RP - ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE - PARTE 15
ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
PARTE XV
Os olhos de Wagner se enchem de água, mas ele permanece impassível.
- Eu ia... Eu ia, não, eu vou... entrar de férias na semana que vem... e até combinei com a minha madrasta que ia passar as férias todas com eles aqui pra ficar com ele... Ele faz... aniversário sexta que vem...
- Vai ser ótimo se você fizer isso. A família inteira vai precisar de você.
- Eu viria... pra ficar com ele, Valter.
Valter engole em seco.
- Talvez ele não esteja mais aqui na semana que vem, Wagner.
A respiração do rapaz começa a ficar irregular e ele sente vontade de gritar, mas o calmante parece estar fazendo efeito e ele não consegue. Apenas fecha os olhos e deixa as lágrimas correrem pelo rosto, silenciosas.
- Não... Sexta-feira é o aniversário dele... Vinte e oito anos, cara... Ele não pode... Não está acontecendo isso.
Ele se levanta e vai até a varanda. Fica olhando para o sol que está terminando de se esconder no horizonte.
- Não... Não pode... Aquele cara é... o ser humano mais integro que eu conheço e que existe nessa cidade. Ele não merece morrer desse jeito, Valter. Ele mal começou a viver... Não é justo...
Ele se volta para Valter.
- Não é justo... Ele não merece...
- Concordo com tudo que você está dizendo e compartilho da sua dor, Wagner, mas... tem certas coisas que a gente não pode mudar. Nem nós que somos médicos. Ele era... Ele é médico também e passou por tudo com muita serenidade, eu assisti isso. Você também deve ter percebido que ele não se revoltou com nada em nenhum momento. O que você tem que...
- Eu não estou perdendo tempo aqui falando com você? Eu devia estar lá com ele.
Wagner vai para a porta, mas Valter se antecipa e o impede de sair.
- Ele não está consciente desde ontem...
- Desde ontem? Desde ontem que horas?
- Nós chegamos aqui ontem às três da tarde, a pedido dele mesmo. Ele já tinha amanhecido sentindo alguma coisa diferente. Sentiu a visão falhar e tinha dor nos olhos e na cabeça. A Mônica... aplicou a injeção nele e ele adormeceu por uma hora mais ou menos. Quando chegamos, ele estava acordado e me pediu pra ligar pra você...
- Não... Não era você... Wagner diz, sorrindo nervoso. – Eu conheço a voz do meu irmão. Era ele, pedindo pra eu vir pra cá porque... tinha uma coisa importante pra dizer pra mim...
- E ele tem... Acho que ele só queria te dizer pessoalmente que está indo embora e... se despedir.
Wagner coloca a mão sobre a boca e fica olhando para a porta sem saber se sai ou fica.
- Não há... nenhuma possibilidade de eu falar com ele?
- Não sei... Talvez... O efeito da última injeção já vai passar em uns quinze minutos, mas... ele sente dores insuportáveis quando está consciente.
- Por que ele não está no hospital, meu Deus?
- Ele não quis... Não há mais nada a fazer de qualquer forma. Aqui pelo menos ele está... com a família, com os amigos...
- Nada a fazer... Foi o que me disseram quando a minha namorada... É a segunda pessoa amada que eu perco em menos de um ano. Isso não é justo! Isso não é justo!
Wagner repete a frase várias vezes em voz baixa indo sentar-se na cama.
- Seria bom que essas coisas nunca acontecessem com a gente... mas procura se apegar com Deus... Ele tem todas as respostas.
Wagner enxuga o rosto e diz com revolta:
- Deus não tem nem ideia do que está tirando da gente, cara... Nem uma... pequena ideia... Ele... é meu irmão! Meu melhor amigo... minha vida inteira...
Valter permanece em silêncio. Wagner se levanta.
- Eu quero vê-lo... Eu tenho que ver meu irmão...
- Claro... se ele te chamou é porque também quer te ver. Vamos até lá.
RETORNO AO PARAÍSO – ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
PARTE 15
OBRIGADA! BOA TARDE!
DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!