MANDY - UMA GATA CHAMADA AMANDA I - PARTE 5
V – UMA GATA CHAMADA AMANDA
Pelo resto da semana, Marco só viu Amanda no intervalo das aulas e ela estava sempre acompanhada do grudento namorado que, com o tempo, ele soube chamar Otávio.
O rapaz realmente não se misturava e só fez amizade com dois ou três garotos que tinham mais ou menos o seu estilo: repetentes, metidos a valentões, justamente por não se encaixarem com o resto, por acharem que não seriam aceitos se tentassem se aproximar. E Otávio parecia querer manter Amanda longe do resto da escola. Pelo menos foi a essa conclusão que Marco chegou, pois sempre que a via com alguma outra menina da sala ou num grupo delas, Otávio aparecia e a separava delas, monopolizando sua atenção. Mas, ao contrário do que Lídia tinha falado, Amanda não parecia metida a superior, havia feito amizade com outras garotas e sorria muito sempre que estava entre elas. Sorriso que ficava menos iluminado quando Otávio chegava, sabe-se lá por quê.
Marco não conseguia saber muita coisa sobre a garota, porque Lídia havia se recusado a participar da investigação, por achar um ultraje à sensibilidade da amiga Bete. Ele então partiu para a pesquisa sozinho e passou a observar a moça sempre que tinha uma chance. Uma pesquisa solitária, porque ela nem sabia que ele existia e ele tinha receio de se aproximar e assustá-la ou mesmo provocar a ira do namorado.
Num sábado de manhã, ele passou na imobiliária do pai, ficou com ele por umas duas horas, ajudando no que podia, cansou e saiu novamente. Estava descendo a rampa que dava acesso à rua quando viu parado na outra calçada, um Fiat vermelho com a tampa do motor levantada e, junto dele, adivinhem, sua garota misteriosa tentando consertar alguma coisa nele.
Marco parou, tirou os óculos escuros e sorriu ao reconhecê-la, feliz com a incrível e agradável coincidência.
Era a sua Amanda. Ela estava com os cabelos soltos, diferente do resto da semana em que os tinha mantido presos num rabo de cavalo. Ele pulou o corrimão da rampa e resolveu finalmente investir, já que não havia Otávio por perto. Não podia ficar a vida inteira apenas olhando para ela de longe. Amor platônico não fazia seu estilo.
O trânsito da Adolpho Pinheiro estava terrível, muitos caminhões e ônibus passavam por ali e, com o risco de ser atropelado uma ou duas vezes, chegou ao outro lado, mas ela já tinha resolvido seu problema, entrado no carro e ele só viu o veículo se afastar.
- Droga! - exclamou ele, irritado com a falta de sorte.
Foi para casa decepcionado, chutando latas de raiva. Chegando em casa, entrou e bateu a porta com força. Da cozinha, a mãe estranhou o barulho e chamou:
- Marco Antônio, é você? Se for, quantas vezes eu já falei pra não descontar na porta o que não deu certo na rua, hein?!
- Mil e duas, mãe! - gritou ele, de volta.
- Tudo bem, bebê? - perguntou ela, já sabendo que algo ia mal.
- Mãe, eu não sou mais um bebê! Dezoito anos, lembra!
- Dezessete, amor! Dezoito, só em junho!
Ele fez uma careta, imitando o jeito de falar da mãe e foi para o quarto. Arrancou a jaqueta e a jogou na cama, depois ligou o estéreo numa estação de rádio FM qualquer, não gostou da música que tocava e girou o “dial”, procurando coisa melhor, mas nada lhe agradava. Resolveu então colocar um disco e pôs-se a procurar algo que combinasse com seu estado de espírito. Apanhou uma coletânea de sucessos antigos, colocou no aparelho e deitou-se na cama, de costas, cruzando as mãos na nuca.
A primeira canção do disco era “Mandy”, de Barry Manilow. O rosto de Amanda em sua mente fundiu-se com o som da canção. Ele fechou os olhos. Começou a cantar baixinho e percebeu que o nome da canção tinha tudo a ver com o nome dela. Mandy era o diminutivo de Amanda em inglês.
- Amanda... Mandy... Incrível!... murmurou, sorrindo.
O gato branco de estimação da casa, e mais particularmente de Marco, entrou no quarto em seu passo lento e preguiçoso, subiu na cama e foi deitar-se junto do peito dele. Marco o sentiu e enterrou a mão em seu pelo macio. Perguntou, ainda de olhos fechados:
- Diz aí, Sherlock, você já conheceu alguma gata chamada Amanda? Eu já, mas nunca ouvi ela miar, ou melhor... falar. Preciso ouvir a voz dela, Sher. Preciso muito!
- Falando sozinho, meu bem? - perguntou Laila, de pé na porta do quarto já há algum tempo.
Marco ergueu-se um pouco na cama e apoiou o corpo no braço.
- Não... com... o Sherlock, mãe. Oi!
- Quem é Amanda?
- Ah, é... a gata de uma colega da minha sala. Eu estava pensando em... trazer pra namorar o Sher.
- O Sherlock é castrado, filho, esqueceu? - disse ela, saindo do quarto em seguida. – O almoço já está pronto, vem logo.
Marco olhou para o gato e sorriu, depois respirou fundo e deitou-se novamente, suspirando:
- Mas eu não sou... Ainda bem. Que barra, hein, amigão?
UMA GATA CHAMADA AMANDA
PARTE V
BOM DIA!