MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (DOZE ANOS DEPOIS) - PARTE 15
MI – UMA GAROTA MUITO ESPECIAL
PARTE XV
Wagner desce o garoto que ainda estava sobre o carro e o coloca no chão, tendo o cuidado de segurá-lo ainda pela camisa.
- Quer um sorvete? - ele oferece.
- O quê? - estranha o menino.
- A sorveteria está logo ali. Está um calor bárbaro. Quer um?
- Você é maluco? Solta minha camisa.
Wagner solta e espera que ele saia correndo, mas ele não sai.
- Isso é sério? Você... vai me pagar um sorvete?
- Eu estou muito a fim, se você estiver, diz Wagner indo na direção da sorveteria que existe na mesma calçada do restaurante Barão.
Ele nem se incomoda mais com o fato do menino fugir dele ou não. Para na porta da sorveteria e espera.
- Vem ou não?
- Você está falando sério? Eu nem te conheço. Vai que você quer me sequestrar pra pegar meu rim...
Wagner ri a valer.
- Que imaginação fértil você tem, garoto. Eu já disse que conheço todo mundo nessa cidade, nasci e me criei aqui. Por que eu ia querer sequestrar um pirralho magrinho e subnutrido como você, no centro da cidade, com todo mundo vendo? A pessoa que recebesse teu rim morreria em três dias.
O menino faz uma cara de quem não gostou da observação e cruza os braços.
- Anda logo, antes que eu mude de idéia.
Wagner entra na sorveteria. O garoto olha em volta e depois de alguns segundos pensando, o segue e entra também. Wagner já está sentado numa das mesinhas logo na frente da porta da sorveteria e Hugo, o rapaz que atende o público, se aproxima dele, passando um pano branco e limpo sobre a mesa e ajeitando o cardápio na frente dele.
- Oi, Wagner, tudo bom? O que vai hoje?
- Oi, Hugo. Um Sunday de chocolate pra mim, por favor.
O menino se senta diante dele e pega outro cardápio, dizendo prontamente.
- Pra mim também.
- Quem é? - Hugo pergunta, estranhando, pois não conhece o menino.
- Acabei de conhecer. É um amiguinho meu.
- Não é o garoto que roubou o João na praça?
- É... mas ele prometeu que não vai fazer mais isso. Não é... como é mesmo seu nome?
- André... André Luiz.
- André... lindo nome. Pois é, Hugo, o meu amiguinho André não vai mais fazer o que fez agora a pouco.
O menino baixa os olhos e fica olhando só para o menu, disfarçando.
- Dois Sundays de chocolate, por favor.
- Ok. Saindo dois Sundays de chocolate estupidamente gelados.
O rapaz se afasta e Wagner cruza os dedos das mãos sobre a mesa olhando atentamente para André. Quando se sente observado, ele pergunta:
- Que foi? Nunca me viu?
- Não.
- Você ainda não me disse como conhece minha mãe.
- Quantos anos você tem?
- Doze.
- Confere.
- Confere com o quê?
Wagner não responde e ainda continua olhando para ele, estudando seu rosto. Ainda encontrando em André traços que havia no menino que ele era.
- Você não vai me dizer nada? Vai ficar só me fazendo perguntas e olhando pra mim desse jeito esquisito?
- Em que mês você nasceu?
- Setembro, trinta de setembro de setenta e oito.
Wagner faz as contas mentalmente e sorri, balançando a cabeça.
- Confere. Ela não está mentindo.
- Ela quem? E confere com o quê? Eu estou achando que vou pra minha casa. Minha mãe já deve estar preocupada... comigo.
Ele para de falar ao ver as duas taças enormes dos Sundays que Hugo coloca sobre a mesa. Ele chega a salivar e lamber os lábios ao olhar para elas.
- Caraca!
Wagner coloca uma taça diante dele e uma colher dentro dela.
- Obrigado, Hugo. Estão do jeito que eu gosto. Depois traz duas garrafas de água sem gelo pra nós, por favor.
- Falou. Trago já.
Wagner começa a tomar seu Sunday e André ainda está olhando para o dele, extasiado.
- Você não vai tomar?
O menino apanha a colher e começa a retirar pequenas porções do sorvete e colocando devagar na boca como se fosse a última coisa que fosse comer em anos. Seus olhos se fecham a cada porção.
RP – MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (DOZE ANOS DEPOIS...)
PARTE 15
OBRIGADA! BOM DIA!
DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!