RP - TESTAMENTO - PARTE 24
TESTAMENTO
PARTE XXIV
Gart olha para a cadeira onde Dick estava sentado e se lembra de não ter falado com ele nem tê-lo visto sair.
- Por falar nisso... pra onde foi o Dick Henning?
- Quem?
- O diretor do Saint Laurent.
- Ele deve ter saído de fininho quando descobriu que cometia bulling com o neto do patrão. Eu não queria estar na pele dele agora.
Gart vai para a porta.
- Eu tinha muita coisa pra falar com ele. Não queria perder esse homem de vista.
Ele sai do escritório com intenção de ainda achar Dick na casa e o encontra na garagem da mansão, tentando desesperadamente fazer o motor do carro funcionar, sem sucesso. Gart se aproxima dele e pergunta:
- Algum problema, Dick?
O homem se assusta e olha para ele.
- Não, nenhum.
Continua tentando fazer o carro pegar, mas não obtém resultado algum.
- Eu posso tentar? - Gart pergunta, querendo sinceramente minimizar seu desespero.
- Não, obrigado.
- Eu entendo um pouco de carros. Pelo barulho... Ele tem gasolina?
Dick olha para o medidor do tanque e encosta a testa no volante.
- Não, está sem nada. Eu pensei ter enchido o tanque...
Ele sai do carro e coça a cabeça totalmente perdido.
- Meu Deus!
Wagner se aproxima deles.
- Que aconteceu? Algum problema?
- O nosso amigo está sem gasolina, Gart diz, sorrindo.
- Eu posso chamar um táxi, diz Dick. - Não se preocupem comigo.
Dick sai andando pela alameda que leva até o portão principal e a neve começa a cair. Ele olha para o céu, tenta puxar a gola do paletó para proteger pelo menos o rosto e continua andando. Gart puxa o capuz de seu casaco sobre a cabeça e ri discretamente. Wagner faz o mesmo com o seu.
- Coitado, Gart, você vai deixar ele ir a pé pra casa nessa nevasca toda?
- Por mim, ele iria plantando bananeiras.
- Isso não é cristão...
- O que ele fazia comigo no orfanato também não era.
- A gente acabou de falar que o fato de você estar vivo era um milagre... Se eu fosse você, faria alguma coisa por ele... senhor milagre.
- Você acha que eu devo pegar o carro e levá-lo em casa... patrão? - pergunta ele, com ar gozador.
Wagner olha para ele e responde sorrindo seguindo sua linha de pensamento.
- É uma ordem. Isso pode te levar de volta pro céu...
- Então, eu vou fazer isso, Gart diz, depois de um suspiro. - Mas só pra você ter uma ideia, esse homem só não rasteja porque Deus é tão bom que lhe deu pernas. Ele é uma cobra. Eu tenho medo que ele me morda no caminho.
Wagner ri.
- Vou repetir: você é um milagre. Talvez consiga até neutralizar o veneno dele, se ele te morder. Vamos ter fé.
Gart olha para a neve que cai, pega um dos carros e vai atrás de Dick. Ele o encontra já há alguns metros da casa, todo molhado. Para o veículo e pede:
- Entra aí, Dick.
O diretor se volta para o carro e abaixa a cabeça para ver quem falou. Ao ver que é Gart, continua andando.
- Não, muito agradecido. Eu posso ir de táxi, já disse.
Gart continua dirigindo bem devagar a seu lado.
- Deixa de orgulho, homem. Você vai pegar uma pneumonia. Eu não vou te fazer nada. Entra no carro. Eu te levo até sua casa.
Dick não responde.
- Do que você tem medo? De mim ou da sua consciência?
- Por que você não volta pra sua mansão e me deixa em paz? Eu não te pedi nada. Você já é um milionário. É neto de Mr. Russel. Já deve estar rindo o suficiente de mim e pode me colocar debaixo dos seus pés quando quiser.
- Quem está se colocando debaixo dos meus pés é você. Eu estou só te oferecendo condução. Está nevando demais. Entra no carro logo. Você vai ficar doente. Orgulho não faz bem à saúde.
RETORNO AO PARAÍSO – TESTAMENTO
PARTE 24
OBRIGADA E BOM DIA!
DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!