MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (FINAL) - PARTE 3
MI – UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (FINAL)
PARTE 3
Vários coleguinhas de escola de Maria Cecília se juntaram às crianças do orfanato do Desterro e algumas da cidade e a casa é uma verdadeira alegria.
Leonardo decidiu ficar sentado na frente da casa de Lopes, vazia desde a saída do administrador, para não ficar no meio da algazarra das crianças. Nunca foi muito chegado a essas confusões. Chico resolve fazer companhia para ele, junto com Robério. Os dois estão cantando canções sertanejas tranquilas que o patrão ouve em silêncio.
O velho fazendeiro tem saudade de muita coisa do seu passado, o que o levou a não sentir mais ânimo para nada. Sente falta do amigo Lopes, sente falta do filho querido, sente falta até do homem que foi no passado. Não tem mais forças para fazê-lo voltar. Só lhe resta observar a vida passar junto com suas vacas, agora cuidadas por outros empregados, contratados por Wagner, depois de formado em Engenharia Agrícola ou Agronomia em 83.
Cássio chega ao meio dia na fazenda e procura por Mônica no meio de todas as pessoas que já estão lá. Quando vê que ele procura por ela, Magda avisa:
- Mônica não está na casa, doutor.
- Não? Ela está onde?
- Na capela. Ela resolveu ir rezar um pouco pelo marido. Acha pertinente fazer isso em todo aniversário da filha.
- Então eu vou deixar que ela reze em paz...
- Não, vá até lá. Ela pediu que eu dissesse ao senhor que fosse para lá quando chegasse.
- Sério?
- Muito sério. Vá lá. O senhor já sabe o caminho.
O médico segue até a capela e, ao chegar diante dela, para e se benze, olhando mais uma vez admirado para a construção tão singela e tão bonita.
Entra na capela, mas não há ninguém lá. Sai de novo e procura em volta e nessa excursão descobre que atrás da igrejinha há o pequeno cemitério da família. Mônica está lá, sentada no banco diante das lápides.
Ao vê-lo se aproximar, ela sorri. Está vestida num vestido leve, de musseline azul roial e está linda como ele nunca viu. Cássio sorri também e diz:
- Você parece uma pintura... sentada aí nesse lugar... mágico. Parece que tem uma paz aqui que não se encontra em lugar nenhum do mundo.
- Obrigada pelo elogio a mim. E você tem toda a razão... De vez em quando eu venho, sendo muito egoísta, pegar um pouquinho dessa paz pra mim. Que bom que você veio. Senta aqui.
Ela indica o lugar no banco ao lado dela e ele se senta, estranhando vê-la tão tranquila. Mônica geralmente tem uma tranquilidade triste, carregada de um sofrimento que ela não consegue disfarçar. Agora ela tem um sorriso lindo no rosto que o faz sentir vontade de beijá-la de novo, mas não tem certeza de que isso é uma boa ideia naquele momento.
- Dona Magda disse que você vem rezar aqui sempre que a Mi faz aniversário.
- Não só no aniversário dela. Eu venho aqui sempre que preciso pensar e esse lugar me ajuda.
- Pensar no seu marido?
- Basicamente... Em tudo...
- Ele está enterrado aqui?
- A lápide branca no meio das outras.
- Posso... ir lá perto?
- Claro...
Cássio se levanta e chega perto do túmulo de Cláudio. Fica algum tempo em silêncio olhando para a foto dele e fecha os olhos. Intimamente faz uma oração e se benze. Quando abre os olhos, Mônica está a seu lado.
- Posso te fazer uma pergunta, Mônica?
- Claro.
- Tudo bem falar dele com você?
- Tudo bem. O que você quer saber?
- Do que ele morreu? Nunca perguntei pro doutor Renato por que achei que seria invasivo.
- Câncer. Ele teve um tumor fulminante na cabeça. Sofreu com ele só seis meses. Eu estava grávida da nossa menina quando ele descobriu.
Cássio suspira e não diz nada. Abaixa-se junto à lápide e passa a mão sobre os dizeres escritos nela em letras negras e baixo relevo: “PAI, FILHO E MARIDO AMADO. MÉDICO PEDIATRA DE CASA BRANCA. DESCANSE EM PAZ”.
- Sete de julho de mil, novecentos e cinquenta a trinta de junho de mil novecentos e setenta e oito. Ele ia fazer vinte e oito anos... em uma semana... O Renato tinha me falado sobre isso meio por alto, mas... agora eu percebo como deve ter sido triste pra você ter vivido isso.
- A única coisa que me manteve viva foi minha filha. A impressão que eu tenho agora, depois de tantos anos é que ela veio pra mim, porque eu ia perder ele... de alguma forma. Nosso pecado recebeu a punição e a bênção ao mesmo tempo.
- Pecado? Como assim... pecado?
- Ele era casado e... nós nos apaixonamos e traímos a mulher dele. Acho que o Cláudio nunca se perdoou por isso. Ele não acreditava na cura dele, porque achava que merecia morrer.
- Isso é muito triste. A mulher dele ainda está viva?
- Está. Mora nos Estados Unidos, em Los Angeles...
- Ela o perdoou?
- Perdoou ele, mas não a mim.
- Que estória de amor trágica você viveu...
- Mas eu fui muito feliz enquanto vivi com ele. Faria tudo de novo se pudesse. Mas acho que as coisas vão tomar um rumo diferente a partir de agora.
- Por que você diz isso?
- Vou seguir seu conselho...
- Meu conselho?
- Vou deixar ele descansar em paz. Vou procurar... me desligar dele e viver minha vida. Ele ia querer isso. Eu vim até aqui hoje pra acertar isso com ele.
Mônica respira fundo e abaixa-se sobre o túmulo, beijando a foto de Cláudio.
MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL - FINAL
PARTE 3
OBRIGADA E BOA TARDE!
DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!