AMANDA - UM ANEL NUM LAGO GELADO X - PARTE 1
I – UM ANEL NUM LAGO GELADO
Amanda havia batido a cabeça com muita força no volante do carro e já chegou ao hospital em coma. Foi operada no mesmo momento e tinha corrido tudo bem, mas os médicos não conseguiam prever nem entender porque ela não acordava e quando ela acordaria.
José Rotemberg não quis falar com ninguém desde o acidente. Acompanhou o trabalho dos enfermeiros no resgate da garota e permaneceu em silêncio desde que subiu na ambulância com a filha. Quando soube da decisão médica, ele abraçou-se com Dalva e chorou em silêncio, junto com ela.
Por insistência de Marco, Antônio o levou ao hospital e ele recusou-se a ir embora até saber de alguma notícia. Não falava, mas Antônio sabia que por dentro o rapaz estava em choque por tudo que tinha passado.
- Filho, você não quer tomar uma injeção calmante?
Marco apenas balançava a cabeça, negando, apertando uma mão contra a outra, nervoso.
- Vai te fazer bem, cara, falou Teo, sentado ao seu lado.
- Não quero. Eu estou bem. Se eu tomar alguma coisa, eu vou desabar e não está na hora ainda. Eu preciso saber como ela está e falar com o professor, primeiro.
Depois de uma espera de mais ou menos duas horas, José apareceu no elevador do andar e Antônio foi falar com ele. Conversaram por alguns segundos e Marco viu de longe que ele começava a chorar enquanto falava. Antônio lhe dava apoio, batendo em seu ombro. Marco começou a chorar também e não conseguiu ficar ouvindo tudo de longe. Aproximou-se e quis falar com ele, e José, enxugando o rosto, olhou para ele, respirou fundo e disse:
- Ela foi operada e entrou em coma. Bateu a cabeça e quebrou um braço. Os médicos não sabem quando vai acordar... se vai acordar.
José respirou bem fundo e concluiu:
- E eu só te peço: fica longe da minha filha... Ouviu bem? Querendo ou não, a culpa disso tudo é sua. Fica longe da Amanda! Longe, entendeu?
Marco estava tão aturdido que chegou a dar razão a ele. Não conseguiu falar nada, deu as costas, saiu do hospital, indo para o carro do pai. Antônio saiu atrás dele com Teo.
Marco entrou no carro e chorou muito com as mãos cobrindo o rosto. Antônio e Teo entraram também no veículo e foram para casa.
Ao entrarem na sala da casa, mais calmo, Marco sentou-se no sofá e falou:
- Eu daria tudo pra alguém me dizer que esse dia não está acontecendo...
- Calma, filho! - disse Antônio. - Eu posso imaginar o que o José está passando. A gente tem que ter calma e paciência. E... Marco, o delegado quer falar com vocês dois, saber detalhes.
- Não queria falar com mais ninguém, hoje, pai.
- Foi o que eu disse a ele. O Freitas permitiu que você viesse pra casa, mas você vai ter que depor amanhã.
- Eu vou até a delegacia, hoje, e falo o que aconteceu, Marco, disse Teo. – Pelo menos o André e o Caio têm que ser pegos hoje mesmo.
Marco balançou a cabeça concordando. Teo bateu no ombro dele, despediu-se de Antônio.
- Obrigado, Teo, disse Antônio.
- Eu passo aqui amanhã, depois da aula. Tchau.
Depois do depoimento de Teo, André e Caio foram detidos, mas, apesar de confirmarem a história, negaram terem participação no sequestro de Amanda, alegando que tinham ido ao clube só para dar o recado de Otávio. Por serem menores, foram liberados, mas seus pais seriam convocados posteriormente a dar depoimento também.
No dia seguinte, Marco foi com o pai à delegacia para ser ouvido com os outros alunos do colégio que tinham visto Amanda entrar no carro do ex-namorado.
- Você acha que os dois amigos do Otávio, André e Caio, ajudaram a raptar a moça? - Freitas perguntou.
- Eu não acho nada, mas eles não estavam mesmo com ele, quando o Otávio levou a Amanda, porque eu os vi na sala de aula, mais ou menos no mesmo momento em que o pessoal falou que viu os dois saírem.
- Uma aluna, a... Lídia Albuquerque contou que não viu resistência da Amanda quando entrou no carro. Você acredita que ela foi de livre vontade?
- Só ela poderia dizer, mas pode ser... A Amanda não tinha mais nada com ele e também não concordava com o que ele fazia, mas eles foram namorados por muito tempo e ela... não hesitaria em dizer sim... se ele quisesse conversar numa boa. O que é estranho é isso ter acontecido em horário de aula. Ela ainda ia entrar no colégio. Tinha acabado de chegar... Ele pode ter dito alguma coisa pra enganá-la, sei lá...
- Pode tê-la ameaçado também.
- Pode ser... ele disse, passando a mão pela testa.
- Ela estava nervosa, quando você os encontrou?
- Muito. Estava muito assustada.
- A perícia encontrou uma bala no banco do carro. Ele chegou a atirar alguma vez, com você lá?
- Uma vez, mas me ameaçou de morte o tempo inteiro e a ela também...
- Você acredita que ele queria mesmo matar você?
Marco pensou, respirou fundo e respondeu:
- Não...
Antônio, que estava na sala, ouvindo o depoimento, franziu a testa, estranhando.
UM ANEL NUM LAGO GELADO
PARTE I
OBRIGADA E BOA TARDE!
SONHAR AINDA É DE GRAÇA!