RP - ORLEANS - PARTE 8
ORLEANS*
PARTE 8
Laura vê que Gart tem razão.
- É... Você está certo, mas o que eu não aguento é que parece que ele só vê ela lá dentro. Só dançou com ela, desde que entrou lá. Quando você foi dançar com ela, ele ficou o tempo todo olhando pra vocês dois, esperando a música acabar pra sair correndo e chamá-la de novo. E eu estava do lado dele! Não me disse um A. Nem me enxergou. Ele está gamado por ela.
- Gamado?
- Ah, desculpe. Gíria brasileira. Apaixonado. É que você fala tão bem o português que eu esqueci que você é inglês. Eu adoro inglês... A língua, quero dizer. Ah, gente, é a segunda gafe que eu dou hoje.
Gart sorri.
- Da próxima vez. Não se desculpe nem corrija. Eu entendo e, se não entender, eu pergunto. Ok?
- Você parece ter saído de um filme de Hollywood. É tão diferente dos outros. Tão educado. É muito difícil ver um homem educado como você. Aqui na cidade, a gente conta nos dedos. Um dos únicos que eu conheço em Casa Branca é o irmão do Wagner, doutor Cláudio. Ele é assim como você. Você já o conheceu.
- Já.
- Ele é um verdadeiro cavalheiro, só que é casado...
- Um defeito imperdoável, não?
- Se é... ela diz, rindo.
- Agora que você já está melhor, vamos voltar lá pra dentro? Devem estar sentindo nossa falta.
- Eu não tenho vontade nenhuma de entrar lá. Aqui fora, pelo menos, eu não me aborreço. Se você quiser, pode ir.
Wagner aparece na porta da danceteria e procura por Gart. Ao vê-lo, grita:
- Ei, Gart! Que cigarro demorado. Você foi buscar na fábrica? Vem pra cá, rapaz. E você, Laurinha. Vem também.
- Eu já vou, ele diz.
Wagner entra. Gart pergunta:
- Se eu te convidar pra dançar agora, você entra?
- Dançar comigo?
- Não estou vendo mais nenhuma garota aqui.
- Poxa, claro que aceito.
Ele vai de novo até o carro de Wagner, abre e pega o cigarro que tinha dito que ia pegar. Coloca no bolso da jaqueta, pega Laura pela mão e entra com ela.
Quando os dois entram, Linda e Leo ainda estão dançando. Laura respira fundo, sorri para Gart e eles começam a dançar.
Enquanto isso, Wagner está deitado com a cabeça no colo de Janete e observa os dois da mesa.
- Que rolo! Está tudo trocado.
- Se o teu amigo não estivesse com a Laura, ia sair briga aqui hoje, diz Janete, enrolando os dedos nos cabelos dele.
- Nem me fale nisso. Eu não quero nenhum dos dois envolvidos em confusão no primeiro dia de Brasil. O Leo não tem jeito mesmo... Está dando em cima da Linda descaradamente.
- Parece que ele parou na dela.
- E eu tenho que evitar isso. Antes mesmo de respeitar a Linda, ele tem que pensar na Laura. A garota não merece isso.
- Você não vai pensar nisso agora, ela diz, fazendo-o olhar para ela. - Não tem nada que se meter. São todos maiores de idade. Fique quieto aqui mesmo.
Ele sorri e ela o beija. Sandra e Beto se aproximam dos dois.
- Que é que é isso? Aqui não é drive-in, não! O Orleans é uma casa de respeito!
Wagner e Janete interrompem o beijo e ele se senta.
- Vai encher sua mãe, Beto, me erra. Cadê o Guto?
- Com o Nelson na sala de som.
- Só podia. Aposto que é ele que está escolhendo essas músicas de velório. Manda tocar alguma coisa que preste. Bota lá alguma coisa do meu vizinho em Londres.
- Teu vizinho em Londres? Boiei. Quem?
- Quem é o teu vizinho em Londres, amor? - Janete pergunta.
- Vocês vão ver só.
Ele se levanta e sobe até a sala de som e em alguns minutos a música romântica para e começa a tocar “Crocodile Rock” de Elton John.
A turma leva na brincadeira no início, mas ficam todos boquiabertos quando Linda confirma a estória.
- Está com a bola toda, hein, cara?! - diz Guto.
- Traz mais refrigerante, Brito! Hurry up, please!
A gozação é geral. No meio de toda algazarra, Linda sai do meio da confusão e vai para fora, sozinha. Gart a vê sair e discretamente sai atrás.
RETORNO AO PARAÍSO – ORLEANS
PARTE 8
OBRIGADA E BOA TARDE!
DEUS ABENÇOE A TODOS!