RP - ULTRASSOM - PARTE 19
ULTRASSOM
PARTE XIX
Tânia se afasta do marido e vai sentar-se à mesa da mãe.
- Você vai se arrepender disso... Se a gente não levar essa criança pra casa agora...
- O quê? O que você vai fazer? - ele pergunta calmo, se apoiando na mesa.
- O que eu prometi. Eu digo pra minha mãe agora que você não quer adotar o Lucas porque já tem, como você mesmo disse, um filho a caminho. Eu conto a história toda.
- Faça isso, por favor, aliás... eu mesmo vou fazer, agora mesmo. Já cansei a muito tempo das suas ameaças.
Ele vai para a porta e ela se adianta, ficando na frente dele.
- Não! Por favor, não faz isso.
- Mas não é isso que você quer fazer?
- Não... ela diz com atitude totalmente diferente.
Cláudio estranha.
- Eu não falo mais em adoção... mas não me deixa... Por favor... não me deixa.
- Isso não tem sentido, Tânia. Afinal de contas o que você quer de mim?
- Eu quero você do meu lado, ela diz. - Você me deve isso.
Tânia o beija apaixonada. Bárbara entra nesse momento e sorri ao ver aquela cena aparentemente tão terna.
- Ah, desculpe interromper, crianças. Vejo que já se entenderam.
Ela se afasta dele e ajeita os cabelos, fingindo constrangimento.
- A gente conversou, mamãe, e... decidimos que não vamos levar o Lucas ainda hoje. A gente vai pensar mais um pouco... Quem sabe pensamos nisso no início do ano que vem. Eu acho que me precipitei, não é, amor? Eu entendi os motivos do Cláudio e concordei com ele.
Ela passa a mão, carinhosa, pelo rosto dele e o beija de novo.
- Que pena, é uma criança tão bonita e combina tanto com vocês. A mãe tinha dezessete anos, imaginem. Uma criança, como a Mônica.
- Por falar em Mônica, mamãe, sabia que o Wagner voltou?
- É mesmo? Esse garoto tem uma estrela muito brilhante sobre a cabeça e um anjo da guarda bem iluminado. Ele voltou bem na hora em que descobrimos que ele não tem mais nada a ver com Mônica e quando ela vai se casar com o doutor Miguel. Ele está bem, Cláudio?
- Está... Está sim. Bárbara, me desculpe pela precipitação da Tânia em pensar em adotar o bebê sem falar comigo antes. A gente não pode fazer uma coisa tão séria como essa agora. Espero que você entenda.
- Eu entendo. É uma decisão muito séria mesmo e tinha que ser tomada a dois.
- Bem, então eu vou voltar pra casa, diz Tânia. – Você vai ficar, amor?
- Vou.
- Me acompanha até o carro?
- Claro. Bárbara, eu já volto.
- Eu te espero pra irmos juntos ver as crianças.
- Eu não demoro.
Eles saem juntos de mãos dadas e, ao chegar ao carro, ele abre a porta para ela, mas antes que ela entre, ele segura seu braço e a impede de entrar.
- O que você pretende com esse joguinho de gato e rato?
- Do que você está falando, meu bem? - ela pergunta, fazendo-se de inocente.
- Você me ameaça e depois... fica suave como seda. O que você quer?
- Eu quero você do meu lado. Você não ainda não entendeu? Eu te amo. Eu sei que a sua vida vai acabar depois que você revelar o que fez pra nossa família. Estou só querendo prolongar sua felicidade mais um pouco. Não dá pra entender isso?
- Se você me desse o desquite, a minha vida podia ter outro rumo e eu poderia fazer o que tenho que fazer com decência e tranquilidade também. Eu sairia da cidade com a Mônica e...
- Não... Isso nunca, ela diz com dureza na voz. - Eu não vou perder você pra ela. Essa é uma parte da história que você também tem que entender.
- Você é que não entendeu... Não é questão de perder. Eu nunca fui seu.
Ela retira o braço da mão dele e entra no carro, fecha a porta e diz:
- Eu venho te buscar à noite. Você está sem carro.
- Não precisa, eu posso ir a pé até a cidade ou com a Bárbara.
- Ela também está sem carro. Me espera mesmo assim.
Ela coloca o carro em movimento.
- Tânia!
O carro se afasta em velocidade. Ele entra no orfanato e vai direto para o berçário. Ali estão no momento cerca de cinco bebês que aguardam adoção. Irmã Ruth está sentada numa cadeira lendo a Bíblia e cuidando deles. Ao ver Cláudio entrar, sorri.
- Boa tarde, doutor, ela diz com voz suave.
- Boa tarde, irmã. Eu sei que a Bárbara deve ter trazido pra cá agora a pouco um bebê... Lucas...
- Trouxe sim, ela diz.
Ela coloca a Bíblia sobre o colo e aponta para o primeiro berço, perto dele.
Cláudio olha para o berço e vê o bebê dormindo. Aproxima-se e fica olhando para ele por algum tempo.
- Ele... é saudável? Já foi examinado por um médico?
- Já, doutor. Ele veio da Santa Casa de Rio Pardo, anteontem. É saudável sim. O avô o trouxe pra cá. Disse que a filha faleceu no parto e ele não vai poder criá-lo, porque a família já é muito grande e pobre. O pai desapareceu da cidade. É mais um anjinho que ninguém quer.
Cláudio toca a manta azul e pensa na imagem da filha no monitor do ultrassom no consultório de Miguel.
RETORNO AO PARAÍSO – ULTRASSOM
PARTE 19
OBRIGADA E BOM DIA!
DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!