RP - UM SONHO POSSÍVEL - PARTE 18

UM SONHO POSSÍVEL

PARTE XVIII

No caminho para o Desterro, Mônica nota que o carro de Cláudio está cheio de pacotes de presentes que serão dados às crianças do orfanato no Natal daquele ano.

- Estão todos aqui ainda? A tia Bárbara disse que ia guardá-los no almoxarifado do orfanato.

- São outros. Aqui não tem nem metade. Esses foram doados pelos fazendeiros vizinhos de Quatro Estrelas. Alguns foi a Magda que mandou. Eu estou deixando pra levar aos poucos pras crianças não perceberem. Tem que estar tudo lá no Desterro até sexta.

- Pena que eu não vou estar aqui. Eu tenho viagem marcada pra quinta feira...

Ele fica em silêncio por um momento, olha para ela e depois de novo para a rua e diz:

- Já marcou?

Ela não responde, apenas olha para a rua.

- Cancela, transfere, ele diz, sem tirar os olhos da avenida. - Você não é obrigada a viajar nesse dia.

- Mas eu quero ir na quinta. Quando mais cedo eu for... vai ser melhor pra todo mundo...

Cláudio fica em silêncio. Minutos depois, ele mesmo quebra este silêncio, só para reatar a conversa e mudar de assunto.

- O Ivan vai vir pra cá no Natal. Ele está na Grécia agora.

- O pai da Magda está na Grécia?

- Está. Ele foi pra lá dois meses depois que a Elis nasceu. Já deve ter ido a outros países desde aquele tempo, mas sempre volta pra lá. Ele é apaixonado pelos gregos. Foi ele que deu o nome pra Diana, embora não seja grego, seja latim. Pra ele tudo dava no mesmo.

- Deusa da caça, Mônica diz, sorrindo.

- Por isso ela é esse bicho do mato.

- Mas quer dizer “divina” também.

- É, ela é divinamente endemoniada realmente, ele diz sorrindo.

Poucos minutos depois, o carro para diante do orfanato, mas eles não saem de dentro dele. Os dois sentem prazer em conversar um com o outro.

- E o da Elis? Quem deu?

- Ele também. Era o nome da mãe da Magda. Não era Elis Regina, era só Elis, mas a Magda quis homenagear a cantora também.

- Quer dizer que seu pai não tomou parte dos nomes das filhas.

- Nem dos filhos. Papai não se ligava muito em nomes. Meu nome... eu acho que foi meu avô paterno que colocou...

- Acha?

- É, nem meu pai sabe dizer ao certo, só sabe que não foi ele. O do Wagner foi a mãe dele.

- Sua mãe...

Cláudio apoia-se no volante e olha para a igreja ali adiante.

- Eu não sou filho dela...

- Não? - ela pergunta surpresa.

- Mas eu nunca contei isso pra ninguém. Não me pergunta mais nada. É uma história meio longa e triste demais pra contar. Só sei que a mãe do Wagner gostava demais do Wagner Valle, meu avô, e colocou o nome dele no filho. Ela morreu meses depois que ele nasceu.

Ele abre a porta do carro.

- Vamos?

Eles entram no orfanato e ficam lá pelo resto da tarde. Conversam com as freiras e ficam sabendo que a pequena que foi trazida para o orfanato foi realmente adotada pelo casal que se ofereceu. Quando saem de lá está anoitecendo e, já no carro em movimento, Mônica estica os braços para a frente do corpo.

- Nossa, eu estou moída.

- Encosta no banco e descansa os olhos um pouco. O percurso é curto, mas dá pra dar uma cochilada.

- Mas eu não estou com sono. Só estou cansada. Apesar de achar que o dia valeu a pena.

- Que bom...

- Você não acha?

- Se eu te dissesse que não acho, estaria mentindo. Mas se aconteceram duas coisas boas, outras duas ruins me esfriaram completamente.

- O quê?

Ele dá volta pelo pátio e para o carro na frente da igreja do Desterro.

- Eu vou embora com a Tânia, pra São Paulo.

Mônica se cala. Não sabe o que dizer.

- E tudo isso é por sua causa. Se você não fosse... tão independente... tão madura... tão autoconfiante... eu não estaria de mãos atadas sem poder fazer nada. Eu até tenho vontade de me separar dela definitivamente e me livrar dessas chantagens que ela vem fazendo comigo, mas de que adianta eu fazer isso, se você não está do meu lado?

- Eu sabia que não era boa ideia vir com você... Não estrague o resto de um dia que foi tão lindo...

- Eu não sei se vou ter outra oportunidade como essa de falar com você diretamente... a sós... assim... Foi por isso que eu te trouxe pra cá.

- Eu posso sair do carro e ir embora pra casa a pé...

Cláudio sorri sem vontade e se apoia no volante, olhando para a igreja.

RETORNO AO PARAÍSO – UM SONHO POSSÍVEL

PARTE 18

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 04/03/2018
Código do texto: T6270225
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.