RP - MUDANÇA - 1978 - PARTE 12
MUDANÇA – 1978
PARTE XII
QUINTA-FEIRA
Na cidade de Casa Branca, o clima é de comemoração. Humberto Lage está preparando a maior festa de casamento para o filho mais velho. Providenciou que sua rua inteira e o largo que há diante do supermercado da família fossem enfeitados com bandeirinhas e mil outros enfeites.
Há tempos ninguém preparava festa igual desde a inauguração de seu supermercado no início da década. Humberto quer repetir a dose, mas o único que não está feliz com isso é o próprio filho. Beto e Sandra queriam uma festa mais simples e não uma “festa junina” como ele chama, ao comentar sobre tudo com Wagner, dois dias antes do casamento.
- Festa junina? - Wagner pergunta, rindo.
- E não é? - Beto pergunta. – Com aquelas bandeirinhas penduradas pela cidade inteira da nossa rua até a frente da matriz. Só falta tocarem forró no dia e eu colocar um chapéu de palha e uma calça remendada na bunda pra casar. Eu tenho vontade de sumir... levando a Sandra, é claro.
- É um dia só, cara. Teu pai está feliz. Não custa fazer a vontade dele. O importante é o depois.
- Não vejo a hora disso tudo terminar de vez. Eu nunca pensei que casar fosse tão maçante.
Os dois estão no quarto de Wagner na fazenda. Wagner levanta-se e liga a vitrola, colocando um disco de uma banda de rock atual.
- E você? - Beto pergunta. – Quando vai se decidir fazer o mesmo que eu?
- Quem sabe em oitenta... oitenta e dois... Talvez depois que eu me formar daqui seis anos... Eu quero ficar livre um pouquinho mais. Já te disse isso.
- E a Linda?
- A Linda? Vai bem.
- Não desconversa. Eu sei que você não sai mais sem estar acompanhado por ela. O negócio ficou sério, não ficou?
- Mas ela também não tem pressa. Eu não penso em casar com ela tão cedo, Beto. Esquece isso.
- A Janete está uma arara com você. Ela já disse pra Sandra que vai acertar as contas com a Linda qualquer dia desses. Acho bom você colocar as barbas de molho.
- E desde quando a Janete é minha dona? Eu não sou namorado dela.
- Mas deu a entender pra muita gente que era. Pra ela principalmente.
- Eu nunca prometi nada pra ela. Problema dela se pensou errado.
- Desculpa a franqueza, cara, mas isso é muito cafajeste da sua parte. A garota é parada na sua e não é de hoje.
- Eu me entendo com ela.
- Não quero escândalo no meu casamento, hein? Já não chega o vexame daquelas bandeirinhas ridículas.
- Deixa comigo.
Batem na porta. Wagner vai abrir. É Magda.
- Oi, mãe.
- Wagner, a sua turma está aí embaixo. Querem falar com você. Parece que aconteceu um problema...
Os dois descem. Leo, Laura, Guto e Dina estão no terreiro na frente da casa grande e Guto é o primeiro a se manifestar.
- Wagner, a Janete sumiu.
Um tanto atônito no início, mas tomando um ar divertido depois, ele pergunta:
- E o que eu tenho a ver com isso? Eu não sou pai nem mãe dela.
- Ela deixou esse bilhete em cima da cama dela, diz Leo, tirando do bolso da camisa um pedaço de papel um pouco molhado e entregando a ele.
- Está molhado, Wagner diz.
- A avó dela disse que são lágrimas. Ele tem chorado muito de uns dias pra cá... por sua causa.
Beto começa a rir.
- Eu não falei?
Wagner olha para ele depois abre o bilhete e o lê apenas com os olhos. Em seguida amassa o papel e o joga longe. Fecha os olhos, passa as mãos pelos cabelos e esbraveja:
- Droga!
Todos se assustam.
- Que foi, cara?! - Leo pergunta.
- Esperem aqui. Eu já volto.
Wagner vai até a garagem, pega a moto e, antes que ele se afaste, Beto pergunta:
- Aonde você vai, maluco?
Ele não responde. Afasta-se com a moto na direção da represa.
RETORNO AO PARAÍSO – MUDANÇA - 1978
PARTE 12
OBRIGADA POR SONHAR COMIGO!
BOM DIA!
DEUS NOS ABENÇOE A TODOS NÓS!