RETORNO AO PARAÍSO - EPÍLOGO - PARTE 4
EPÍLOGO
PARTE IV
- É melhor a gente mudar de assunto, diz Selma. - Não gosto de te ouvir falar dela. Ela também foi vítima nessa estória toda.
- Então vamos mudar o disco. Também não gosto de falar dela. Eu não gostava, não gosto e acho que nunca vou gostar da Tânia, principalmente depois que o Cláudio morreu. Me dá uma raiva muito grande só de pensar que meu irmão perdeu oito anos da vida dele, vivendo com ela. Vivendo sem amar, o que é pior. Não gozou nada da vida. Meu irmão viveu de verdade só um ano da vida dele, nem isso, nove meses, se muito... O tempo que durou a vida dele com a Mônica. Me ferve o sangue só de pensar que foi por causa dela.
- Adianta esse ódio todo agora?
- Quem devia ter morrido era ela no lugar do meu irmão.
- Quer parar com isso, garoto?! – ela diz, segurando seu rosto entre as mãos. – Não fica assim. Vamos falar de outra coisa. A dona Karen... E ela? Como ela está?
- Bom... a Karen Johnson morreu no final de setenta e oito.
- Morreu? Nossa! De quê?
- Ela voltou pros Estados Unidos definitivamente depois da morte do Cláudio e quatro meses depois teve outra crise de úlcera e não resistiu. A dona Lucila continuou morando com o pai na casinha dele e meu pai achou por bem construir uma outra casa maior de alvenaria ao lado dela e ela mudou pra lá. Infelizmente o Salomão morreu também em setembro daquele ano e foi enterrado ao lado do meu irmão. Ela está lá até hoje.
- Ela se dá bem com seu pai?
- Como eu disse, meu pai não se dá bem com mais ninguém, depois que o Cláudio morreu, mas ela tem uma vida bem tranquila e fica sempre na dela. Ela e a Magda se dão bem e isso é o que realmente importa. A Mi é o elo entre elas duas. Elas dividem bem a responsabilidade de cuidar da menina como avós, enquanto a Mônica trabalha, e todo mundo vive em paz.
- O Lopes?
- Ele é praticamente o dono de Quatro Estrelas agora, enquanto eu não estou lá e meu pai está nessas férias fora do contexto que ele mesmo se impôs. O Claudinho, filho dele, é um garoto fofo também e ele e a Mi são as alegrias na fazenda. Falta mais alguém?
- Não, acho que não. Ah! O Ivan! Ele achou Machu Pichu atravessando o tal túnel em São Tomé das Letras? Sempre tive curiosidade sobre esse assunto.
Wagner ri.
- Não sei. O Ivan sumiu. Nunca mais voltou. A Magda acha que ele morreu na viagem, mas ninguém tem certeza de nada. Eu acho que não, mas...
Ele olha no relógio de pulso e diz:
- Acho melhor levar você pra casa e ir embora. Você mora longe pra caramba e, mesmo de moto, a gente vai levar um bom tempo pra chegar lá. Seu pai vai me enforcar e sua mãe vai cozinhar o galã aqui em banho-maria. Belo prato, não? Eu sei que sou gostoso...
- Belo mesmo, ela diz, acariciando seu rosto. - Gostoso e modesto.
Wagner a beija docemente.
- Quer ir pra casa?
- Querer, eu não quero, não. O papo está tão gostoso, mas eu preciso ir e você também. Eu já estou percebendo que você está ficando nervoso e cansado.
- Não, não estou nervoso. Cansado, sim, nervoso, não. Hoje eu fiquei livre de todos os meus demônios, todas as minhas tensões. Graças a você.
- Que bom, ela diz, sorrindo e segurando a mão dele.
- Mas você não falou nada de você o dia inteiro. O intuito do meu encontro com você hoje era a gente colocar as novidades em dia.
- Eu não tenho muita coisa pra dizer...
- Como não, Selma? Faz uns trinta anos que a gente não se vê e você diz que não tem o que dizer?
- Hoje não dá mais.
- Poxa vida, como eu sou egoísta, não?
- Não é nada disso. Eu estava mesmo muito a fim de ouvir você falar de você. Ouvir sua história. Vai render bons frutos...
- Ah, é?
- É...
- Não entendi nada.
- Você vai entender... um dia...
- Xi! Que mistério... Não vai me dizer que você ainda está com aquelas bobagens da nossa infância na sua cabeça.
- Não, senhor. Não comece a pensar bobagens você também. Pode estragar tudo.
- Mas não é bobagem. E se eu estiver falando disso?
- Azar o seu.
- Ah, é?
- É, ela diz, olhando firme nos olhos dele.
- Não tenho nenhuma esperança?
- Não...
- Nenhumazinha? – diz ele, fazendo um gesto com os dedos indicador e polegar.
- Wagner, não brinca. Eu estou falando de outro tipo de frutos...
- Então quais? Melancia, banana, abacate, uva... Quais?
- Assim não dá. Você não fala sério, poxa!
- Está certo, falando sério agora...
Ele se senta e faz uma cara de sério que faria qualquer um rir.
- Bobo! - ela ralha.
- Sabe há quanto tempo eu não brinco assim? – ele diz, agora sério mesmo.
- Sei. Há muito tempo, mas eu adoro que você tenha voltado a fazer isso, mas como nosso papo foi sério até agora, eu gostaria que continuasse porque eu quero... te fazer uma proposta... quase um pedido.
- Qual?
- Eu quero ver o fim dessa história.
RETORNO AO PARAÍSO – EPÍLOGO
PARTE 4
OBRIGADA SEMPRE!
DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!