você está?
- Bem... Marco respondeu, com um sorriso triste.
- Ah, desculpa, cara, foi só força do hábito... Eu sei que você não está bem, desculpa.
- Está tudo bem, Aldo. Não esquenta.
- Se tem uma pessoa que não merece o que você está passando é você, Marco. Eu sabia desde o início que esse Otávio ia aprontar com alguém. Ele já tinha jeito de encrenca desde que eu coloquei o olho nele, quando ele entrou na nossa sala no primeiro dia de aula.
Marco não disse nada, apenas apoiou o rosto nas mãos e olhou para o chão.
- Um cara só é encrenca se você se mete com ele, Aldo, disse Teo. - Ele é um coitado, agora mais do que nunca.
- Ainda bem que eu não saí do Fusca... Marco falou ainda olhando para o chão, quase que para si mesmo.
- Por quê? - Teo perguntou.
- Se ele não tivesse tentado se matar... eu tinha matado ele.
Ele fechou as mãos com força e fechou os olhos, escondendo o rosto nelas.
- Não fala uma coisa dessas, cara, disse Aldo, abaixando-se diante do amigo e colocando a mão em seu joelho.
- Você já ouviu falar que a pessoa “emburrece” quando está sofrendo muito, disse Teo, com voz tranquila, falando com Aldo, mas olhando para Marco, balançando a cabeça com ar de repreensão. – Está acontecendo isso com ele. A gente tem que relevar.
- Marco, não fica assim. Não pensa nessas besteiras. Não te faz bem.
- Ele está é com fome, sugeriu Teo. – Vem tomar café e a gente podia dar uma volta. Está um domingo lindo lá fora.
- Você não está no meu estômago pra saber disso. Eu não estou com fome.
- Está sim. Está falando tanta besteira que só pode ser isso. E... você ia sair quando eu cheguei, não ia?
- Ia... Marco respondeu.
- Ia aonde?
Ele colocou as mãos no rosto.
- Não sei, ia andar um pouco.
- Do jeito que você estava ia andar na direção de um viaduto e se jogar dele, acertei?
- A ideia é boa... Marco respondeu, a sério.
- Marco! - exclamou Aldo. – Teo, para com isso. Não dá ideia! Você não está ajudando.
- Estou sim. Já que ele não ouve os conselhos certos que a gente dá, vamos fazer o que ele quer. Ele se mata e depois vem do além pra matar o Otávio, que tal?
Teo falava muito sério, olhando para o amigo como se o repreendesse. Marco olhou para ele e sorriu.
UM ANEL NUM LAGO GELADO
PARTE VII
OBRIGADA E BOA TARDE!
SONHAR AINDA É DE GRAÇA!