RP - TESTAMENTO - PARTE 4

TESTAMENTO

PARTE IV

Garret toca a mão da velha senhora, que é macia como seda, e a retira de seu rosto, com educação, mas firme.

- É um voto de confiança gratuito... e é isso que eu não estou entendendo.

- Nós confiamos em você, mas você não confia em nós, é isso? - pergunta Mr. Russel.

Ele fica em silêncio novamente.

- Bem, é justo, diz o velho. – Nesse caso, eu lhe dou uma oportunidade de descobrir se a minha proposta é honesta. Você irá conosco e ficará na mansão por um mês. Se achar que há algo errado em tudo que eu estou lhe propondo, poderá sair de lá e ir pra onde bem entender.

- Mas eu não tenho dúvida a respeito da proposta dos senhores e entendi o tipo de trabalho que querem que eu faça. Tenho dúvida do motivo que os fez vir até aqui e me escolherem entre tantos garotos.

- Ah, já entendi, fala Mr. Russel, sorrindo. – Você tem seu orgulho e pensa que estamos ajudando você por pena, acertei?

- Se não há outro motivo mais sério, só pode ser isso. E eu não vou sair daqui pelo mesmo motivo que entrei. Seria perder a outra metade da minha vida.

- Você acha que perdeu a metade da sua vida aqui dentro? - Mrs. Russel pergunta.

- Acho, sim, senhora.

- E eu posso saber o motivo? - o velho pergunta, com alguma tristeza na voz.

- Porque eu não posso considerar minha, uma vida que é igual a de outras centenas de crianças. De manhã à noite, a mesma coisa, sempre tudo igual, como se nós fôssemos um bando de bonecos de madeira dentro de uma caixa de brinquedos.

- É por isso que você não gosta daqui? - ela pergunta.

- É um dos motivos, senhora.

Mr. Russel dá as costas e vai se sentar novamente.

- Você gostaria de conhecer sua mãe... se fosse possível? - Stace pergunta.

Os olhos de Garret brilham e ele demora um pouco para responder. Passou a vida inteira pensando naquela possibilidade. Finalmente, magoado, responde:

- Não, senhora...

- Por que não?

- Eu não preciso mais dela... se estiver morta... E se estiver viva... só seria um motivo a mais pra odiar isso tudo.

Mrs. Russel se afasta dele e vai para perto da janela, tentando conter as lágrimas. O velho se levanta e se aproxima dele outra vez.

- E se eu te disser que não é pena o que está me levando a convidá-lo para ser um empregado nosso? Você me daria um voto de confiança?

- Claro, senhor.

- Sem me perguntar qual é o verdadeiro motivo?

- Há um verdadeiro motivo?

- Há... mas eu não posso revelá-lo agora... nem a você nem a ninguém. Aceita minha proposta?

Mrs. Russel olha para ele, suplicando com os olhos que ele aceite. Garret responde:

- Sim, senhor.

- Fico muito satisfeito com isso, ele diz sorrindo, batendo em seu ombro.

- Eu também, Stace diz, feliz, aproximando-se do rapaz e lhe beijando o rosto.

Garret não sabe o que fazer depois de uma reação tão efusiva da velha senhora.

- Agora, me responda, garoto, quem estava ganhando a luta? - Mr. Russel pergunta.

O rapaz sorri.

- Eu não sei, senhor, o diretor Henning nos interrompeu.

- Então volte lá e termine o que começou. Depois me conte o resultado.

Garret estranha a ordem. Mr. Russel fica sério e reitera:

- Vamos! Está esperando o quê?

- Mas, senhor...

- Vá logo!

- Sim, senhor.

Ele sai da sala em dúvida. Ao passar por um dos corredores, encontra-se com Dick Henning que segura seu braço e pergunta:

- E então? Gostou da bronca?

Garret olha para a mão dele em seu braço e apenas responde:

- Adorei. Já tenho até um castigo a cumprir, com licença.

Dick solta seu braço, olhando-o desconfiado.

Como os garotos não estão mais no refeitório, ele sobe para o quarto. Quando entra, todos estão conversando tranquilamente, deitados em suas camas e param ao vê-lo entrar. Ele se aproxima da cama de Lenny que está folheando o livro que ele lia, a esmo, e pergunta:

- Você quer continuar o nosso assunto?

Lenny olha para ele, debochado, e fecha o livro colocando-o sobre o peito.

- Sai pra lá, bibelô. Eu já estou cheio da tua cara.

- Então venha desfazê-la. Você não queria saber se eu era melhor que todo mundo na briga também? Eu vim provar... e me testar. Vou precisar disso no futuro. Vem.

Garret tem os punhos fechados, mas não ergue mãos. Lenny olha para ele e para todos em volta e, com um sorriso inseguro, diz:

- Ora, a bronca do velho foi tão dura assim que te deixou meio maluco, é?

- É, eu fiquei meio tonto sim. Levanta logo.

- Você está procurando encrenca rapaz...

- Como você há vinte minutos. Vai levantar ou vai mostrar pro pessoal que o bibelô é melhor que você, mesmo sem brigar?

Lenny joga o livro longe e se atira sobre ele. Os dois caem no chão. Garret por baixo no início, mas, aos poucos, ele vai dominando Lenny. A luta dura uns cinco minutos em meio aos gritos dos rapazes que agora torcem por Garret.

Lenny aos poucos vai se cansando e leva a maior surra de sua vida. Logo fica estirado no chão e Garret para de bater, pois ele não reage mais. Machucado também, mas satisfeito, o rapaz se levanta e diz:

- Pode deixar, nunca mais faço isso. Desculpa o mau jeito.

Dick aparece novamente, no momento em que Garret passa por ele pela porta.

- Acho que o Lenny precisa de ajuda...

Ele sai do quarto sob os aplausos dos rapazes e vai para o lavatório. Joga água sobre a cabeça, lava o rosto e se senta no chão, quase desmaiando, mas rindo muito.”

RETORNO AO PARAÍSO – TESTAMENTO

PARTE 4

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 07/03/2018
Código do texto: T6272778
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