RP-UM SONHO POSSÍVEL-PARTE 6
UM SONHO POSSÍVEL
PARTE VI
Quando a viatura chega diante da casa, na periferia da cidade, alguns vizinhos ainda estão em seus portões esperando os acontecimentos. Quando Arnaldo sai do veículo, todos se aproximam.
- Ele ainda está lá dentro, doutor delegado, diz um deles.
- Espancou o menino que quase matou, diz outro.
- Se não fosse a ambulância estar passando por aqui, não sei o que seria dele, completa um terceiro.
- O coitadinho apanhou tanto que até desmaiou.
- Fique aqui, Cláudio, eu vou tentar conversar com o homem, diz Arnaldo.
O delegado abre o portãozinho de madeira e entra no quintal da casa que está com as luzes acesas. Bate à porta várias vezes, mas ninguém atende. Ele chama:
- É a polícia! Abra por favor.
A porta se abre. Um homem de mais ou menos quarenta anos aparece, vestindo pijamas e com os olhos muito vermelhos, mal se aguentando em pé.
- Que falatório é esse aí? - diz ele nervoso.
- É polícia. Eu preciso que o senhor nos acompanhe.
- Por quê? O que foi que eu fiz?
- Seu filho está internado na Santa Casa com um braço quebrado e muitas escoriações pelo corpo. O senhor sabe de alguma coisa a respeito disso?
- Eu...? - ele pergunta, coçando a cabeça. – Eu não sei de nada não.
- Bem, mas o senhor vai nos acompanhar mesmo assim. Por favor, vista-se e nos acompanhe.
- Mas eu não fiz nada. Isso é uma injustiça. Um trabalhador não pode mais dormir em paz? - ele diz cambaleante.
Cláudio está encostado na viatura e ouve tudo.
- Ele está bêbado feito um peru na véspera de Natal, diz Breno.
- Ele não vem? - pergunta Dario, o motorista.
- Está de pijamas. O Arnaldo pediu que ele se vestisse.
- Só pode estar bêbado mesmo. Como alguém pode dormir, depois de fazer aquilo com o próprio filho?
- Pode nem ser filho dele, diz Cláudio, em voz baixa, indignado.
O homem finalmente sai da casa e entra na viatura, sob os protestos de toda vizinhança que grita protestando. Não resiste, mas não para de reclamar. No caminho, Cláudio procura obter informações sobre o menino.
- Como é o nome do seu filho?
- Hã?
- O nome do menino? Como ele se chama?
- Ah... o menino...? É... Acho que é Alberto... é... é isso sim... Alberto...
- O senhor acha?
- É que é tanto... O senhor é médico? - ele pergunta, tentando firmar a vista no rosto de Cláudio.
- Sou. Eu cuidei do seu filho, por isso preciso saber do nome dele.
- É... são muitos... Eu tenho quatro... não, cinco... é... cinco...
- E onde eles estão? Não estão na casa com o senhor, estão? - Arnaldo pergunta.
- A mulher levou tudo pra São Paulo. Foi tudo pra lá.
- E por que deixou esse? - Arnaldo questiona.
- E eu sei? Acho que, porque é o único menino e é o mais velho. Mas eu não fiz nada com ele não, viu, doutor? Eu gosto muito do menino... Não encostei a mão nele, não senhor. Meus filhos são a maior riqueza que Deus me deu.
- Imagine se não fossem... Cláudio diz, para si mesmo.
O homem olha para Cláudio com seus olhos moles e franze as sobrancelhas, mal podendo sustentar a cabeça sobre o pescoço.
- Eu conheço o senhor...
Cláudio não diz nada.
- Como é seu nome? - Arnaldo pergunta.
- Meu nome? É Francisco. Francisco de Assis Cardoso.
- Pois bem, seo Francisco, o senhor vai passar uma noitezinha no xadrez pra refrescar sua memória e se lembrar direitinho o que fez com seu filho e depois contar pra gente, ouviu?
- Eu vou ser preso? Mas eu não fiz nada, não, doutor. Ele é que ficava me azucrinando a paciência. Eu não ia bater... Pode confiar. Eu não ia bater tanto...
- Está certo. De manhã a gente conversa direito. Não se preocupe.
- O senhor sabe ao menos dizer qual a idade certa do menino? - Cláudio pergunta.
- Ele nasceu... no ano da copa... Foi... da copa. Eu me lembro... Foi um festão enorme... Tinha tudo quanto era bebida, champanhe, conhaque...
- Copa de setenta? - Cláudio se certifica.
- É, setenta. Aquilo foi um copão, poxa vida!
RETORNO AO PARAÍSO – UM SONHO POSSÍVEL
PARTE 6
OBRIGADA E BOM DIA!
DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!