RP - TESTAMENTO - PARTE 10

TESTAMENTO

PARTE X

Cláudio olha para o pai para ver sua reação. Leonardo franze as sobrancelhas e toma um ar preocupado.

- Morreu? Como?

- O Wagner disse que talvez tenha sido enfarte. Não é certeza ainda. Ele foi enterrado ontem à tarde.

Leonardo cavalga sem dizer nada por um instante.

- Por que será que nem isso me deixa aliviado? A impressão que eu tenho é que, mesmo no túmulo... ele me persegue, me vigia. Ele deve ter deixado um testamento. Wagner falou alguma coisa sobre isso?

- Não e nem deu a entender que sabe de alguma coisa a mais. Tudo está muito recente ainda.

- O que ele tem a dizer deve estar nesse testamento. O velho devia saber que seu tempo era curto e deve ter deixado tudo escrito nele. Ele ainda pode acabar com a minha vida... através do meu filho. E, nesse momento, eu não posso nem pensar em tirar o Wagner de lá.

- Também acho que não. Agora é que ele tem que ficar. Com certeza está incluído nesse testamento e pode até ser milionário agora. Já pensou nisso?

Leonardo olha para ele, mas não responde.

- Ainda mais que... o Wagner disse que começou a gostar dele. Do jeito que o meu irmão estava ao telefone, eles devem ter feito amizade. O Wagner estava muito mal. Triste mesmo. Ele não sentiria tanto, se não tivesse acontecido isso. Mr. Russel o levou pra lá, não pra colocá-lo contra você, mas pra trazê-lo para perto dele. Wagner era um laço que o unia à neta. Queria conhecê-lo pra ter certeza que ele merecia ser seu herdeiro, pra não entregar a fortuna nas mãos de alguém que não conhecesse.

- Ele fez isso pra se vingar de mim, da forma mais sutil que existe.

- Você conquistou a neta dele e ele conquistou seu filho. Você não pode mais impedir isso.

- Eu vou perder meu filho, Cláudio.

- Não, perder não. Perder é uma palavra muito dura, muito forte. Tem alguma coisa nessa história que eu ainda não sei, mas você me contou muita coisa que podia me fazer te odiar também e você não me perdeu, não é? A menos que eu não seja filho de Christy Russel... nem seu.

Leonardo olha para ele rapidamente.

- Claro que você é meu filho. Nunca mais diga isso... entendeu?

- O Wagner já sabe que eu não sou filho dela.

- Aquele velho... maldito!

- Pai, ele está morto e isso não é mentira. O Wagner ia saber mais cedo ou mais tarde. Não vai adiantar nada você ficar maldizendo o velho agora.

- Como seu irmão recebeu essa notícia?

- Me bombardeou de perguntas que eu disse que não responderia pelo telefone, mas, se a explicação não estiver nesse testamento, ele vai querer saber tudo de nós dois quando voltar. De certa forma, ele meio que já desconfiava de alguma coisa. Eu nunca respondia direito às perguntas dele quando a gente falava dela aqui no Brasil. Eu não gostava dela e isso nunca foi segredo, nem pra você.

- Dessa parte da minha vida, eu nunca vou conseguir me perdoar. O que Christy fazia com você não vai sair da minha cabeça nem depois que eu morrer.

- Eu já te pedi pra esquecer isso, pai. Se eu tivesse que culpar alguém, culparia Wagner Valle, que me trouxe pra fazenda quando bebê, mas ele também já está morto, então esqueça.

- Eu não mereço os filhos que tenho, mas morreria por cada um de vocês.

- Então acalme-se e confie no Wagner. Eu já te disse isso. Ele está num mar de rosas e não sabe nem metade do que o espera. Ele não pode culpar você por ter lhe dado o nome, educação, carinho, tudo que alguém pode querer. Até eu ficaria contra ele, se ele se voltasse contra você agora.

- Que Deus te ouça...

- Já está ouvindo, pai. Ouvindo e vendo.

Leonardo coloca a mão sobre a dele na sela do cavalo e sorri.

- Obrigado, filho...

- Eu é que te agradeço todo dia, pelo homem que eu sou agora.

Eles ficam em silêncio por um momento e de repente, Cláudio respira fundo, acaricia levemente o pescoço do animal e propõe:

- Já que você me colocou em cima de um cavalo... Lembra quando a gente apostava quem chegava primeiro em casa?

- Você tinha quinze, dezesseis anos, rapaz.

- Mas não monto todo dia como você. Vamos tentar?

- Eu não sei... Leonardo diz, indeciso. – Eu posso ter um enfarte no caminho.

Cláudio ri.

- Não tente desconversar, Leonardo Valle. Você tem cinquenta anos e uma filha de cinco. Não fique aí se lamuriando.

- Vamos apostar o quê? - Leonardo pergunta, começando a correr.

- Isso não vale, pai! Você está roubando!

- Vale, claro que vale! - Leonardo grita.

Cláudio entende o trocadilho, sorri e começa a correr também atrás do pai.

- Aposto um engradado de cerveja! - grita o velho fazendeiro.

- Eu não bebo!

- Mas eu bebo e ele já é meu!

- Roubando, até eu ganhava...

Os dois disparam na corrida e em pouco tempo chegam à frente da casa grande. Leonardo na frente.

RETORNO AO PARAÍSO – TESTAMENTO

PARTE 10

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 09/03/2018
Código do texto: T6274700
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