RP - TESTAMENTO - PARTE 3

TESTAMENTO

PARTE III

Mr. Russel ergue as sobrancelhas, admirado com a coragem do rapaz de dizer que não gosta de nada no orfanato, na frente dele.

- Que insolência! - exclama Dick.

- Não se meta, Dick, fala Mr. Russel calmamente, sem tirar os olhos do rapaz. – Na próxima interrupção, você vai sair da sala.

O velho volta a se dirigir a Garret.

- Então você não gosta daqui?

- Não, senhor.

- É maltratado?

- Não... fisicamente não... ele responde, sentindo a garganta seca.

- Mas é de outra maneira?

Garret chega a se arrepender de ter dito aquilo e tenta minimizar a sua declaração.

- Eu não disse isso, senhor.

- Deu a entender, o velho diz, com um leve suspiro de impaciência.

Ele percebe que o rapaz não está querendo falar, intimidado pela presença do diretor e pede:

- Dick, por favor, vá ver se está tudo em ordem com os meninos lá fora.

- Mas, senhor, eu gostaria...

- Vá procurar o que fazer. Você já fez o que eu mandei, agora pode sair. Eu quero conversar com o rapaz, por favor.

- Sim, senhor... Com licença, senhor.

Dick olha torto para Garret, e, a contra gosto, sai da sala. Mr. Russel senta-se atrás da mesa e observa o garoto de uma maneira que o deixa envergonhado. Ele olha para a porta, com uma imensa vontade de sair correndo dali.

- Você quer ir embora?

Garret não responde. Para Mr. Russel aquele silêncio soa como um “sim”.

- Não vou demorar muito... Que idade você tem?

Garret estranha essa pergunta, pois, sendo donos do orfanato, seria natural que soubessem sobre tudo da vida de cada criança que vive ali. Mesmo assim, responde:

- Quase dezoito, senhor.

- Quase quanto?

- Eu completo daqui um mês.

- Vai ter que sair daqui em breve, sabia?

- Sim, senhor.

- E já sabe pra onde vai?

- Não tenho muita certeza ainda, senhor.

- Não tem nenhum plano? - Mrs. Russel pergunta, com voz terna.

- Eu... pretendo arrumar um emprego primeiro, depois fazer planos, senhora.

- Que tipo de emprego?

Garret começa a ficar nervoso com tantas perguntas.

- Qualquer um.

- Estamos aborrecendo você?

- Não, senhor... responde ele, corando. – Só não estou acostumado a responder tantas perguntas de uma vez só. E não gosto disso.

- Bem, então vamos abreviar a conversa, o velho diz, levantando-se e vindo ficar novamente em sua frente. – Você vai vir trabalhar na minha casa.

As pernas de Garret começam a tremer.

- Como, senhor?

- Você vai receber treinamento especial para ser futuramente um dos meus guarda-costas.

- Guarda-costas, senhor?

- Isso mesmo. Algum problema? Você mesmo acabou de dizer que qualquer emprego serve e, se estava brigando com um interno agora, sabe lutar. Estou enganado?

Garret não sabe o que dizer.

- Você vai ser pago pra defender a mim e a minha casa.

- Mas... por que eu? Há pelo menos mais uns quatro garotos aqui no Saint Laurent que vão completar a maioridade como eu e vão sair também...

- Mas nós achamos que deve ser você e só vou mudar de ideia se você disser que não quer ir.

Garret não responde e olha para Mrs. Russel que se aproxima dele com um leve sorriso nos lábios e toca seu ombro.

- E então? Qual é a resposta?

Ele está tão surpreso que as palavras quase não saem de sua boca, mas o que consegue dizer é surpresa até para ele mesmo.

- Não, senhora.

- Não?! - o casal pergunta em uníssono.

- Por que não? - Mr. Russel pergunta.

- Eu preciso ter... um bom motivo pra sair daqui e ir direto pra casa dos senhores como se fosse um velho conhecido. Os senhores não sabem nada a meu respeito. O que sabem é o que está escrito nas fichas que o diretor Henning elabora e, pelo que eu sei, ele não costuma fazer nenhuma espécie de elogio a meu respeito. Ele não gosta de mim.

- Dick implica com todos os garotos aqui dentro, fala Mrs. Russel. - Ele não gosta de nenhum deles. Eu sei que você não é nada do que está nas fichas do seu prontuário. Eu percebo nos olhos de uma pessoa se ela é ou não aquilo que dizem e você não é um mau garoto.

- Eu acabei de brigar com um interno lá fora, senhora.

- Ele o provocou. Você mesmo disse.

- Eu posso estar mentindo.

- Não, nós acreditamos em você, ela fala tocando seu rosto e sorrindo.

Garret toca a mão dela, que é macia como seda, e a retira de seu rosto, com educação, mas firme.

RETORNO AO PARAÍSO – TESTAMENTO

PARTE 3

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 07/03/2018
Código do texto: T6272777
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