AMANDA - UM ANEL NUM LAGO GELADO X - PARTE 4

IV – UM ANEL NUM LAGO GELADO

Laila providenciou o calmante que ele bebeu sem discutir.

- Quer que eu vá falar com o professor Rotemberg, amanhã, pra ele deixar você ver a Amanda?

- Não sei, mãe... Ele deve estar certo... Mas ninguém sabe o que eu passei naquele dia... Eu não sei o que deu errado... O Otávio não tinha intenção de machucar a Amanda. Ele também não previa o que aconteceu, eu tenho certeza! Eu dei a minha palavra pra ele de que... deixaria ela e ele falou que ia... Ele ia deixar... a Amanda em paz!

Ele começou a chorar e Laila colocou as mãos sobre as dele.

- Você não teve culpa.

- Eu não sei o que deu errado... Às vezes, eu penso se não teria sido melhor que eu tivesse terminado tudo quando ela pediu. Ela se preocupou tanto comigo, quis sempre evitar que eu me machucasse... estava disposta a se afastar de mim, por mim... E se eu tivesse concordado... se não tivesse sido tão egoísta...

- Filho, não é tão simples assim! Vocês se amam! Não foi egoísmo seu!

- Mas agora ela está naquele hospital, por minha culpa! Eu não posso tirar a razão do Rotemberg.

- Já te passou pela cabeça que aquele desvio de caminho possa ter sido proposital? Ela dirigia o carro. Quem provocou o acidente foi ela!

- Mãe!

- Você mesmo diz que, na sua concepção, o Otávio não quis machucá-la. Errado ou certo, talvez ele tivesse a intenção de levá-la para casa, certo?

- Onde é que você está querendo chegar?

- Você sempre diz que a Amanda dirige bem, não é?

- Muito bem. Ela é mais segura que eu no volante.

- Então... mesmo nervosa como estava, ela não perderia o controle do carro, concorda?

Marco não respondeu.

- A não ser que estivesse com outra intenção na cabeça.

- Mãe, você está querendo dizer que a Amanda... quis bater o carro naquele poste?

- Por sua causa, sim, mas não por sua culpa.

- Mas isso é... tentativa de suicídio!

- Por sua causa, Marco! Por amor! Pra ela, não interessava voltar pra casa sã e salva, se você tinha prometido terminar tudo com ela e, nervosa como estava, ela não pensou em mais nada, só em você!

Marco apoiou a cabeça nas mãos, pensativo.

- Isso pode ficar só entre nós dois, meu bem, se você quiser. Eu só não quero que você se martirize mais, colocando a culpa em si mesmo.

- Por que você chegou a essa conclusão?

Ela sorriu.

- Porque era o que eu faria, se estivesse no lugar dela.

Marco olhou a mãe nos olhos e sorriu também. Ela passou a mão no rosto dele e lhe enxugou uma lágrima.

- O remédio logo, logo faz efeito. Vamos dormir, meu anjo? - ela pediu.

No dia seguinte, Marco foi com a mãe ao hospital e pediu à enfermeira o número do quarto onde Amanda estava.

- Qual o nome do paciente?

- Amanda Rotemberg, ele respondeu.

Ela verificou no computador e respondeu:

- Quarto 115, no primeiro andar.

- Posso subir?

A enfermeira olhou bem para ele e respondeu, hesitante:

- Ela não recebe visitas ainda. Só familiares podem entrar e, no caso dela, como ela só tem o pai como família, só ele pode entrar. Você é o que dela?

- Namorado.

A moça foi conversar com outra enfermeira, trocaram algumas palavras e ela voltou.

- Ela só recebe visitas da família, mesmo.

- Moça, eu sei que a única família que ela tem em São Paulo é o pai. Eu só queria dar uma olhada de longe, pelo vidro da porta do quarto, que seja. Não preciso entrar. Só um minuto.

A moça respirou fundo, olhou novamente para a colega que deu de ombros e perguntou:

- Qual o seu nome?

- Marco Antônio Ramalho.

- Sinto muito, mas o pai dela deixou ordens expressas para não deixá-lo entrar. E eu posso me complicar, se fizer isso.

- Ele está aí?

- No quarto com ela.

Marco olhou para a mãe e disse:

- Espera aqui, mãe, eu vou até lá.

- Marco...

- Eu tenho esse direito! Eu vou falar com ele.

- Você não pode entrar, rapaz! - a enfermeira ordenou.

- Moça, não se assuste. Eu me responsabilizo pelo que eu vou fazer.

Ele tomou a direção do elevador e a enfermeira o chamou, aflita:

- Ei, garoto! Não faça isso, por favor! Segurança! Senhora, tire ele de lá!

- Desculpe, filha, mas ele vai resolver isso sozinho. Meu filho não quer fazer mal a ninguém. Ele só quer ver a namorada.

O quarto 115 ficava próximo do elevador e Marco não teve dificuldade para encontrá-lo. Chegou à porta e olhou pelo vidro. José estava sentado junto da filha, olhando para ela, muito abatido.

Dois seguranças vieram atrás de Marco e o seguraram pelo braço.

UM ANEL NUM LAGO GELADO

PARTE IV

OBRIGADA, SEMPRE, E BOM DIA!

SONHAR AINDA É DE GRAÇA