RP - UM NATAL ATÍPICO - PARTE 1
RETORNO AO PARAÍSO
UM NATAL ATÍPICO
PARTE I
Karen, juntamente com Lucila, Cláudio e Mônica, vai à Missa do Galo na igreja da Paróquia Dom Bosco, ali mesmo no Alto da Lapa, próxima à sua casa. Voltam de lá pouco mais de uma hora na manhã e, logo ao entrar na casa, ela pede a Mônica que a ajude a preparar a mesa para a ceia.
- Lucila, coloque o resto daquelas bolinhas na árvore e depois pode acendê-la, por favor. Este ano está tudo atrasado. Eu até me esqueci dela. Cláudio, você pode ajudá-la, por favor, querido?
- Claro, ele diz, depois de fechar a porta.
Ele percebeu que Lucila está calada desde o início da missa. Os olhos dela ficaram marejados a maior parte do tempo. Depois de um silêncio perturbador, ele arrisca iniciar uma conversa com ela:
- Eu percebi que a senhora... chorou muito durante a missa. O Natal lhe traz alguma recordação triste?
Ela não consegue olhar no rosto dele e responde, enquanto coloca as bolinhas na árvore:
- Não, senhor. Eu só me emociono muito. Por quê?
- A senhora saiu daqui calada e... continua calada.
- Isso acontece em todo Natal. Pra mim é uma festa pra se refletir. Não gosto muito de conversar.
- Eu acho que muita gente se sente assim, ainda mais quando não tem um parente ou um amigo pra compartilhar esse dia, mas esse não é o seu caso agora. É visível que a senhora e Karen se gostam muito e são amigas... Tem muita gente que não tem ninguém nem pra conversar. Ainda sente falta de alguém? Do seu irmão, talvez?
Ela para de fazer o que fazia e olha para ele rapidamente, mas desvia o olhar novamente.
- Como... o senhor sabe disso?
- O Valter me contou que seu irmão morreu há quatro anos. E que ele era seu único parente...
- Ah... ele disse? - ela pergunta, levemente aborrecida.
- Não era pra dizer? Não leve a mal a atitude do Valter. Ele não teria dito, se eu não tivesse perguntado.
- E há mais alguma coisa que o senhor queira saber sobre a minha vida? - ela pergunta com o coração aos pulos no peito.
Ele respira fundo, coloca o pisca-pisca em volta da árvore e o acende. Afasta-se da árvore para vê-la iluminada. Finalmente responde, olhando firme para ela, mesmo com ela estando de costas:
- Há sim... mas não posso perguntar enquanto a senhora continuar se fechando e fugindo de mim.
Lucila sente um frio percorrer sua espinha, ao mesmo tempo em que pressente o olhar dele sobre ela. Tem a impressão de que vai desfalecer.
- Eu... não sei do que o senhor está falando...
- Mas eu sei... Pra mim isso já é o suficiente. Um dia... a senhora vai entender... que esse seu comportamento não ajuda e nem evita uma coisa que mais cedo ou mais tarde vai ter que acontecer. Queira a senhora ou não.
Lucila não quer chorar ali diante dele, mas está prestes a fazer isso.
- Olha pra mim, ele pede, com voz tranquila.
Ela não o faz e tenta sair da sala, mas Cláudio a segura pelo braço. Ela sente seu toque como um choque elétrico.
- Por favor, doutor...
- Pare de me chamar de doutor e de senhor, ele diz, nervoso. – Foi esse o nome que você colocou em mim quando eu nasci?
Lucila fecha os olhos e começa a chorar baixinho, sentindo as pernas fraquejarem.
- Me solte, por favor...
Cláudio a solta. Lucila se afasta cambaleante na direção de seu quarto. Ele passa as mãos pelo rosto e sai da casa indo ficar no carro. Quando Karen e Mônica vêm da cozinha para chamar os dois, não os encontram.
- Ué! Eles não estão aqui, diz Mônica.
- A Lucila deve ter ido pro quarto dela, diz Karen. – Eu vou ver. O Cláudio deve estar aí fora. A porta está aberta. Vá procurá-lo, meu bem.
- Sim, senhora.
Mônica sai na garagem e o vê dentro do carro. A porta do carro lado do motorista está aberta. Ela se aproxima e pergunta sorrindo:
- Sozinho por quê?
Ele olha para ela sério e a puxa pela mão, fazendo-a sentar em suas pernas. Ele se abraça a ela, escondendo o rosto em seu colo.
- Se está com fome, nós já vamos cear, ela brinca, sabendo muito bem que aquele não é motivo da sua tristeza.
- Fica comigo só um pouquinho, ele pede.
Ela atende ao pedido dele e envolve seu pescoço, beijando o alto de sua cabeça.
- O que foi que aconteceu, amor? Diz pra mim...
- Ela tem medo de mim, Mônica.
- Sua mãe?
- É...
- Você falou com ela?
- Tentei, mas ela me evita. Fugiu, logo que entendeu o que eu queria dizer.
- Não deve ser fácil pra ela, Cláudio. Ela deve sentir vergonha de você, é isso. Dê uma chance a ela. Vamos entrar. Quem sabe, durante a ceia, ela se anima.
Eles entram.
RETORNO AO PARAÍSO – UM NATAL ATÍPICO
PARTE 1
OBRIGADA E TENHA UMA ÓTIMA NOITE!
DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!