RP - TESTAMENTO - PARTE 12

TESTAMENTO

PARTE XII

Cláudio franze a sobrancelha ao ouvir o nome de Miguel e retoma o fôlego.

- O... Miguel?

- Ele mesmo.

- E... como o senhor chegou a essa conclusão?

- Eu fui até a Santa Casa, ontem à noite, pra conversar com o diretor sobre as doações de suprimentos que faço todo mês pra eles e, ao sair do elevador, deparei com minha filha aos beijos com ele.

Cláudio fica branco e encosta-se na cadeira.

- A Mônica estava... beijando o Miguel?

- Isso mesmo. Eu quase caí de costas. Aquele safado nem conseguiu negar.

- E... ela? Ela confirmou?

- Não, claro que não, ela quis negar, como tem negado desde que eu descobri essa gravidez, mas eu não acredito em mais nada que minha filha diga e estava na cara deles. Eles vão se casar dentro de uma semana. Não vou esperar nem correrem os proclamas. Digo ao tabelião no cartório que ela vai viajar e ele apressa as coisas pra mim. Uma boa colaboração em dinheiro e tudo se resolve.

- Eu não... acredito nisso... O Miguel?

- Foi difícil pra mim também acreditar. Eu confiava no doutor Miguel como confio em você. Mas agora eu sinto que esse casamento vem bem a calhar. Ele é solteiro, maduro e um bom partido. É um bom médico também. De certa forma, eu estou até satisfeito. Ele me decepcionou, mas eu gosto dele. Acho que será um bom genro, se minha filha tiver juízo.

- Mas ela não disse... que o pai do bebê era... casado?

- Mentira. Foi só pra tirar o foco, primeiro do coitado do seu irmão e depois dele.

As mãos de Cláudio começam a tremer e ele cruza os dedos para tentar parar o tremor.

- Fico... feliz que o senhor tenha descoberto, mas essa notícia... me surpreendeu também. Eu gosto demais do Miguel e... não esperava isso dele.

- Mas tudo vai acabar bem. Vai dar tudo certo. Pelo menos colocaremos um fim nessa novela.

- O senhor... já falou sozinho com ela pra... saber o que ela pensa desse... casamento?

- Vai ser o melhor pra ela. Mônica não tem que achar nada. Ela é menor e vai ter que fazer o que eu quiser. Obrigado por ter vindo. Eu precisava dividir isso com alguém amigo que soubesse do que está acontecendo e estivesse envolvido. Peço desculpas pelo seu irmão. Você me impediu de cometer uma injustiça.

Cláudio se levanta, dá a volta na cadeira, mal conseguindo controlar as pernas.

- O senhor ainda precisa de mim? Eu tenho que...

- Claro, não, pode ir. Eu sei que você deve estar ocupado. Obrigado.

Cláudio sai da sala rapidamente e sai do prédio sem falar com ninguém, indo até seu carro. Entra no veículo tonto de raiva e de espanto e apoia a cabeça nos braços apoiados no volante. Procura respirar, levanta a cabeça e liga o carro. Dirige até a Santa Casa e entra no prédio, o mais normalmente possível. Sobe as escadas correndo e vai até o primeiro andar. No corredor, ele vê Miguel que vem ao seu encontro e diz:

- Eu preciso falar com você.

Cláudio olha para ele sério, sem dizer nada. Miguel nota que ele está diferente.

- Você já sabe, não é?

Cláudio não responde. Sua respiração está alterada. Ele morde o lábio inferior e passa por ele ainda em silêncio. Miguel segura seu braço.

- Espera, Cláudio...

- Me solta! Tira a mão de mim! - ele diz, entre dentes.

- Cara, não me julgue antes de me ouvir. Deixa eu explicar...

Cláudio tira o braço de sua mão bruscamente.

- Você pode até tentar, mas não sei se vai conseguir.

- Vamos até meu consultório, por favor, pede Miguel.

Ele concorda. Vai à frente e abre a porta com violência, entrando. Miguel entra atrás dele e fecha a porta atrás de si. Cláudio se volta e olha para ele fixamente, ainda muito alterado, o que torna sua situação um pouco mais difícil.

- Quer me bater agora ou vai esperar eu explicar? Eu já estou preparado, diz Miguel fechando as mãos.

- Eu não quero te bater. Eu quero te matar!

- Você é médico. Não foi isso o que você jurou na formatura.

- É a única coisa que está te salvando agora. Quer me explicar o que você tem na cabeça, Miguel? Pensei que você fosse meu amigo.

- Eu sei que não foi certo o que eu fiz, cara, mas... eu estou com vontade de fazer isso desde que a Mônica me disse que estava grávida de você. E olha que ela só me disse por que eu sou o médico dela e, antes disso, Cláudio, eu sou amigo dela. Ela quis desabafar. Essa... carapaça de garota liberada e independente que ela veste esconde uma menina frágil de dezessete anos. Ela ficou muito assustada quando descobriu a gravidez. Tão assustada que inventou aquela festinha de aniversário e envolveu até seu irmão na história pra tentar tirar os holofotes de cima de você.

Cláudio se apoia na mesa para tentar se acalmar.

- Senta aí, Miguel pede.

- Eu não quero sentar.

- Senta! Eu não quero que você tenha um treco aqui no meu consultório. Senta logo.

Cláudio senta pesadamente na cadeira.

- Eu tenho vontade de...

- Você não tem vontade de nada. Essa raiva que você está sentindo não é de mim. É de você mesmo. Eu fiz isso pra te fazer reagir. Ver todo dia aquela barriga crescer e você não fazer nada...

- Eu não podia fazer nada!

- Eu sei! Eu soube da promessa que ela fez você fazer e ela me trancou também dentro do meu próprio juramento de médico...

- O doutor Jairo pensa que você é o pai... Você quebrou seu juramento na forma mais canalha, me traindo!

- É... eu não tinha intenção de que isso acontecesse, mas ele... entrou na recepção justamente no momento em que eu...

- Você o quê?

- Eu estava beijando ela, mas foi um beijo inocente, juro.

Cláudio se levanta e o agarra pelo colarinho do jaleco, empurrando-o contra a parede oposta.

RETORNO AO PARAÍSO – TESTAMENTO

PARTE 12

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 10/03/2018
Código do texto: T6275647
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