RP - LUCILA - PARTE 1
RETORNO AO PARAÍSO
LUCILA
PARTE I
SÃO PAULO - QUINTA-FEIRA
Naquela tarde, Cláudio e Mônica vão até o hospital Emílio Ribas visitar Karen. Ele procura primeiro conversar com Glauco que é o médico dela, mas o médico já estava a par de tudo. Já tinha conversado com Valter, que lhe explicou tudo sobre a amizade que os dois tinham de longa data.
- A sua visita fez muito bem pra senhora Johnson. Você deve saber que úlcera gástrica pode ser de origem nervosa e a Karen fica muito agitada quando vem pra São Paulo, desde que o marido morreu a quatro anos, daí... Pelo que ela mesma conta, no final dos anos cinquenta, ela vinha muito pra cá, chegou a morar aqui o Brasil, mas ficava no interior. Numa cidade chamada...
- Casa Branca, Cláudio completa.
- Isso mesmo. Lá, ela nunca teve problema. É ou era uma cidade minúscula...
- Ainda é, Cláudio diz, sorrindo.
- Pois é. Lá ela não tinha muito que se preocupar. O clima era maravilhoso, mas São Paulo não é nem um pouco tranquila e o clima... é esse caos que você vê. Chove muito às vezes, faz muito calor às vezes... Só falta nevar. Mas ter te visto ontem, fez ela me pedir, quase obrigar a dar alta pra ela, hoje. Vê se pode? Ela não queria passar o Natal no hospital de jeito nenhum.
- Mas você não pode liberá-la assim, só porque ela pediu, pode? Ela já está forte o bastante pra ir pra casa?
- Eu já liberei. Ela foi pra casa hoje, antes do meio dia.
- Ela já foi pra casa?
- Já, ela esperou que você viesse vê-la cedo, mas como não veio e nós não sabíamos como contactar com você, ela deixou o endereço dela...
Glauco pega numa gaveta uma folha de papel e entrega a Cláudio.
- A senhora Johnson é uma mulher forte. Pelo que Valter me falou, você a conhece bem e deve saber disso...
- Eu sei. Isso é verdade. Mas... o que ela veio fazer aqui no Brasil, em São Paulo especificamente, se não gosta daqui? Eu nem tive tempo de perguntar pra ela ontem.
- Veio tentar vender a casa em que ela mora. Quer se livrar de tudo que possa lembrar o marido e o filho. Pra ela são lembranças muito tristes.
- A Karen vai vender a casa?
- Isso, mas como estamos em época de Natal, acho que vai ser meio difícil ela conseguir isso esse ano.
- É verdade...
- Pois bem, ela foi pra casa, mas está sob um regime alimentar muito rigoroso. Vai ter que evitar os cítricos, bebidas alcoólicas e uma porção de comidas natalinas maravilhosas. Ela foi pra casa, mas vai ver o Natal só pela televisão. Comer com os olhos e lamber com a testa. E tomar muito suco de batata.
Cláudio e Mônica riem.
- É, e ainda bem que ela já tem uma senhora que cuida muito bem dela, continua Glauco. - São unha e carne. Eu nunca vi uma amizade tão bonita. Dona Lucila, um amor de pessoa, mas ela já sabe de tudo isso e do regime rígido que eu dei a Karen, por isso que eu confiei que ela fosse.
- Então, doutor Glauco, o jeito é irmos até a casa dela para vê-la.
- Me chame de Glauco, afinal, somos colegas de profissão. Eu acho que ela já deve estar esperando por você.
Glauco estende a mão que Cláudio aperta.
- Obrigado.
- De nada, disponha. Fico feliz que tenha mais gente pra ajudar a senhora Johnson a se comportar nesse Natal.
Cláudio e Mônica se levantam.
- Até logo, Glauco. Obrigado de novo.
- Foi um prazer conhecê-los e... Feliz Natal, se não os vir até lá.
- Feliz Natal...
Os dois saem do hospital e, no carro, Cláudio diz, enquanto coloca o cinto.
- A Karen está vendendo a casa...
- Está pensando o mesmo que eu? - Mônica pergunta.
- Não quero ser precipitado, mas... Deus está sendo muito bom com a gente.
- Eu tenho pensado nisso desde que vi você na porta da catedral.
Cláudio olha para ela e coloca a mão sobre a dela, beijando-a.
- Se tudo der certo aqui, eu ainda volto pra Casa Branca esse ano e me ajoelho aos pés do seu pai pedindo desculpas.
- Não pensa nisso agora, meu amor. Uma coisa de cada vez.
- Você tem razão... como sempre. Vamos procurar por essa rua... Ajuricaba. Não deve ser difícil.
RETORNO AO PARAÍSO – LUCILA
PARTE 1
OBRIGADA E TENHA UM ÓTIMO DIA!
DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!