MANDY - UMA GATA CHAMADA AMANDA I - PARTE 1

I – UMA GATA CHAMADA AMANDA

- Bete, para com isso!

- Parei, já! E não vem atrás de mim! - gritou Bete, moreninha sardenta, dezesseis anos, bonitinha até, apesar do gênio forte, andando apressada pela calçada, junto ao muro do colégio, de onde acabara de sair.

Atrás dela ia Marco Antônio, moreno também, olhos verdes, dezessete anos, o que as meninas da escola chamariam TDB (Tudo de Bom) e tentando desesperadamente explicar-se com ela de um mal entendido que poderia pôr fim ao namoro pela quinta vez.

- Eu não fiz nada! - declarou ele, gritando.

- Não?! - ela perguntou, voltando-se bruscamente. – Você olhou pra ela de um jeito que até eu fiquei vermelha!

- Que jeito, droga?! Eu não posso olhar nem pra servente da escola e você já implica!

- Cínico! Eu não quero te ver mais! Some da minha frente!

Ela apressou mais o passo e Marco parou. Passou a mão pelos cabelos e esbravejou um palavrão que teve o cuidado de dizer sem som. O fusca vermelho de Teo, seu melhor amigo, parou junto dele e o rapaz, colocando um braço e a cabeça para o lado de fora da janela do carro, perguntou, com um sorriso sutilmente gozador nos lábios:

- Não convenceu, amigão?

- Não... Mas eu não fiz nada dessa vez, juro! - Marco falou, sinceramente.

Teo riu.

- Entra aí. Te dou uma carona até em casa.

- Não, eu vou a pé mesmo. Preciso andar um pouco pra analisar meu sadomasoquismo. Eu não sei por que eu estou sempre atrás da Bete. Ela é um saco!

- Será por causa daquelas sardinhas sexy? Ou vai ver, você está querendo achar nela alguma coisa que ela não tem.

- Filosofia barata pra cima de mim, não, Teo. Dá um tempo!

- Tchau, então, disse o rapaz, dando partida no motor do velho fusca. - Espero que você consiga desvendar o grande mistério da sua vida. ‘Té amanhã.

- Tchau, despediu-se Marco, batendo no capô do fusca, que se afastou queimando pneus.

Marco atravessou a rua, virou a esquina e entrou no bar-lanchonete que pertencia a seu tio Benê, irmão de sua mãe. Sentou junto ao balcão e bateu nele. Benê olhou para ele, franziu a testa, estranhando o jeito incomum do sobrinho e aproximou-se.

- Fala, garotão! Estudou muito hoje?

- Mais do que o normal. Me vê uma soda. Estou seco feito o Saara, disse o rapaz, num tom mal humorado.

- Ih! Sua cara diz que algo vai mal, no reino dos Ramalho. Foi o seu pai ou brigou pela sexta vez com a gata.

- Quinta!

Benê riu, pegando o refrigerante, abrindo a garrafa e colocando diante dele.

- Vocês não têm jeito mesmo. Mas... acho que não é só você que está com esse problema, hoje, disse ele em tom baixo, apoiando-se no balcão perto do sobrinho. - Dá uma olhada no casalzinho ali na mesa do canto. O cara parece um chato de galocha, pelo que eu pude notar, mas a gatinha, meu...!

Marco voltou-se discretamente para o local indicado pelo tio e viu o casal. O rapaz estava de costas, parecia nervoso, pois gesticulava muito e até se podia ouvir o que ele falava; ela, loira, olhos de um verde suave, rosto de anjo, ouvia a tudo praticamente em silêncio com o rosto apoiado na mão, enquanto sugava pelo canudinho a Coca-Cola a sua frente.

Marco conhecia a maioria das pessoas que frequentavam o bar do tio, mas o casal era desconhecido. Parecia gente nova no pedaço.

- Uma gracinha, não? - Benê perguntou baixinho.

Marco não respondeu. Virou-se na cadeira e ficou de frente para a cena, cruzando os braços e fazendo questão de ouvir a discussão, mas não conseguiu entender muita coisa. O rapaz parecia zangado com ela por não lhe dar a atenção que ele achava merecer. Foi o pouco que Marco conseguiu captar de todo blá, blá, blá do mancebo.

Ela olhava para o rapaz, com jeito de quem não aguentava mais a ladainha dele e por cima de seu ombro, olhou para Marco e quase sorriu, mas a voz do namorado lhe tomou a atenção de novo.

Aborrecido, o namorado zangado se levantou, pagou a conta no balcão e saiu, pisando duro, deixando-a sozinha, na mesa. A garota ficou ainda sentada por alguns segundos e seu olhar cruzou com o de Marco novamente e ela sorriu, sem jeito. Ele sorriu também, como que lhe dando um apoio silencioso. Ela se levantou, colocou a bolsa no ombro e seguiu o namorado. Marco sentiu seu perfume, quando ela passou perto dele.

- Aquele sorriso foi pra você? - Benê perguntou.

- Não diretamente... respondeu o rapaz, realista. - Ela ficou só... sem graça. O panaca só não a deixou mais sem jeito, porque a aura dela é brilhante!

- Modéstia pra que te quero...! - suspirou o tio.

Marco apanhou a garrafa e tomou um grande gole, depois a colocou sobre o balcão e disse:

- Põe na conta do velho. Amanhã ele te paga. Tchau, Benê...

- Na conta do velho, é? Malandro! Se eu for depender do dinheiro do seu pai...

UMA GATA CHAMADA AMANDA

PARTE I

NAMASTE E BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 26/08/2018
Reeditado em 08/09/2018
Código do texto: T6430266
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.