RP - MUDANÇA - 1978 - PARTE 10
MUDANÇA – 1978
PARTE X
TERÇA-FEIRA - 03/01/78 - SÃO PAULO
Cláudio está nesse momento olhando para o monitor que exibe as fotos registradas pela tomografia feita por Valter de sua cabeça. Ao lado dele está o doutor Fabrício, oncologista da Santa Casa, a quem Valter pediu o favor que examinasse o caso do amigo, já que ele mesmo não poderia fazê-lo, por não ser especialista da área. Miguel e Valter estão também ali com eles na sala.
- Você consegue entender minimamente o que significam essas imagens, não consegue, Cláudio? - Fabrício pergunta.
Cláudio acena afirmativamente, mas não diz nada.
- Você pode refazer todos os exames agora com mais lentidão, com mais cuidado, se quiser ter uma certeza maior de que eles são exatos...
- É, Cláudio, diz Valter. – No dia, a minha equipe fez na correria, só pra saber do que se tratava aquela sua dor de cabeça tão forte que te fez desmaiar.
- Não tem necessidade... Uma tomografia é sempre precisa. É quase como... um ultra-som. Só quero saber... como isso vai interferir na minha vida daqui em diante?
- Bom... É um tumor até bem pequeno...
- Operável?
Fabrício olha para Valter e Miguel, ali atrás dele, mas não responde. Cláudio olha para ele e pergunta novamente.
- Eu posso tirar isso da minha cabeça? Responde, Fabrício.
- Eu ainda preciso estudá-lo com mais calma e quero fazer uma biopsia, mas...
- Biópsia?
- É... a gente tem que analisar e descobrir se é maligno ou...
- E se for?
- Não vai ser...
- E... se... for?
- Bem, nesse caso... mesmo que tentemos tirá-lo, você teria... setenta por cento de chance... de ficar na mesa... Ou ficaria com sequelas bem significativas.
- Ele é muito pequeno e está no centro da minha cabeça. Que tipo... de sequela?
- Acho que não vale a pena ficar falando sobre isso ainda...
- Cegueira?
Fabrício respira fundo e responde:
- É uma possibilidade...
Uma lágrima rola por seu rosto e ele sorri, nervoso, enxugando-a. Cláudio se levanta e dá alguns passos pela sala. Valter desliga o monitor.
- Como eu vou... contar isso pra Mônica?
Nenhum dos três responde. Ele se volta para os três.
- Como eu vou dizer pra minha mulher que eu tenho um tumor na minha cabeça e que posso ficar na mesa de operação se tentar tirá-lo?
- Cláudio, eu já disse que essa não é minha palavra final. Você está se antecipando sem necessidade.
- Eu estou vendo o que está acontecendo comigo, Fabrício! Eu ainda não sou seu paciente. Eu entendi muito bem o que eu vi.
- Vamos fazer a biópsia e ter certeza de que é maligno primeiro. E vamos torcer pra que não seja, depois você se desespera.
- Eu não estou desesperado.
- Então vamos seguir os trâmites. A gente faz a cultura do que é necessário para a biópsia ainda hoje e eu marco uma nova consulta pra você daqui dois dias. Ok?
- Ok, mas ninguém... Eu disse ninguém... abre a boca pra contar nada sobre isso pra Mônica, entendido? Nenhuma palavra.
Valter e Miguel concordam acenando com a cabeça.
- Vamos acabar logo com isso. O que eu preciso fazer?
Fabrício toma todas as providências para analisar o tumor que Cláudio tem na cabeça e marca uma nova consulta com ele em dois dias.
Cláudio sai do hospital com Miguel e no carro diz:
- Eu falei sério quando disse que não quero que ninguém conte sobre isso pra Mônica. E essa ordem é pra você especificamente, Miguel. Você tem mais contato com ela que os dois.
- Eu percebi... Confie em mim. Eu não vou dizer nada.
- Não abra a boca pra falar sobre isso nem com a Lúcia. Eu quero ver o Alberto ainda essa semana.
- Ok, diz o médico.
Cláudio fica olhando pelo vidro do carro, mas seu olhar vai muito mais além do que ele está vendo.
RETORNO AO PARAÍSO – MUDANÇA - 1978
PARTE 10
OBRIGADA POR SONHAR COMIGO!
BOM DIA!
DEUS NOS ABENÇOE A TODOS NÓS!