DOIS NOMES COM DUAS SAUDADES
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XXI e último capítulo do romance
"Os Percalços de uma Conquista"


N.A.: Este é o último capítulo do romance que pode ser acompanhado a partir do primeiro aqui no Recanto das Letras e também através do meu blog (www..blogolavonascimento.blogspot.com.br)
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Aquele final de ano era para ser esquecido pelos principais personagens desta história. A época de confraternização e otimismo proporcionada pelas festas natalinas e esperanças renovadas com a virada do ano, não chegou e nem passou com satisfação para aqueles três. Enquanto Osmar, completamente chateado e arrependido pelos últimos acontecimentos, se isolou com a sua família em Cabo Frio sem deixar meios de ser contatado, as duas raparigas, desanimadas e infelizes, também não tiveram motivos para curtir os agitos que o momento lhes oferecia.

Gleice até tentou uma nova aproximação com o rapaz no início daquela semana de Papai Noel, mas como seus telefonemas indicaram que Osmar estava em descanso remunerado pela empresa até o fim da primeira semana do novo ano, resolveu fazer as malas e passar o resto de suas férias com primos e tios na região serrana de Nova Friburgo. Ela era uma mulher acostumada a viver e morar sozinha, mas entendeu que a presença de parentes e amigos naquelas horas festivas, poderia desviar seus angustiantes pensamentos e lhe proporcionar momentos agradáveis em sua vida amorosa tão complicada.

Por outro lado, Leny viveu situações muito mais tristes e preocupantes ao ser surpreendida, na véspera de Natal, com os problemas de saúde do seu pai. João, talvez emocionado com a presença dos três filhos que sempre se reuniam em sua casa nos finais de cada ano, não resistiu a pressão em suas coronárias e precisou ser internado às pressas. Aquela noite de comemorações e troca de presentes na maioria dos lares, passou a ser, a partir daquelas horas para a garota e familiares, tempo de vigília em hospital e orações para a recuperação do seu pai. João tinha sofrido um enfarte do miocárdio e, segundo os médicos, deveria ser submetido a uma cirurgia com urgência A menina ganhou dispensa do trabalho para acompanhar e ficar perto do seu genitor durante toda a sua internação que, infelizmente, foi interrompida no terceiro dia de janeiro daquele ano, com o óbito declarado daquele chefe de família tão presente em suas vidas.

O passamento de João foi o pior evento que aquela família poderia receber naquele início de 1978. A esperança de entrar em outro ano com os ânimos renovados caiu por terra e o momento tão tradicional de festas teve que ser trocado pela solidariedade de parentes e amigos que sempre aparecem nessas horas de perdas e tristezas. A morte de João, além de deixar um vácuo na vida de Valdívia, sua inconsolável e inseparável companheira de longos anos, deixou evidente o remorso da sua filha que passou a se culpar pelo agravamento na saúde do seu ente querido. Ela, naqueles instantes de choros e arrependimentos, se lamentava e reconhecia que o seu pai levou para o túmulo toda a decepção causada pelo seu envolvimento com Osmar. João nunca a perdoou pela inconsequência de ter se engravidado de um homem casado, completamente fora dos padrões tradicionais desejados por ele para o casamento da sua querida menina.

Aquele triste acontecimento, como não poderia deixar de ser, provocou uma série de manifestações e mudanças na vida daquela família. Logo após o sepultamento, o filho mais velho de Valdívia, Henrique, tomou as rédeas da situação e, com a anuência da mãe, trouxe pra si a responsabilidade de agir e cuidar de tudo que fosse possível para protegê-los. No primeiro momento, o primogênito mudou-se temporariamente com a mulher e filhas para a casa da mãe e irmãos e, na base da conversa e entendimentos com eles, começou a colocar a casa em ordem como todo bom chefe de família.


Valdívia passou a receber o carinho especial dos filhos que, apesar de tudo, sentiu-se protegida e confortada com tanta atenção à sua volta. Mas ela não conseguia se esquecer de fato tão recente e suas lágrimas precisariam ainda de um bom tempo para serem enxugadas junto com a saudade eterna do marido. O tempo foi passando e Valdívia continuava inconformada e tristonha com a morte de João, até chegar à conclusão que precisava sair daquela casa que tanto desfrutou com ele. Aquela mesma casa que passaram a viver juntos e felizes desde o seu casamento há mais de trinta anos, mas que agora passou a ser apenas o ponto de lembrança de uma alma presente em cada canto e espaço de suas paredes. E Henrique resolveu agir rápido, por sentir que a sua mãe começou a ter alguns problemas de saúde com uma repentina depressão que lhe deixava sem vontade de fazer nada. Vivia pelos cantos curtindo a sua tristeza, pouco se alimentava e mostrava-se desinteressada pelo que ocorria à sua volta. Pouco conversava com os filhos, não se distraía com as peraltices das netas e se recolhia cedo para o seu quarto.

Por outro lado, Leny, logo após o tempo permitido para o seu afastamento do trabalho pelo luto do seu pai, achou por bem emendar aquela ausência com a sua licença-maternidade, cujo parto estava previsto para a terceira semana de fevereiro. A gestante não viu melhor solução para evitar o constrangimento de se encontrar com Gleice no trabalho e, também, para ter um tempo maior para pensar e refazer a sua vida, principalmente com relação a Osmar. O rapaz, após o falecimento de João, passou a ser considerado pela família da garota, "persona non grata" naquela casa. Tanto sua mãe Valdívia, como seus irmãos Henrique e Carlos, culparam aquele relacionamento de Leny como a causa principal dos problemas de saúde do seu pai. O velho João nunca engoliu aquela gravidez da filha fora de hora e sempre demonstrou o seu descontentamento com o desvio da moça.

Era
esse o panorama que passou a fazer parte daquela triste casa, que foi revirada pelo avesso por conta da ausência definitiva de João. A falta que ele passou a fazer para todos, demonstrou como era importante a sua presença como chefe daquela família. Henrique precisava juntar os cacos e tentar harmonizar as coisas com mudanças e providências. A oficina de João repassada para o seu irmão Carlos, que já vinha ajudando e substituindo o pai há algum tempo. Carlos sempre se interessou pelo ofício de João e gostava de acompanhar e aprender os truques que o pai lhe ensinava para moldar e ter um bom ganho com as peças criadas através da serralheria.

Leny foi aconselhada por Henrique e sua cunhada, a se afastar definitivamente de Osmar para não magoar ainda mais a sua mãe, que não suportaria aquela convivência. Valdívia, apesar da sua desolação, nunca responsabilizou a filha pela morte do pai, mas a sua rejeição por Osmar foi prontamente demonstrada em conversas com parentes, amigos e seus dois filhos. Valdívia afastou-se completamente de tudo que lembrasse a figura de Osmar, pediu pra não mencionar o seu nome perto dela e destruiu tudo que pudesse representá-lo, como por exemplo, o cartão-de-visitas que ele havia deixado com João na última visita.

A casa foi colocada à venda e passada ao novo proprietário em quarenta dias. Inicialmente, Henrique acolheu a mãe e seus irmãos em sua espaçosa casa em Jacarepaguá, no bairro da Taquara (zona oeste da cidade), até que eles se mudassem para outro imóvel que seria adquirido com os recursos da venda do bem anterior. E foi por conta dessas mudanças radicais e repentinas, que Leny e sua família saíram do mapa praticamente sem deixar rastros. Com exceção de parentes e amigos bem chegados, o novo endereço da família não foi passada pra mais ninguém.

Enquanto isso, ainda nos primeiros dias de janeiro, Gleice foi surpreendida com a ausência de Leny no trabalho por conta do falecimento do seu pai. A moça sentiu-se pesarosa da garota e até pensou em confortá-la, mas evitou qualquer tipo de contato ou aproximação com receio da sua reação. Tanto é que Gleice foi escalada para representar o departamento na missa de sétimo dia e declinou dando desculpas sem
convencimentos. Gleice ainda tentou avisar Osmar no mesmo dia do desenlace de João, mas o rapaz continuava incomunicável em suas férias coletivas que iria até o final da primeira semana daquele novo ano. Quando Gleice conseguiu se comunicar com ele, Osmar já havia retornado para Minas Gerais e a missa já tinha sido realizada.

A notícia, além de pegar o rapaz de surpresa, trouxe-lhe remorsos pelos problemas familiares causados na vida de Leny. Ele nunca imaginou que o seu envolvimento com a garota fosse balançar os alicerces de uma família e abalar a saúde de seu pai. Passou por sua cabeça então, o roteiro de um filme protagonizado pela garota desde a sua conquista, passando por cenas que o amor complicou até o fim do relacionamento. Osmar ainda tinha grande apreço pela menina e guardava em seu coração o grande amor que ela cravou em seu peito. Era algo inesquecível que, apesar de não querer admitir, continuava vagando em sua mente e alimentando seus sonhos infindáveis com imagem tão querida. E foi por conta desse desconforto, que Osmar decidiu procurá-la tão logo retornasse ao Rio de Janeiro, quando viesse acompanhar Yolanda no nascimento da criança. E isso veio a calhar exatamente na mesma época do parto de Leny e da mudança de endereço da moça às portas do carnaval daquele início de fevereiro.


E foi com a cidade repleta de foliões naquele carnaval quente do verão carioca, que Osmar ignorando a alegria e descontração das ruas, bateu às portas da casa de Leny. Quem veio lhe atender no portão foi Fátima, esposa de Henrique e cunhada de Leny que não conhecia o rapaz: -- Boa tarde rapaz o que você deseja?

- Preciso conversar com a Leny, Ela está?
Devolveu Osmar com surpresa, por também não conhecer a moça.

- Está sim. Como devo anunciá-lo?

- Osmar. O meu nome é Osmar. Avise-a que estou à sua espera. Ou posso entrar?

- Não! Por favor, aguarde um instante.
Solicitou a cunhada com nervosismo ao lembrar-se do nome tão comentado nos últimos dias.

A moça adentrou a casa às pressas e quem retornou ao portão, alguns minutos após foi Henrique, que não perdeu tempo com a visita indesejável: -- Ainda não fomos apresentados, mas sou o irmão mais velho de Leny. De você já ouvi falar muito nesta casa e nunca concordei com a situação de vocês dois.

- De qualquer maneira, quero dizer que entendo suas palavras e que é um prazer conhecê-lo. Estava em Minas Gerais e soube no outro dia do que aconteceu com o seu pai.
Respondeu Osmar indicando o motivo da sua visita.

- Não tenho nenhum prazer em conhecê-lo e quero lhe dizer que você não é bem-vindo aqui. Indignou-se Henrique.

- Entendo toda a sua revolta meu caro, mas eu preciso ouvir isso de Leny. Ou você desconhece que eu sou o pai da criança que ela está esperando? Rebateu Osmar cheio de decisão.

- Não desconheço, mas você talvez desconheça a causa principal dos problemas de saúde do meu pai. Devolveu Henrique jogando dúvidas no ar.

- Não estou entendendo, mas insisto em conversar com a Leny e, se possível, com a sua mãe Valdívia. Reiterou Osmar.

- Nenhuma das duas vai recebê-lo. A minha mãe ainda está muito desolada e até proibiu o seu nome nesta casa. A minha irmã está muito arrependida por tudo e falou pra mim há pouco que não quer vê-lo. Portanto, vá embora e não volte mais. Determinou Henrique, colocando palavras em sua boca que não eram de Leny.

Logo depois de Osmar ter virado as costas e ter saído batendo os pés sem se despedir de Henrique, o irmão encontrou Leny aos prantos ao retornar à casa. A menina era um turbilhão de sentimentos e suas lágrimas nada mais eram do que a tristeza, o desconforto e a insegurança pelo seu futuro. Apesar de tudo, estava muito claro para ela, que Osmar entrou em sua vida como uma avalanche e que estava muito difícil esquecê-lo. E ela, ao não agir contra a postura do irmão naquele momento, lembrou de outras ocasiões em que seus desejos foram frustrados por conta da obediência que sempre teve para seus pais. A vontade de correr e se jogar nos braços do amado naquela hora, foi abortada mais uma vez por alguém que frustrou o seu desejo. A falta de Osmar perto de si aumentava dia a dia o universo da saudade que ela amargava silenciosamente em seu peito. A presença dele procurando-a em momento tão amargurado, fez renascer suas esperanças de uma vida em comum. Ela tinha certeza que Osmar também a amava e suas atitudes sempre comprovaram isso. Ele não se escondia dos problemas, enfrentava situações pouco receptivas como a daquele momento com Henrique e nunca a abandonou à sua sorte. E esse redemoinho de ideias e planos para a sua vida junto àquele amor, começou a ganhar corpo naqueles instantes de saudades e falta de perspectivas. Mas ela teria solução para tamanho problema com um homem bem casado como Osmar? Ou será que ele teria uma saída para esse impasse?

Por outro lado, Osmar bastante indignado e impedido de ver a sua amada após longo tempo, resolveu reagir. Ele também sentia falta da garota, da sua voz, do seu sorriso cativante, do seu negro olhar brilhante e dos seus beijos calorosos. Sentia-se pesaroso também por toda tristeza que a sua adorável menina estava passando. Logo, não poderia abandoná-la de jeito nenhum, mesmo que para isso pudesse lutar contra tudo e contra todos.


Os dias se passaram e logo após o carnaval daquele início de fevereiro, Osmar foi pai duas vezes. Yolanda deu a luz à outra menina no dia nove de fevereiro, uma quinta-feira logo após as cinzas. Menina linda e saudável que trouxe mais uma mulher para a vida do rapaz, mas que lhe causou espanto quando a esposa escolheu o nome da filha. Era acerto e combinado entre eles desde o casamento, que os nomes de filhos homens seriam escolhidos pelo pai e os das meninas pela mãe. E foi obedecendo a esse acordo, que Yolanda no dia seguinte ao parto determinou ao marido: - Pronto querido. Está tudo bem comigo e a criança. Aqui está a declaração da maternidade. Vá até o cartório e providencie a certidão de nascimento. O nome dela será LENY! Ouviu bem? Será LENY!

- Mas por que Leny, meu amor? Assustou-se de pronto o marido.

- Porque eu quero acompanhar as mesmas letras das outras irmãs Lídia e Luísa. E também porque eu sou fã e gosto muito do nome da cantora Leny Andrade. Por que o susto meu amor? Não gostou do nome? Devolveu Yolanda sem entender a surpresa do marido.

- Nada disso querida. Nunca questionei os nomes escolhidos por você para as nossas filhas e não vai ser agora que vou ser contra. Apenas queria saber o motivo e você acabou de explicá-lo muito bem. Não é de hoje que eu sei da sua idolatria pela cantora. Nome ótimo e bem escolhido. Está resolvido. Respondeu Osmar ainda ressabiado com tamanha coincidência ao nome da sua amante.

No início da semana seguinte, Osmar recebeu a ligação de alguém que não perdeu tempo logo que ele atendeu o telefonema: - Osmar, você não me conhece. Meu nome é Ana Clara e sou colega da Leny na faculdade. Ela pediu para avisá-lo do nascimento do seu filho e está querendo a sua presença.

E foi assim, naquele dia 14 de fevereiro, uma terça-feira, que Osmar selou de vez o seu compromisso com Leny. Não foi fácil chegar até ela, mas com bastante decisão enfrentou as resistências de irmãos e parentes e adentrou à enfermaria daquela maternidade estadual no bairro de São Cristóvão. Leny, com lágrimas nos olhos e sorrisos nos lábios, recebeu com satisfação os afagos do amado em seus cabelos e quando ele se aproximou para beijar o seu rosto, ela aproveitou para sussurrar em seus ouvidos: - Aqui está o seu filho meu amor, pegue-o no colo e nunca nos abandone. Nós vamos precisar muito de você.

Ela estava feliz com as graças recebidas, por estar agora ao lado de Osmar e por ter conseguido realizar o sonho de toda mulher de ser mãe. Mãe de um filho gerado pelo grande amor da sua vida. E ela não perdeu tempo para sacramentar aquela paternidade, quando determinou ao amante sem perda de tempo: - Agora meu amor, que você mostrou todo seu encantamento pelo nosso filho, eu preciso que vá agora até o primeiro cartório que encontrar pela frente e REGISTRE O MENINO COM O NOME DO PAI. Eu quero que ele passe a se chamar OSMAR, para nunca mais me esquecer de você.

E assim foi feito. De repente, tanto Leny como Osmar, deixaram marcados para suas vidas as saudades que poderiam vir no futuro. Mas algumas situações acionaram e transformaram suas existências, ao longo dos cinco anos após aquele carnaval cheio de novidades. E cada personagem teve traçado o seu destino, como veremos a seguir:

LENY: Logo após o parto de Osmarzinho, a moça acompanhou a família na mudança para outro endereço. Henrique não quis se separar da mãe e resolveu acolher seus parentes por tempo indeterminado em sua casa na zona oeste. A chegada do novo neto trouxe outros ânimos para a avó, apesar dela não concordar com o nome da criança que lhe trazia tristes recordações. O zelo e os cuidados com o neto foi recuperando Valdívia da sua depressão que, ao se distrair e se preocupar com a criança, foi amenizando suas saudades pouco a pouco, ajudada cada vez mais com o passar do tempo. Os anos foram passando e Valdívia, cada vez mais agarrada com o menino, tomou para si toda a responsabilidade em seus cuidados, a ponto da criança passar a lhe chamar de mãe. Leny ficou incomodada e passou a ter ciúmes, mas entendeu que não existiria pessoa melhor para cuidar da criança do que a sua mãe. Tanto é que Valdívia não cansou de reagir contra a ideia de Leny ir morar com Osmar e levar a criança como ele estava cansado de propor.

Com relação ao seu emprego, três meses após o parto a rapariga retornou ao trabalho e evitou a aproximação de Gleice. A sua mágoa com a colega era muito grande e o constrangimento entre as duas causou surpresa entre os colegas que sempre admiraram aquela amizade. As duas trabalhavam na secretaria e era difícil desviar olhares por suas mesas ficarem frente à frente. A garota não suportou aquele primeiro dia do seu retorno e, alegando o seu novo endereço, pediu transferência para outra unidade da empresa mais perto da sua casa. Assim, seis meses após o nascimento do filho e por causa da desavença que feriu os corações das duas colegas, Leny deixou pra trás recordações boas e más daquele ambiente no primeiro emprego.

Seus encontros com Osmar retornaram sem Valdívia recebê-lo em casa, apesar do rapaz não deixar de ver, acompanhar e assumir o seu sustento. Leny voltou a ser a garota fogosa e louca por sexo que Osmar tanto gostava e, para não perdê-lo outra vez, evitava cobranças que complicasse a relação do rapaz com a sua mulher. Ela resolveu viver uma vida à parte com o amado e passou isso para a sua família que, mesmo não tendo a anuência do seu irmão Henrique, achou por bem não contrariar a moça que poderia separar a criança da avó. Assim, toda vez que Osmar batia em sua porta, mesmo sem entrar, a rapariga colocava a criança em seus braços quando ele a procurava.

Assim correu a vida de Leny durante os três primeiros anos de idade de Osmarzinho quando, depois desse tempo, tudo mudou para ela por força de outros fatores na vida profissional de Osmar, como veremos a seguir.


OSMAR: Não temos nem como imaginar como ficou a cabeça e a vida deste personagem a partir daquele inesquecível fevereiro carnavalesco de 1978. O rapaz não caiu na folia como sempre, mas os dois nascimentos bagunçaram o seu coreto como diz no bom sentido a expressão popular. Além de não deixar a peteca cair em sua casa com o nascimento da nova Leny em sua vida, tinha que ficar de olhos bem abertos para não se afastar da outra Leny com outro Osmar nos braços.

Depois de seis meses após a chegada da filha Leny, Osmar teve que se mudar e se estabelecer com a família em Timóteo-MG, em virtude da sua promoção para Diretor Comercial que exigiu a sua presença na matriz definitivamente e visitas constantes ao escritório no Rio de Janeiro. Com isso e sempre que estava na cidade a trabalho, Osmar aproveitava para procurar Leny e o filho. Eram as oportunidades espaçadas que o rapaz tinha para suprir as necessidades da criança, além, é claro, de aproveitar para reviver os momentos aconchegantes de entregas com a sua adorável amada. Geralmente a moça passava a noite com o rapaz, o que deixava a mãe Valdívia e os irmãos bastante irritados com a situação. As reclamações eram constantes contra a dependência de Leny, que ainda deixava se envolver por um homem sem condições de assumir uma vida em comum. Mas, Leny, intimamente e com os seus botões, sentia-se sim incomodada com aquela situação de segundo escape de Osmar, que continuava dando sinais de manter seu casamento. E isso pesou bastante em suas escolhas após o terceiro aniversário de seu filho, quando Osmar teve que se afastar do país por conta de mudanças na sua vida profissional.


Foi a partir daquela época que Osmar, sempre procurando se valorizar e alavancar sua carreira, não pensou duas vezes em se aventurar em outro desafio. Depois de participar de um concurso externo, o rapaz foi aprovado e designado para assessorar o escritório avançado de uma multinacional do ramo de petróleo em Londres, Inglaterra. Ainda só e no primeiro semestre de 1981, Osmar mudou-se para a cidade londrina, mas, dois meses depois, mandou buscar a mulher e filhas que vieram acompanhadas da sogra, atendendo pedido de Yolanda que precisava de companhia e não quis separar a mãe das suas netas.

Para Leny, foi o pior impacto que poderia acontecer. De repente acabou tudo. Seu amor se mandou pra bem longe e com ele foram suas esperanças de aconchegos, participação, carinho e cuidados com o seu filho. Apesar de Osmar ter deixado tudo acertado com Leny com relação às despesas com a criança, o tempo foi passando e a saudade diminuindo. Leny, apesar de abalada, não esmoreceu. Continuava trabalhando na mesma empresa em Jacarepaguá e cursando a faculdade de psicologia em seu penúltimo ano. A falta de notícias de Osmar por algum tempo, levou a moça pra outros caminhos. Ela era uma mulher jovem cheia de desejos e a carência por sexo, provocou alguns envolvimentos rápidos e sem compromissos com outros rapazes, geralmente após algum evento animado com música, dança e bebidas. Eram aconchegos passageiros que no dia seguinte deixava a moça arrependida por ter saído do ponto após alguns goles inebriantes a mais. Essas saídas não eram constantes, mas tem sempre alguém que chega mais perto, que acrescenta algo mais ou que toca no ponto certo do coração. E isso foi o que aconteceu, ao permitir que Luís Antônio, um de seus colegas na faculdade, se aproximasse com mais constância em sua vida.


O rapaz estava solteiro, tinha uma paixão recolhida pela colega e resolveu investir naquele sonho. Ele também vinha de alguns relacionamentos fracassados e conseguiu conquistar a moça com a decisão de se casar com ela e levar Osmarzinho junto. Assumiu a criança e isso foi a sua cartada final.

Quando Osmar retornou em férias com a família dois anos depois, ele procurou a moça e não a encontrou. Leny já havia se unido a Luís Antônio e estava morando com ele em Ipanema, zona nobre da cidade, junto com Valdívia que não quis se separar do neto. Apesar de o marido ter posses e desejar que ela abandonasse o emprego, Leny não concordou e continuou na sua rotina de trabalho e faculdade. Ela era uma menina que tinha sonhos e não podia jogar alguns anos de faculdade para o alto, por causa de um homem e da incerteza no futuro.

Mas, mesmo com todos os imprevistos em suas vidas, Leny e Osmar não deixaram de se encontrar neste pequeno mundo. Aproveitando as férias na cidade e aproveitando o bom tempo de um final de semana, Osmar foi bater com a família em um Play Center de shopping na Barra da Tijuca. Deixou a mulher com as crianças e quando voltou para buscá-la, quase morreu de susto. Sua mulher, sem desviar seus olhos das crianças que corriam de um lado pra outro por fora do parquinho, estava conversando no banco da pracinha, exatamente com Leny e Luís Antônio que acompanhava a moça. Osmar chegou meio ressabiado e Leny desviou o seu olhar por instantes, quando Yolanda quebrou o gelo:
- Osmar veja que coincidência. A moça aqui que acabei de conhecer com o seu marido, é mãe daquele menininho ali brincando com as nossas crianças e sabe qual é o nome dele? Osmar! Exatamente o seu nome. E concluiu dirigindo-se ao casal a seu lado: - Desculpa-me gente, mas esse aqui é o meu marido Osmar. 

- Mas o que tem isso querida? Osmar é um nome muito comum.
Justificou-se o rapaz.

- Acredito que sim e gosto muito desse nome. Mas o que não é comum é encontrarmos no mesmo instante esta moça com o mesmo nome da nossa filhinha Leny. Aí você tem que concordar que a coincidência é muito grande, não é mesmo? Tentou esclarecer Yolanda.

Tanto Osmar e Leny não sabiam onde enfiar a cabeça. A saia justa deixou os dois incomodados diante de duas pessoas que ainda não conheciam, mas que faziam parte do outro lado de cada um. Os dois irmãozinhos por parte de pai brincavam à solta e parecia que aquela afinidade já vinha de algum tempo atrás. Osmar e Leny se evitaram timidamente e, tanto ele como ela, se despediram e saíram rapidamente com desculpas que Yolanda e Luís Antônio não entenderam. Foram questionados pelos cônjuges, mas conseguiram sair pela tangente sem qualquer explicação plausível.


E assim, termina esta história que deixou para sempre no coração dos protagonistas, as saudades de um grande amor que nunca será esquecido, enquanto Leny estiver ao lado de Osmarzinho e Osmar paparicando a Lenynha.


MAS A VIDA CONTINUOU E O CASO PODERIA SE EXTENDER. MAS AÍ SERIA OUTRA HISTÓRIA OU VIRARIA NOVELA COM NÚMERO DE CAPÍTULOS INTERMINÁVEIS.

F I M
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POETA OLAVO
Enviado por POETA OLAVO em 01/09/2018
Reeditado em 12/09/2018
Código do texto: T6436469
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