MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (DOZE ANOS DEPOIS) - PARTE 20
MI – UMA GAROTA MUITO ESPECIAL
PARTE XX
Na manhã seguinte, depois da ida à casa de dona Joana, Maria Cecília toma seu café bem cedo, antes de todos, e avisa Matilde que vai até a capela.
Ao chegar lá, ainda triste por tudo que viu e ouviu na visita da avó à senhora doente, ela só pensa no garoto de quem dona Joana falou, mas que ela mesma não viu. Seu pensamento está com o padrinho, que saiu cedo para ir até a cidade, mas ela não sabe por quê. Está muito preocupada com ele.
A menina se senta no primeiro degrau da escada e fica olhando para o pasto ao longe, pensativa. Subitamente tem vontade de conversar com o pai. Quem sabe ele possa lhe explicar a fundo o que está acontecendo e acalmar seu coração. Fecha os olhos, faz uma oração e respira fundo. Quando abre os olhos novamente, sente que ele está a seu lado, sentando ali também, com as costas apoiadas numa coluna.
- Você demorou... - ela diz.
- Eu estive aqui o tempo todo, ele diz, com sua voz tranquila.
- Mas não veio falar comigo.
- Você não me chamou. Está triste e preocupada demais com seu padrinho. Eu achei que você... podia resolver sozinha a dúvida que está pairando sobre essa cabecinha desde ontem.
- Não posso. Eu não sei direito o que está se passando, mas sei que não é coisa boa. O dindo está com problemas.
- Quer contar a história do começo?
- Você viu que eu fui com a vó Magda até a casa daquela senhora, dona Joana, ontem, não viu?
- Hum...
- Eu fiz mal?
- Depende...
- Depende do quê?
- Se você foi pra ajudar, fez muito bem, mas se foi pra voltar pra casa com problemas... Acho que não deu muito certo, a menos que você queira ajudar a resolver o problema.
- Mas eu quero!
- Então não veja o problema como um problema porque não é.
- Não é? Pelo pouco que eu entendi, o dindo namorou com a neta da dona Joana...
- E...
- Eles têm um filho! O meu padrinho tem um filho com a neta da dona Joana!
- Mas isso não é um problema, ele diz com naturalidade.
- Como não? Ele não mora com ela, nem a vê há muito tempo. A dona Joana disse pra minha vó Magda que essa... Janete... odeia o padrinho. Como não é problema, se tem um menino por aí que é filho de duas pessoas que se odeiam, pai?
- Você o viu?
- Não, ele tinha ido a uma farmácia em Aguaí com a mãe buscar um remédio de... mani...
- Manipulação, ele ajuda.
- É isso. A dona Joana disse que a neta dela não deixa mais o garoto sozinho com ela com medo que o padrinho volte e resolva pegá-lo à força, agora que sabe da verdade.
- Você lembra que eu te falei que seu padrinho ia achar um jeito de parar de pensar na Linda e começar a pensar em alguém que merece e precisa muito mais desse amor que ele tem pra dar?
- Você estava falando... do filho dele?
Cláudio não responde, apenas sorri. Maria Cecília sorri também e olha para as mãos unidas sobre os joelhos.
- Poxa! Faz sentido... Mas se a Janete não gosta dele... como ele vai fazer pra ficar junto do filho? Ela está fugindo dele.
- Não está. Ela quer... infelizmente... se livrar do filho. Só está dificultando as coisas pro Wagner sofrer até conseguir se unir a ele. Na verdade, ela queria ter contado tudo pro seu avô, aqui na fazenda, mas não deu tempo. Seu padrinho descobriu primeiro.
- Isso é muito errado. Se ela não gosta do menino, por que não entrega logo pro padrinho?
- Seu padrinho a fez sofrer muito. Ela está só querendo revidar. Ela o amou demais no passado e sofreu muito pra criar o garoto até agora, sozinha.
- Eu não entendo essas coisas. Se amou... por que odeia agora? O amor não devia durar pra sempre?
- O ódio é uma espécie de amor também. É o amor do avesso. Ao contrário. É triste, mas é assim. O ser humano não sabe como lidar com a rejeição, quando ama demais, e reage odiando.
- Eu não quero nunca me apaixonar... - ela diz pensativa.
Cláudio ri.
MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (DOZE ANOS DEPOIS...)
PARTE 20
OBRIGADA! BOA TARDE!
DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!