RP - TESTAMENTO - PARTE 1

RETORNO AO PARAÍSO

TESTAMENTO

PARTE I

LONDRES

O caixão de Mr. Russel sai da mansão para o mausoléu da família carregado por Peter, Teo, Neil, Bob, Gart e Wagner. Grande parte dos maiores empresários de Londres e de cidades vizinhas compareceu trazendo seus sentimentos. Wagner se vê totalmente perdido no meio de tantos homens de negócio, comerciantes e administradores de fazendas.

É um grande alívio ver o último carro descer a alameda e sair da mansão. Entra na casa, senta-se num sofá e chora tudo que não chorou desde que o avô foi colocado no caixão.

Gart entra na sala, também muito abalado ainda, mas não consegue chorar. Senta-se ao lado dele e apenas coloca a mão em seu ombro sem dizer nada. Quando se acalma, Wagner enxuga o rosto e encosta a cabeça no espaldar do sofá.

- Metade deles não estava sentindo nada. Pareciam um bando de urubus naqueles casacões pretos caros deles. Estavam aqui como se tivessem sido convidados pro aniversário dele. Senti vontade várias vezes de gritar isso pra todo mundo! Só não mandei todo mundo embora, porque... eu não sou nada aqui e por respeito a ele. Ele não podia morrer agora, Gart, não podia! Não podia...

Gart se levanta e vai até o bar, apanha uma dose de uísque e entrega a ele.

- Eu não bebo, cara. Na última vez que coloquei bebida alcoólica na boca, me meti numa fria que até hoje não sei no que deu.

- Toma, vai ajudar.

Wagner pega o copo e bebe um gole. Faz uma careta e o devolve a Gart que não pega de volta.

- Bebe o resto.

Ele obedece e toma todo conteúdo, tossindo pelo gosto ruim da bebida.

- Meu Deus, isso é horrível. Se eu fizer alguma besteira, o responsável é você.

Gart pega o copo e vai colocá-lo novamente no bar, depois volta e se senta numa cadeira perto dele. Wagner está com a cabeça entre as mãos. Depois encosta a cabeça no braço da poltrona com os olhos fechados, já começando a se sentir tonto.

- Meu irmão te daria um soco na cara, se visse o que você fez.

- Não daria. Ele está bem longe e saberia que você está precisando, se estivesse aqui.

Os dois ficam em silêncio por um momento e Wagner pergunta, ainda de olhos fechados.

- Você gostava dele, não gostava?

- Gostava, sim.

- Mais do que um empregado gosta de um patrão, não é?

- Bem mais...

- Ele era um pouco ranzinza, mas era muito divertido também... Eu estava começando a gostar dele... Estava... começando a falar com ele como bisneto... Ele não podia ter morrido agora, Gart...

Wagner apoia a testa no braço da poltrona e soluça baixinho. Gart permanece em silêncio. Julian vem de dentro da copa e pergunta:

- (Deseja alguma coisa... pra ele?)

- (Não, Julian. Obrigado. Ele vai ficar bem.).

Julian sai, da mesma forma que entrou.

- Minha cabeça está rodando... Wagner diz, ainda de olhos fechados.

- Você não quer ir por seu quarto?

O rapaz apenas meneia com a cabeça negando.

- Então para de falar. Dorme. Descansa um pouco.

- Você não sai daí?

- Não.

Wagner fica quieto, parece adormecer. Gart reclina o corpo no encosto da cadeira e começa a se lembrar do dia em que viu Mr. Russel pela primeira vez, no orfanato Saint Laurent.

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“Ele tinha dezoito anos, incompletos. Teria que sair dali e fazer a vida, sozinho, ao completar a maioridade. O diretor Dick Henning vivia lembrando os garotos mais velhos dessa regra e, há muito tempo, ele mesmo vinha imaginando o que faria quando essa hora chegasse. Um órfão só é órfão enquanto é menor e ele estava quase para se tornar adulto pela lei.

Era uma sexta-feira. Ele estava no refeitório com os outros rapazes, durante o lanche da tarde. Todos conversavam animadamente, rindo alto e alguns mais animados corriam em volta das mesas. Ele sempre sentava numa mesa mais afastada, pois aquela algazarra rotineira o deixava muito nervoso. Procurava ficar sempre isolado e preferia ficar em paz, lendo e longe daquele tumulto. Quase nunca conversava e poucos compreendiam aquele seu isolamento. Para alguns deles, ele era esnobe e antipático por não querer se misturar. Um dos jovens, mais afoito, ao vê-lo quieto, como de costume, se aproxima dele e, com ar de troça, pergunta:

- Está lendo o quê, Shakespeare?

Ele não responde. Sequer ergue os olhos. Continua lendo. Lenny pega o livro da mão dele e o tira da frente dele para provocá-lo. Lê em voz alta o título do livro.

- Hum... Direito Penal. Ele quer ser advogado, pessoal!

Alguns garotos acompanham Lenny na brincadeira, gritam e riem dele, mas a maioria já está acostumada com o jeito do rapaz e apenas aguardam os fatos, sem se pronunciar.

- O Príncipe de Gales não quer participar da brincadeira? - Lenny pergunta, jogando o livro novamente na mesa.

Ele pega o livro e o abre na mesma página, continuando sua leitura.

RETORNO AO PARAÍSO – TESTAMENTO

PARTE 1

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 06/03/2018
Código do texto: T6271938
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