RP - UM SONHO POSSÍVEL - PARTE 13

UM SONHO POSSÍVEL

PARTE XIII

Leda sai do quarto e Cláudio se volta para o menino.

- Alberto, eu tenho que te fazer umas perguntas que você vai responder como puder e se quiser, ok?

- Eu não quero voltar pra casa.

- Isso eu já sei, mas é por isso que eu tenho que te perguntar umas coisas sobre você. Você confia em mim?

- Confio.

- Ótimo. Você sabe onde está sua mãe?

- Ela foi embora.

- Sozinha?

- Com as minhas irmãs. O papai batia nela.

- E por que ela deixou você?

Alberto levanta os ombros e não responde. Cláudio e Mônica se olham e ele respira fundo.

- Como seu pai tratava suas irmãs? Ele batia nelas também?

- A mãe não deixava. Ela escondia elas no banheiro.

- E você?

- Eu corria pro quintal ou pra rua.

- Seu pai te trata bem, quando não está bêbado?

- Ele trabalha e volta pra casa à noite e eu já estou dormindo. Eu não sei.

- Quem faz comida pra vocês?

- A Júlia.

- Quem é a Júlia? Do Hotel Central da Barão de Casa Branca?

- É. Ela faz “marmitex” pra nós e todo dia, eu vou buscar lá no hotel.

- Mas o Hotel Central fica bem longe da sua casa.

- Mas eu vou lá todo dia, senão a gente não come.

Cláudio fica olhando para o menino, indignado, revoltando-se profundamente com as condições em que ele vive.

- E... você disse que seu pai trabalha... E você fica sozinho em casa?

- Fico... Ás vezes, eu saio pra rua... O papai não gosta que eu fique dentro de casa o dia inteiro. Ás vezes, eu vou pra boçoroca*, vou na represa, brinco com os meninos da rua... Faço muita coisa.

Cláudio se afasta dele e começa andar pelo quarto, revoltado com tudo aquilo.

- E a gente não pode fazer nada... Não pode ser.

- Não podemos levá-lo pra creche do Santa Mônica, durante o dia? - Mônica pergunta. - Eu tenho certeza de que meu pai não se oporia a isso, se soubesse da história dele. À noite, o pai dele viria buscá-lo quando saísse do trabalho. Poderia até ser a condição que o Arnaldo daria a ele para tirá-lo daqui. Deve haver um meio de resolver isso. A gente não pode resolver todos os problemas, mas... vamos tentar resolver esse.

Cláudio olha para o menino e pergunta:

- Alberto, a Diana está aí fora, você não quer ir brincar com ela na praça da matriz? Tem um parquinho legal que armaram lá. Que tal?

Um grande sorriso aparece no rosto do menino e ele gosta da ideia no mesmo momento. Cláudio o ergue nos braços e o coloca no chão.

- A Mônica não vem? - o menino pergunta.

Cláudio olha para ela e sorri. Ela sorri também e diz:

- Pensei que você não fosse me convidar.

Diana entra no quarto e se convida também.

- Vocês não vão a lugar nenhum sem mim.

- Você conhece a Diana, Alberto? - Cláudio brinca.

- Claro! Você não foi embora, que bom!

- Didi, leva ele pra brincar um pouquinho na praça da matriz, mas toma cuidado pra ele não forçar o braço machucado.

- Entendi, doutor, diz ela fazendo uma continência.

Os dois saem. Mônica vai segui-los, mas Cláudio pega sua mão e a puxa para perto de si e lhe dá um beijo terno e apaixonado na boca. Ela não consegue e nem tenta evitar. Quando o beijo termina, ele sussurra, ainda com o rosto bem perto do dela:

- Eu estava com saudades disso. Obrigado.

Mônica coloca a mão sobre os lábios e sai do quarto. Ele encosta-se à porta e diz para si mesmo:

- Eu definitivamente estou ficando louco...

Cláudio procura se refazer da emoção que sentiu com aquele beijo e sai do quarto também.

* BOÇOROCA: São escavações profundas no solo, ocasionadas pela erosão, estão espalhadas por todo o município. Casa Branca possui aproximadamente 332 boçorocas.

RETORNO AO PARAÍSO – UM SONHO POSSÍVEL

PARTE 13

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 02/03/2018
Código do texto: T6268370
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