RP - NASCE UM ANJO... - PARTE 5
NASCE UM ANJO...
PARTE V
Mônica segura o rosto de Cláudio e o beija mesmo assim, estendendo a mão com um pacote de dropes de hortelã. Sorri.
- Você esqueceu que eu já estou acostumada com isso?
Ele sorri também.
- Agora não preciso mais.
- Precisa sim. O gosto desses remédios é muito ruim pra ficar na boca.
Ele apanha um dropes e coloca na boca.
- Como você veio até aqui?
- O Robério me trouxe. Me deixou aqui e foi embora. Vamos pra casa?
- Você não quer entrar pra ver seu pai? Eu espero aqui, ele diz, abrindo a porta do carro.
- Não. Eu já falei com ele, hoje, ela diz, entrando no veículo pelo lado do motorista.
Ele entra também e depois de fechar porta, ela dá a partida no carro.
- Falou com ele hoje? Quando? - ele pergunta, colocando o cinto de segurança.
- Depois que você saiu de casa. Eu pedi pra ele me adiantar alguma coisa sobre o seu tratamento.
Cláudio fica olhando por um momento para a rua, sem saber no que pensar.
- E o que ele disse pra você? - ele pergunta, sem olhar para ela.
- Que nunca viu um homem mais corajoso. Que nunca vê você reclamar de nada. Que Deus seria muito injusto se não te tirasse dessa.
- Deus não pode ser responsabilizado pelos nossos sofrimentos. Ele já tem muito trabalho pra abençoar e perdoar a gente quando a gente pede.
- Mas você é um homem bom. Não acredita que merece o perdão dEle?
Cláudio pensa por um momento e responde:
- Ninguém é totalmente bom, nem totalmente ruim. Eu devo ter feito alguma coisa nessa vida ou na outra... pra estar passando por isso agora.
Ela coloca o carro em movimento.
- Descansa, ela diz, com a voz quase não conseguindo sair da garganta. - Quando chegar em casa, você toma um banho e dorme um pouco.
E é exatamente isso que ele faz quando chega à fazenda. Os dois entram na casa e sobem juntos. Cláudio toma um longo banho, troca de roupa e se deita na cama, cansado pelo esforço que o exame lhe causa, toda vez que tem que passar por ele.
Mônica se senta ao lado dele com uma xícara de chá nas mãos.
- Eu trouxe um chá de hortelã que eu fiz pra ver se melhora o gosto ruim na sua boca.
- Eu estou com o estômago embrulhado ainda. Não sei se vou conseguir beber.
- Tenta... ela diz, pegando a xícara e entregado a ele.
Cláudio se senta na cama e bebe um pequeno gole. Apesar do gosto bom da bebida, ele não consegue beber mais e devolve a xícara para ela. De repente corre para o banheiro e coloca tudo para fora. Quando volta, diz:
- Não consigo. Desculpa, mas eu não consigo. Tenho medo de continuar e jogar tudo fora de novo. Deixa aí. Talvez eu acorde melhor e consiga beber depois, mas obrigado mesmo assim.
Ele volta a se deitar. Ela o cobre e vai se levantar, mas ele segura sua mão.
- Não vai ainda... Fica aqui comigo.
Mônica volta a se sentar e ele acaricia seu cabelo, segurando uma pequena mecha.
- Teu cabelo está crescendo. Não vai cortar mais?
- Depois que a nossa filha nascer.
Ele coloca a mão sobre sua barriga.
- Me fala dela. Como ela anda se comportando?
- Eu estou até estranhando. Ela anda quieta demais. Faz algum tempo que eu não a sinto se mexer. Eu liguei pro Miguel e ele disse que vem antes do dia marcado pra fazer o último ultrassom pra me deixar sossegada. Mas disse que é normal. Ela já está quase ficando na posição certa pra nascer. Eu já estou entrando no oitavo mês.
- Eu estou muito ansioso pra ver o rostinho dela.
Cláudio beija sua barriga e encosta o rosto nela fechando os olhos.
- Vem em paz, filha. Eu vou ficar te esperando...
Mônica sente que alguma coisa não está bem.
- Cláudio, você tem alguma coisa pra me dizer?
Ele volta a recostar a cabeça no travesseiro e sorri, puxando seu rosto para perto de si.
- Não... Só quero dizer que eu te amo e quero dormir um pouco.
- Também te amo.
Ele segura sua mão com força e fecha os olhos. Mônica fica com ele mais algum tempo, acariciando seu rosto e espera que ele durma. Quando sente que a pressão em sua mão diminui, beija o rosto dele e se levanta, saindo do quarto. Desce e, aproveitando que não há ninguém na sala, vai até a biblioteca, fecha a porta e liga para o pai.
- Pai, sou eu...
- Filha, eu imaginei que você fosse me ligar.
- Pai, o que o Cláudio decidiu?
Um silêncio se faz do outro lado da linha.
- Fala logo, pelo amor de Deus!
- Ele não vai mais fazer a quimio, meu amor. Ela vai acabar matando ele primeiro que a doença. Não está surtindo efeito nenhum. O tumor estacionou. Como eu disse de manhã, ele está sendo até corajoso demais em passar por isso, mas é só por sua causa. Acho que não podemos mais obrigá-lo a passar por esse sofrimento mais tempo, filha. Ele está ficando cada dia mais desanimado.
Mônica começa a chorar em silêncio.
- Obrigada por me dizer a verdade. Eu te amo, pai.
- Também te amo, meu amor. Só não diz a ele que eu contei. Ele não quer que você saiba.
- Não vou dizer nada... a ninguém. Tchau, pai.
- Tchau, filhinha.
RETORNO AO PARAÍSO – NASCE UM ANJO...
PARTE 5
OBRIGADA POR SONHAR COMIGO!
BOM DIA!
DEUS NOS ABENÇOE A TODOS NÓS!