MANDY -MUITO BOM PRA SER PRA SEMPRE VII-PARTE 12
XII – MUITO BOM PRA SER PRA SEMPRE
Marco deitou a bicicleta no chão e aproximou-se de Otávio. Ao vê-lo, o rapaz ficou surpreso, mas sorriu e procurou mostrar calma.
- Oi, coleguinha! Que surpresa vê-lo aqui. Está perdido ou foi transferido também?
- Eu quero conversar com você.
- Sou todo ouvidos, falou Otávio, encostando-se no carro e cruzando os braços.
- Não aqui, longe do colégio onde não apareça ninguém pra interromper.
Otávio notou que os olhos de Marco faiscavam de raiva, como nunca tinha visto, e olhou em volta apreensivo.
- Que lugar? Você escolhe, mas antes me diga: o que foi que aconteceu? A Amanda resolveu seguir meu conselho? É por isso que você está tão nervosinho?
- Eu não vim até aqui pra bater papo com você. Você não queria acabar comigo? Chegou a chance...
- Se ela te deixou, eu não quero mais nada com você, amigo. Isso é suicídio, sabia?
- Pois eu é que digo que, com ela, eu não queria nada com você. Sem ela, não vale a pena ficar inteiro, mas você também não vai ficar...
- Heroico, mas ainda coisa de doido. Eu não quero machucar você à toa...
Marco começou a tirar o blusão da escola, jogou-o longe e avançou nele, jogando-o no chão com um soco. Otávio sentiu a dor e colocou a mão no queixo, massageando-o.
- Ei, calma, cara! A gente pode conversar...
- Levanta! Eu não quero mais conversar! Vem, logo!
Marco partiu com vontade novamente para cima do rapaz que, apesar de agressivo nas palavras, não parecia corresponder nas ações.
Pessoas começaram a se juntar em torno dos dois, atraídas pela confusão que se formava e, como a maioria em volta eram adolescentes do colégio, ninguém parecia com muita vontade de apartar a briga. Estavam gostando do espetáculo à parte.
Otávio começou a reagir, quando percebeu que a coisa era realmente séria, mas Marco estava tão motivado pela raiva que não lhe deu chance e continuava por cima e acabou, minutos depois, por colocá-lo desmaiado com uma sequência de socos que ele só parou de desferir quando alguém, vendo que Otávio não reagia mais, o segurou e o separou dele.
A polícia já tinha sido chamada e não teve muito trabalho para deter Marco. Ele tinha ficado sentado na calçada, junto da bicicleta, com o rosto escondido nos braços cruzados sobre os joelhos. Otávio foi levado por uma ambulância para o hospital mais próximo, ainda desmaiado. Marco foi algemado e colocado na viatura. Foi levado para o Décimo Primeiro Distrito Policial, cujo delegado, felizmente, era amigo de Antônio e já conhecia Marco.
Freitas mandou chamar Antônio, logo que viu os documentos do rapaz. Marco, no entanto, não abriu a boca. Sentado diante da mesa do delegado, já sem as algemas que o próprio Freitas tinha pedido para tirar, ele continuava em silêncio.
- Já mandei chamar seu pai. Ele logo vai estar aqui. Não quer me dizer por que foi a briga, antes que ele chegue? Talvez eu possa explicar melhor do que você, nervoso como está...
- Ele sabe... Conhece a história toda... E ele nunca vai me dar razão, mesmo que eu tenha tido um motivo muito justo pra fazer o que fiz.
- E você não quer me dizer qual é esse motivo justo? O cara saiu de lá desacordado!
- As razões da gente nem sempre são as razões dos outros, ele falou, passando a mão na testa que sangrava no antigo corte.
- Ele saiu muito machucado de lá... Você é bom de soco, hein? - Freitas perguntou, sorrindo.
- Sem piadas, doutor Freitas. Não é engraçado.
- Eu só quero que você relaxe e me explique o que foi que houve. Eu te conheço desde garotinho e conheço o seu pai e isso pra mim é novidade. O cara deve ter te feito alguma coisa muito grave, não?
Marco baixou os olhos e ficou olhando para as mãos sujas, mas não respondeu.
Freitas encostou-se na cadeira e viu que não ia arrancar nenhuma palavra de sua boca.
- Levo ele pra cela, doutor? - perguntou o policial, parado ali perto.
- Não, o pai dele trabalha aqui na Adolpho Pinheiro, já deve estar chegando. Esse não é do ramo... e nem eu quero que se acostume. O pai dele é gente fina e muito meu amigo.
Freitas abriu a primeira gaveta de sua mesa e retirou de lá um lenço de papel que entregou a ele.
- Coloca na testa. Vai estancar esse sangramento por enquanto. Infelizmente estamos sem gaze e enfermeiros. Somos uma delegacia pobre.
O delegado falou em tom de troça, tentando ainda tirar o rapaz de seu nervosismo, mas não teve sorte. Marco apenas pegou o lenço e o colocou na testa.
- Obrigado...
Logo que entrou na sala do delegado, minutos depois, Antônio olhou para o filho e seu olhar era mais de tristeza do que de raiva.
- Como vai, Freitas? - disse ele, apertando a mão do amigo. – Obrigado por me chamar. O que foi que houve?
- Briga. Ele e outro rapaz de nome... Otávio França, se engalfinharam na frente do Colégio Paralelo aqui da Interlagos, onde o outro estudava e seu filho botou o coitado a nocaute. O rapaz foi pro hospital inconsciente, mas fica bom logo. O orgulho é que eu não sei se tem mais cura. Só que eu não consegui saber o motivo da briga.
Antônio olhou para o filho sem saber se sentia mais raiva ou orgulho por Marco ter reagido ao que estava guardado dentro dele há muito tempo.
- O que você foi fazer em Interlagos, Marco?
- Ver se conseguia um autógrafo do Ayrton Senna...
- Marco!
- O que você acha que eu fui fazer lá, pai? - ele perguntou, encarando o pai.
- Não me responda assim, seu moleque!
- Calma, calma, Antônio! - interveio o delegado. – Ele está nervoso. Vai ver foi só uma briguinha à toa. Faz bem pro ego, de vez em quando. Leva ele pra casa, deixe-o esfriar a cabeça e aí vocês podem conversar melhor. Isso passa.
- Vai pro carro, Antônio mandou.
Marco levantou e passou por ele, saindo.
- Obrigado por não ter colocado ele na cela, Freitas.
- Eu conheço seu garoto desde molequinho. Ele não combina com a minha tribo, lá dentro. Só me faça um favor, Antônio, avise a ele que... da segunda ele não escapa.
- Não vai haver segunda, se eu puder evitar.
MUITO BOM PRA SER PRA SEMPRE
PARTE XII
BOA TARDE!
PAZ, BÊNÇÃOS E LUZ PARA TODOS