RP - GILBERTO - PARTE 17
GILBERTO
PARTE XVII
Wagner se cala percebendo isso e acha que foi inconveniente. Procura mudar de assunto.
- Você... conseguiu se acostumar com São Paulo? Eu me assustei quando cheguei aqui de novo depois de muito tempo. Eu vim aqui uma vez e era um moleque, mas está mais punk que antes.
- Já viu a Selma?
- Não, ainda não. Ela morava e acho que ainda mora bem longe daqui do centro. Itaim... Paulista, eu acho.
- Também me lembro mais ou menos disso. Tudo aqui é meio longe mesmo. A cidade é muito grande. Tem bairros que são maiores que Casa Branca.
- Deu pra acostumar?
- Me acostumei com esse quarto. Pra mim já foi suficiente. Eu não tinha muito que ver lá fora.
Wagner percebe que não vai dar para fugir do assunto por muito tempo e arrisca:
- Você passou três anos aqui dentro, Beto?
- O que você faria se estivesse no meu lugar?
Wagner não sabe o que dizer.
- Bom... Eu não sei... não posso nem dizer que... tenho ideia do que você passa, porque eu não tenho. Nem sei se agiria diferente de você, se passasse pelo que você passou. Não é fácil.
- Meu irmão me recrimina por ter ficado tão passivo, mas eu não sei o que fazer. Não tenho mais gosto por nada, Wagner. E como se... eu estivesse morto. Ele acha que eu deveria ter continuado os estudos, mas pra quê? Só pra dizer que eu tenho um grau a mais de instrução no meu histórico escolar? Eu estou cansado de ficar aqui sim. Morro de inveja de vocês que ficaram lá curtindo a vida, se divertindo, vivendo como eu não posso mais viver. Detesto São Paulo! Odeio essa cidade! Eu amava Casa Branca e ainda amo. Queria demais ter continuado lá com vocês, meus amigos, com você...
- Então volta.
- Não... Não dá mais...
- Por que não? Do que você tem medo? Do pessoal não te aceitar?
Gilberto não responde.
- Beto, eles só não ficaram sabendo antes porque você me pediu pra não contar, mas eu tenho certeza de que eles teriam aceitado tudo de maneira natural, se soubessem do que aconteceu com você. Ninguém ia colocar você de lado, só por ter perdido as pernas. O pessoal sabe que o que aconteceu foi por culpa de todo mundo, até minha. Eu poderia ter evitado aquela corrida.
- Você não teve culpa de nada. Nem estava lá na hora.
- Mas você sabe que a turma sempre fazia o que eu pedia. Sempre foi assim. Se eu tivesse...
- Tinha que acontecer e aconteceu. Ninguém teve culpa, Wagner.
- Bem, a questão nem é essa. Se você voltasse a morar em Casa Branca, todo mundo iria ficar muito feliz e aceitaria perfeitamente a tua condição. Você teria ajuda até...
- Vai ser difícil tirar a minha mãe daqui agora, Gilberto o interrompe. - E o Gustavo também. Com o consultório montado, ele não sai mais daqui por nada, nem por mim.
- Volta sozinho.
- Você ficou maluco.
- Você não pode ficar aqui entregue às baratas, cara. Só a presença do pessoal da cidade te dando força, ia te fazer um bem enorme.
- Você acha?
- Não acho. Eu tenho certeza! Posso até trazê-los aqui qualquer dia, se você quiser. Aliás, alguns deles estiveram aqui, dias atrás, e eu só não trouxe... porque ninguém sabia de nada...
Os olhos de Gilberto brilham com uma ponta de esperança, mas acaba por desistir.
- Não, é melhor ficar tudo como está.
- Caramba, Beto...
- Não, não, Wagner. Te agradeço pela boa vontade, mas... não se fala mais nisso por favor. Só a tua visita já me fez um bem enorme e eu estou muito feliz em te ver de novo. Mas me diga: você é avesso a casamento, mas não está nem namorando? E a Janete?
- Não, a Janete era só... Não era nada sério. Só curtição... Eu estou com alguém, sim, mas eu só não a trouxe aqui comigo.
- Por que não?
- Eu não sabia como você ia me receber... achei melhor que ela ficasse na casa do Cláudio, mas ela entendeu.
- Deve ser uma garota muito legal pra aceitar ficar sozinha pro namorado ir ver um amigo... Como é o nome dela?
- Linda.
- Uau! Com um nome desses deve ser muito especial mesmo.
- É, ela é sim. E não é linda só no nome.
- Então traga ela aqui na próxima vez que você vier combinado?
- Combinado.
RETORNO AO PARAÍSO – GILBERTO
PARTE 17
OBRIGADA PELA COMPANHIA!
BOA TARDE!
DEUS NOS ABENÇOE A TODO O BRASIL!