RP - LUCILA - PARTE 4
LUCILA
PARTE IV
Cláudio ri também da confusão de Karen com o nome da sobremesa de Natal brasileira.
- Mas eu acho que você não pode comer nenhuma das duas, Karen. Nem rabada e nem rabanada. A primeira é bem gordurosa e a última é fritura. As duas vão acabar com seu estômago. Você não acha que está abusando da sorte?
- Não é pra mim, bobo. É pra vocês. Nem todo mundo está doente aqui.
Mônica olha sorrindo para Cláudio.
- Eu sei fazer uma rabanada que não leva óleo. É assada.
- Que ótimo! Você vai me ajudar então. Cláudio, onde você encontrou essa preciosidade? Ela é um encanto. A propósito, você bebe, filho?
- Muito pouco. Depende da ocasião.
- Esta é uma ocasião. Tem tudo que você quiser ali no bar. Cidra, vinho, licor... Sirva-se. Eu vou roubar a sua boneca, diz Karen, levando Mônica para a cozinha.
Cláudio fica sozinho na sala com Lucila e ele disfarça, olhando em volta, admirando a casa. Para não ficar parada diante dele, ela sugere:
- Quer que eu o sirva de alguma bebida?
- Não, obrigado. Eu estou bem.
- Nem um pouco de vinho branco?
- Pode ser... bem pouco. Eu realmente não costumo beber nada alcoólico.
- Sente-se então. Fique à vontade.
- Obrigado.
Cláudio se senta no sofá. Ela vai para trás do bar e trata de servir uma taça de vinho branco para ele.
- Karen sempre falou dessa casa quando me visitava em Casa Branca, mas eu nunca pensei que fosse tão bonita e acolhedora.
- O senhor nunca esteve aqui?
- Não. Eu nunca tinha saído de Casa Branca... até agora. O mais longe que eu ia era até a faculdade de medicina em Campinas. Às vezes, ia a Poços de Caldas também, mas Poços era praticamente o quintal de casa pra mim. Uma hora de carro. Não chega a ser uma viagem.
- Que faculdade o senhor frequentou em Campinas?
- PUC. Junto com o Valter.
Cláudio olha para o quadro grande na parede oposta onde está a pintura de Robin Johnson.
- É o marido dela, não é?
- É sim, senhor.
- A senhora chegou a conhecê-lo?
- Não, senhor. Quando eu vim trabalhar aqui ele já tinha falecido. Mas a senhora Johnson fala muito dele. Parecia ser um bom homem.
- E era. Um grande médico. Eu também nunca o vi de perto, mas Karen sempre me contava tudo que ele fazia, nas cartas que me escrevia.
Cláudio bebe o vinho e coloca a taça sobre a mesinha de centro. Ela pega a taça e fica com ela na mão.
- Obrigado.
- O senhor quer mais alguma coisa?
- Não... No momento, eu só quero que a senhora pare de me chamar de senhor. Cláudio só já está bom.
Ela coloca a taça sobre o bar e sem olhar para ele, hesitante, diz:
- Eu acho que não conseguiria, doutor...
- Por que não? Eu pareço tão velho assim?
- Não, não é isso.
- Então o que é?
Ela olha para ele tentando não parecer tão aflita como realmente está.
- A minha posição nesta casa não me permite isso.
- Karen obriga a senhora a tratar os amigos dela com tanta cerimônia?
- Não, senhor, mas eu sei o meu lugar.
- A senhora trataria o filho dela por senhor, se ele estivesse vivo?
- Sim, senhor.
- Mesmo tendo dezesseis anos?
- Sim, senhor. Ele seria meu patrão. Não importa a idade.
Cláudio fica pensativo. Lucila vai abrir as cortinas da janela e a sala fica cheia da luz do sol que se põe, vermelho, no horizonte. Faz isso para ter o que fazer e conter um pouco do nervosismo. Quer continuar falando com ele, mesmo que seu coração esteja pedindo para que ela saia correndo dali e nunca mais apareça na frente dele outra vez. Não dizer com todas as palavras que ele é seu filho, que o ama e abraçá-lo a está matando por dentro.
- Eu não quero ser indiscreta... mas... vocês vão ter um filho... não é? Você e a... Mônica. Ela... está grávida...
Cláudio apoia as costas no sofá e responde:
- É verdade...
- Pra quando é?
- Maio.
- Ela parece ser tão novinha.
- Ela é. Tem dezessete anos.
Lucila percebe que tocou num assunto perigoso.
RETORNO AO PARAÍSO – LUCILA
PARTE 4
OBRIGADA E TENHA UM ÓTIMO DIA!
DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!