DIA DE CHUVA - cap. I

Tudo era perfeito e o ar de felicidade, inundava as eiras e beiras de todas as razões cogitadas. Ninguém sabia desfrutar tão bem os planos da vida quanto as proezas virtuosas desse olhar carismático e cheio de amor. Mais do que tudo que se destacava à volta de suas contemplações, era a essência prazerosa que fluía de dentro, no mais íntimo de seu coração, como partículas sentimentais de amor.

A razão de todo anelo, de todo aconchego e de toda a expressão, percebia-se nos sorrisos. Era tudo muito lindo desde os primeiros olhares e os sorrisos que surgiam com detalhes que nasciam do coração. Desde os primeiros dias, nada ficou para trás. Havia uma realidade que fluía, que era carregada de amor e, como semente de rara espécie, crescia formosamente esbanjando as maiores preciosidades da vida.

Os dias aqueciam no calor vivo que incendeia os sentimentos da paixão. Paixão pelos detalhes de uma vida inteira. Paixão e amor reiterados em cada plano dentro do cotidiano. Um sentimento verdadeiro de pureza que tece no ardor da vida e vai costurando cada pavimento, na construção de uma torre forte. Sentimentos puros que tecem laços familiares e amigáveis de uma corporação perdurável no vínculo perfeito da vida. Costura-se os detalhes em cada ponto certo e cada encaixe se torna notório para a construção do pavimento que dá vida à vida e suas razões desde a flor dos primeiros passos até a sua maturidade progenitora.

Ela relembrava os anos de amor a cada estação que somava aos momentos de prazer. Lembranças e recordações seladas com carinhos. Era uma linda manhã de primavera e as flores exalavam as mais gostosas fragrâncias do campo. Era uma estação diferente e o melhor presente aberto aos seus olhos, foi o amor.

A cada primavera, ela lembrava da primeira. E os detalhes eram somados aos anos de amor no ato bom da felicidade. A essência das flores perfumava não só os seus dias, mas os sentidos vivos e prazerosos de seus sentimentos, desde o mais escondido segredo de sua alma. A estação cantava aos seus ouvidos as mais belas canções de um tempo promissor. O aroma bom de suas flores, inundava a alma. Flores que desabrochavam nas manhãzinhas, como pétalas de amor presenteando a arte do aconchego.

Ela revivia bem os detalhes daquela amorosa primavera como se fosse a essência da primeira vez em detalhes peneirados com muito capricho em sua mente fértil. E ela tinha em mente que é sempre gostoso pensar no que lhe faz feliz. Pensar o passado e rememorar no presente a construção de um sonho tão real, nos punhos do futuro.

Ela viu da última janela da sala escolar, aquele jovem elegante, forte, de ombros largos e olhar compenetrado, seguir em direção à biblioteca, que ficava ao lado do ginásio. Não foi a beleza do rapaz que mais chamara a sua atenção, mas os detalhes de seu olhar e de como ele andava.

O sino tocou, era o intervalo. As carteiras ficaram vazias e alunos se espremiam para sair da sala pela estreita porta, que já estava escancarada. Ela não se moveu, queria o silêncio da sala vazia e amar a doce visão do desconhecido.

“Que visão maravilhosa. Vou à biblioteca ver o que tem por lá. ” – A menina pensou, já se levantando.

Não deu tempo para sair da sala. Dois rapazes e uma moça com crachás chegaram e um deles perguntou, cumprimentando-a:

– Bom dia, aluna! Aqui é a sala da professora Rosan, de literatura geral?

– Sim. Com certeza – respondeu, meio desorientada.

– Muito obrigado! – Agradeceu.

O outro moço e a moça colocaram duas caixas lacradas em cima da mesa. Os três agradeceram a moça, despediram e ausentaram.

As pernas da jovem estudante ficaram trêmulas e ela não teve forças para levantar da carteira por um breve momento. Foi um momento surreal. O jovem que lhe dirigiu a palavra, era o lindo rapaz de ombros largos que ela vira de longe pela janela. Ela ficou de boca aberta pela simpatia, educação e beleza. Aquele rapaz visto de perto, qualquer moça perderia o chão.

Quando ele lhe dirigiu a palavra, ela ficou encantada pela voz. Era como um manancial tão agradável que surgia de dentro e inundava o ambiente com o mais gostoso som. Ela falou consigo mesma:

– Que voz! O meu grande prazer seria acordar todos os dias com o som perfeito dessa gostosa e delirante voz. Ganhei o meu dia pelo grande prazer da satisfação de ouvir uma linda voz, por uma beleza tão rara.

A professora Rosan retornou com todos os seus alunos. Ela pediu a ajuda de dois alunos para abrirem as caixas sobre a sua mesa. Eram livros para serem distribuídos gratuitamente, uma Coletânea de poetas regionais.

Todos os alunos foram convocados para uma palestra que aconteceria na semana seguinte, no espaço cultural da cidade. Palestra promovida pela Secretaria da Cultura, com a presença de escritores, professores e palestrantes.

O desafio para os alunos de variadas escolas do município, era tomar como base os variados assuntos da Coletânea, e escreverem contos. Os contos deveriam ser voltados para fatos do cotidiano, de teor educativo. Seriam selecionados os dez melhores contos de cada escola

No dia da palestra, o jovem elegante e a mais nova aluna admiradora se esbarraram. Trocaram olhares, sorrisos e sentimentos de aceitabilidade. No meio de pessoas que se aglomeravam, tentaram se aproximar do outro. Até que enfim, conseguiram trocar palavras e apertos de mãos.

– Lembro-me de você sim, na sala tão só aquele dia. Te copiei – disse ele.

– Me lembro muito bem. E escrevi sobre a beleza que nos aparece no nosso cotidiano quando estamos desapercebidos – respondeu a jovem aluna.

– Sou o mais novo funcionário da Secretaria da Cultura local. Vim de outra cidade e fui contratado como menor aprendiz – expressou o rapaz, com grande interesse na conversa.

Trocaram mais palavras, detalhes e os dois tiveram uma espécie de palestra particular. Para ela, era um sonho tão real quanto a sua força para amar. Ela retornou para casa, nas ruas primaveris, de braços abertos ao vento e aroma do amor. Sentia-se amada, vista, desejada pelos apegos de uma alegria maior.

Ela pensava naqueles olhos chamativos, intensos e profundos, carregados de significados. Era o seu príncipe de olhar único. Seus ombros largos lhe tiravam da sã humildade de seus pensamentos, e ela viajava sabe lá até onde. Ela era toda, prazer entre sorrisos carregados de detalhes maiores. Pensou entre sorrisos por dentro de seu sentimento, naquelas mãos macias apertando as suas, no cumprimento. Aquele jeito de andar tão diferente e mais belo que de todos os garotos. Seus cabelos levemente cacheados, quase lisos e tão perfumados.

Tudo nele chamou a atenção da menina. A voz, o seu cheiro e toda a sua elegância de ser entre os detalhes que ela conseguia decifrar perfeitamente.

Dias depois, já estavam namorando, ainda no calor de uma primavera harmoniosa. Sentindo toda a razão perfeita desse meigo e puro amor. Amor do primeiro rapaz que esperava se eternizar por todos os seus dias. Amor puro, sadio, inocente, mas crescido pelos punhos de uma paixão verdadeira. Amor que cresce e enaltece o sentido verdadeiro de ser.

Agora ela observava os detalhes daquela primavera, na percepção detalhada de um sentimento que sabe amar, crescendo em cada ato e essência de uma bela construção. A menina estava deitada no perfumado lençol que se estendia na grama debaixo das arvores floridas no sentido puro da primavera, entre abraços e aconchegos do único amor de sua vida. Era perfeito o amor de seus dias.

Não, era um sonho tão real contado pelos atos da felicidade. Sorrisos de prazer beijavam as flores da vida e seguiram amando.

Agora, já uma linda mulher vivida, ela compartilhava as razões de uma vida detalhada em amor e paixão.

– Assim foi como eu o conheci. O homem mais lindo do mundo por toda história. O princípio do nosso amor verdadeiro, que é até hoje – dizia a elegante mulher de sorrisos fáceis e face amável.

A garota ao lado, ouvia com muita admiração. Era a filha do amor, que crescia na essência de uma primavera perfeita, nos atos amorosos da vida.

***

Ela amava cuidar das pessoas. Era um bem implícito dentro de si mesma, desde que saíra do ventre. Um dom a favor da vida. Mesmo ainda criança, amava ouvir os choros dos bebês. Logo corria para perto, vê o que se passava. Era uma menina dócil e atenta aos detalhes dos humanos. Tinha os olhos ligeiros e nada fugia aos seus olhares, enxergava com a alma o zelo pelos outros.

Ela queria ser parteira, conselheira, enfermeira. Queria ser alguém especial que estivesse sempre perto dos dramas e alegrias as pessoas. Uma menina ainda tão nova, já era uma caridosa e simpática com todos. Ela era mesmo uma menina cheia de amor e encanto no seu dia a dia.

– Lá vem a filha da parteira e a mais nova enfermeira que socorre a todos com o mais meigo sorriso no rosto, que transcende desde a alma para todos, com singeleza e simpatia no coração. Venham todas, e a levemos direto ao quarto rosa, preparado exclusivamente para ela. Corram, depressa! – Disse a Aniese, com muita alegria, a líder matriarca das enfermeiras.

Todas as colegas de trabalho apelidaram a mais nova enfermeira de Leninha. E a jovem enfermeira Leninha, estava de licença do trabalho há dois meses. Ela fazia falta, não especificamente pelo trabalho que era de suprema importância, mas pela sua meiga interatividade, seu carisma, sua alegria em qualquer momento, seu jeito único de ser e sua presença que causava um diferencial enorme no ambiente.

Leninha estava grávida de uma menina, aguardada por todas com muitos mimos. Agora, no nono mês, retornava ao hospital para parir o seu primeiro fruto no vigor da vida. Fruto gerado e concebido com muito amor e carinho. O quarto cor de rosa e todo enfeitado, foi uma surpresa grandiosa para ela. Ficou estarrecida de tanta alegria.

– Meu Deus! Ai, que isso – disse Leninha, quase gritando ao ser acomodada da maca para a cama, naquele lindo quarto.

Só não sabiam se aquele desespero de contentamento era de alegria pela bela surpresa ou de dor pelo parto. O certo é que a alegria era completa, mais a dela que de qualquer outra pessoa que estivesse por perto. Era o sonho de sua vida sendo tocado pela mais pura realidade.

Todos os dias ela sonhava com bebês em seus braços. Uma enfermeira que fazia questão de estar presente em todos os partos e amava receber os bebês diretos do ventre para repassar aos carinhos abraçados dos pais.

Agora era diferente, era a sua própria filha que vinha ao mundo. Sangue do seu sangue, amor do seu amor, direto do seu próprio ventre, que expelia amor em forma de sorrisos. Ela mesma queria tomar aquela linda bebê, direto do seu ventre aos seus braços. Ela mesma queria tirar, nos beijos dos abraços, com as próprias mãos, mas a dor e a posição não permitiam.

Então, ela queria que fosse direto de suas entranhas aos braços do papai e desde aos seus encantos abraçados e cheios de ternura.

O jovem papai, ao lado e em frente estava inquieto. Não sabia se chorava, se sorria ou tomava as dores de parto da amável mamãe esposa. Surpreendentemente, o seu coração pulsa mais forte com a linda menina chorando em seus braços. A mamãe estende seus braços e recebe a filha do papai. Os pais se beijam com a filhinha em seu regaço. Os três são fotografados.

Era mais uma vitória em suas vidas. Era o nascimento da pequena e amável Vitória, cercada de muito amor e admirada por todas ali. Era mais que um sonho. Era a mais pura realidade de então, sonhada e buscada desde as puras brincadeiras de crianças. Leninha olha pela vidraça da janela e percebe aquela linda chuva regando a beleza das flores. Ela beijou os lábios de seu esposo e adormeceu com a filha de seus cuidados em seus braços, em um belo sono de contentamento.

***

Fazia frio lá fora. Havia chovido a noite inteira, mas o céu ainda estava embaçado. Poderia continuar chovendo o dia inteiro e o tempo continuar nebuloso. Só que o sol poderia despontar e fazer de um dia úmido o mais belo entre muitos. A neblina poderia passar, o vento soprar e o verde conversar com as aves e animais da grande mãe natureza. O dia estava vivo, por certo, mas de certo modo, quase morta a vontade em se levantar e fazer a bagunça necessária de uma adolescente cheia de vigor na flor da idade.

Vitória estava debruçada na janela de seu quarto esperando a decisão do tempo para agir. Ela estava despida da vontade de decidir e ir – ascender no entendimento e compreensão de um todo a viver. Ela olhou para as nuvens, mas nenhuma resposta pôde encontrar em meio àquela contemplação, quase divina na bagunça humana em meio a sua própria desolação matutina. Olhou em volta no interior do quarto e retornou para a cama, pensando:

“Tenho muitos dias para viver, então vou dormir mais um pouco no aconchego da minha indisposição. ”

Enquanto se recusava a sair, mergulhou nos sonhos dentro de si quase como labirintos indecifráveis e desconexos com a realidade montada antecipadamente. Sonhos variados e revirados dentro de seu ser. Desejos da adolescência, pensamentos de uma menina à espera de uma vida toda pela frente. Sabia que tudo estava por vir, o melhor da vida viria em pleno alvorecer de existência contínua. E ela amava tudo isso – presente, passado e futuro emaranhados dentro de si como em um sonho azogueado e em partes como uma queda livre em um abismo interminável. Era ainda a flor da vida sendo desconfigurada como no crepúsculo da morte. Configuração desvairada que atina e desatina. O encanto, a beleza, as descobertas, as angústias, as felicidades, as inspirações e tantas aspirações cotidianamente. São proezas e desproezas à flor da pele, adolescência de virtudes e conceitos perambulantes no caminho do conhecer desconhecido.

Era o início de tudo, entre detalhes, desejos, paixões, descobertas e razões para amar entre todos os detalhes porfiados pelo novelo infinito de uma costura só. Ela iniciava o que nunca tinha sido, assentido e sentido. Quereres prazerosos de subir os degraus e se vê lá de cima. O olhar repentino tão externo no interno de si mesma. Uma meiga e doce menina que seguia a lida da vida com suas paixões entre razões para ser feliz. Os pensamentos revividos lhe vinham à flor da pele. Ardiam e lhe impulsionavam para o néctar do ser.

Se viu na escola quando tinha sete anos de idade. A professora Meire perguntava o que cada um queria ser quando crescesse.

Quando chegou a vez de Vitória, prontamente respondeu:

– Professora, eu quero ser professora tão boazinha quanto a senhora.

Se viu quando tinha nove anos de idade tomando leite com Nescau e biscoito com sua grande amiga Leide, quando bruscamente a jarra de leite virou na cama, molhando todos os lençóis. Foi uma surra daquelas na frente de sua melhor amiga. Que vergonha.

Ela tinha doze anos quando viu a irmã mais nova de sua mãe se casar, e ela ainda conseguiu ser a dama de honra. Foi uma noite para jamais ser esquecida – como não foi – e aqueceu os seus sonhos, que viriam a se concretizar. Pela primeira vez, nunca tinha ganhado tantos elogios em um só dia e muitos olhinhos invejosos lhe devorando. Nem mesmo quando tirava alguns dez na escola.

Agora ela tinha quatorze anos e sabia que não tinha vivido quase nada, só as fantasias de crianças.

Quatorze anos de encanto e formosura. Uma idade de desejos e procuras. Rumo a uma arte de curiosidades e censuras peripécias. Quatorze anos de demora, ao seu entender.

Ela queria que o tempo passasse logo, que o céu desanuviasse, que os pássaros voassem, que os animais corressem, que o sol aquecesse a natureza para ela poder ver novamente os pássaros mergulharem nas águas do córrego. Ela queria que flora e fauna conversassem e que a arte de viver fosse tocada pelo vento e revivesse a intensidade da felicidade nos corações amáveis.

Ela queria sair e encontrar Sol lá fora aquecendo corações, mentes e razões. Queria encontrar vidas cruzando o seu caminho, livres para cantar a mais bela canção dos dias que fluem amor. Ela queria encontrar muitos amigos e amigas pela vida adiante e compartilhar com eles tantas alegrias, brincadeiras e segredos. Queria semear os detalhes da arte no pano de fundo de cada encontro bom.

Do romance infanto juvenil VITORIANA: o início de tudo, de Hertrh Alessantrus.