AMANDA - UM ANEL NUM LAGO GELADO X - PARTE 6
VI – UM ANEL NUM LAGO GELADO
Teo olhou para as mãos unidas sobre a mesa e pediu:
- Eu posso ir vê-lo?
- Claro, filho, concordou Laila. - Quem sabe com você ele se abre, desabafa, chora um pouco pelo menos. A gente não sabe mais o que fazer.
Teo se levantou e saiu da cozinha, seguindo na direção do corredor que dava para o quarto do amigo.
A porta estava entreaberta e Teo apenas bateu para anunciar a sua chegada:
- Pode-se entrar?
Ele não ouviu resposta. Empurrou a porta levemente e entrou. Marco estava sentado na escrivaninha, já trocado com uma calça preta e uma blusa de frio fechada de gola alta, preta também. Parecia pronto para sair. Ele olhava para o pequeno porta-retratos que havia ganhado de Amanda, no mês anterior.
- Oi, Teo falou, ainda em pé perto da porta.
Marco olhou para ele, respondendo sem emoção nenhuma:
- Oi.
- Vim ver como você estava. Fiz mal?
Marco deu de ombros e voltou a olhar para o porta-retratos.
- Você vai dar uma gelada em mim também como fez com seus pais? Eu vou embora, hein?
- Faz o que você quiser, Marco disse, sem olhar para ele.
Teo não reconheceu nele o amigo. Mas sabia que era o mínimo que podia esperar dele, depois de tudo que estava passando. Balançou a cabeça, se negando a aceitar aquela atitude.
Sentou-se na cama diante dele e agarrando a cadeira giratória em que Marco estava sentado a fez girar para que ele ficasse de frente para ele.
- Quer parar com isso!
- Parar com o quê? - ele perguntou em voz baixa.
- Com essa atitude derrotista. Não combina com você, Marco. Reage, caramba!
- Reagir a quê, Teo? - ele perguntou no mesmo tom de voz.
- Sei lá... Grita, chora, xinga o Otávio, pode me xingar também por estar aqui te enchendo o saco, mas faz alguma coisa!
Marco respirou fundo:
- A única pessoa que eu tenho vontade de xingar é a mim mesmo. Mas a minha raiva é tanta que não estou nem com vontade de falar comigo mesmo.
- Por quê? Você não fez nada.
- Não fiz? - Marco olhou para o rosto de Amanda no porta retratos. - É, não fiz mesmo. Eu não fiz nada do que devia fazer.
Marco se levantou com o porta-retratos na mão e andou pelo quarto indo até a janela e parando diante dela.
- Você me aconselhou... O Otávio me ameaçou... A doida da Lídia, do jeito torto dela, me avisou... - Ele deslizou o dedo pelo rosto da garota na foto. - ...até ela quis se afastar de mim... e eu insisti...
- Marco, você está sofrendo. As coisas ficam sem foco, quando a gente está sofrendo, nada faz sentido, parece que a gente tem culpa de tudo que aconteceu, mas não é bem assim...
- E tem outro culpado? - Marco perguntou ainda com a voz saindo num sussurro da garganta.
- Pode até ter, mas não é você!
- Eu não ia ouvir coisa diferente da sua boca, Marco disse com um sorriso, enquanto uma lágrima corria pelo canto do olho que ele secou antes de cair. – Você não veio até aqui pra me acusar de nada. Não é você que tem que fazer isso. É o pai dela, e ele já fez. Ele já decidiu. Mesmo que ela... – Marco fechou os olhos e colocou a mão sobre a boca, tentando evitar a frase que tinha na mente. -... não morra... ela já está morta pra mim...
Ele começou a chorar. Teo quis se aproximar dele, mas ele o impediu com um gesto das mãos.
- Não! Não chega perto. Eu não quero mais ser consolado, abraçado... Não faz isso.
Marco olhou de novo pela janela, se apoiou nela e apertou as mãos com força. Teo se aproximou mesmo contra a vontade dele e colocou a mão em seu ombro, apertando-o levemente.
- Isso vai passar, você vai ver, ele disse. – A Amanda está viva e vai sair dessa. Eu tenho fé nisso e você precisa ter também, Marco.
- A bala que o Otávio atirou em mim... devia ter me acertado.
- Não fala besteira, cara...
- Aí eu morria e... agora... não ia estar sentindo... essa dor... no meu peito. Eu devia ter morrido lá... e agora ela não estaria... morrendo naquele hospital.
Teo o fez virar-se para ele e o abraçou forte. Marco escondeu o rosto no ombro do amigo e chorou muito, extravasando a dor em soluços altos que fizeram as lágrimas virem aos olhos dele também.
- Isso. Chora, você está precisando disso. Chora, mas para de pensar besteira, por favor. Essas coisas que você está falando não têm nada a ver com você, Marco. É só esse acidente com a Amanda que está te deixando pra baixo e te empurrando em direção a um cara que você não é.
Marco se afastou dele, colocou as duas mãos no rosto e o enxugou.
- Eu queria dormir, dormir muito e... só acordar, se ela acordasse.
- Ela vai acordar, cara, disse Teo também enxugando o rosto. – Poxa vida, Deus não é tão sádico a ponto de tirar a Amanda de você assim, tão de repente e tão cedo.
- E se ela não for pra mim? E se isso estiver acontecendo justamente pra me avisar que estava tudo errado desde o começo?
- Marco, você ama essa garota e acho que... bem, eu não sou muito romântico e essas coisas mas, se há amor na parada, a coisa deve estar certa ou pelo menos indo pro lugar certo. Acho que está acontecendo tudo isso pra lá na frente vocês sentirem que tudo valeu a pena, até o sofrimento.
- Lá na frente? O que tem lá na frente, Teo... se ela está... morrendo?
- Ela não está morrendo, Marco! Ela está só desacordada porque o calhorda do Otávio entrou no meio do caminho de vocês e atropelou vocês dois. Mas até nisso ou até isso vai ser motivo pra vocês rirem no futuro. Ele não pode estar vencendo agora...
A voz de Teo estava embargada e ele se afastou de Marco para se recompor.
UM ANEL NUM LAGO GELADO
PARTE VI
OBRIGADA E BOM DIA!
SONHAR AINDA É DE GRAÇA!