Prazo de Validade

Adam canta sem cessar. Embriagado, solitário. Exaltando a verborragia que fez ninho sobre sua ruína. Adam canta, sobre anjos e prostitutas. Sobre a metamorfose empírica agonizante, expelindo rancor, cheirando a pólvora. Adam em prantos sujos, pela impossibilidade de continuar vagando. Um tigre sem dentes e garras, agora um gato idoso. A vida, rubra, esvaecida por seus punhos, devorada pela canção. É apenas o começo da queda. Todas aquelas promessas... uma grosseira armadilha. E agora, sedada, encaminha-se ao firmamento, pois dormirá para sempre.

Adam fazia queixas. Adam exigia. Adam e seu extrato bancário, seu sorriso mecânico freqüentemente comprado por uma maré de escravos. Decidir, desfrutar, descartar. Adam, a sofisticada escultura de gelo.

O Adam...

... Um Adam.

Na superfície psíquica, tomando o segundo lugar. A simples exigência do sádico amor. Ser trapos... Fingir ser tratado como seda. Um ciclo vicioso em um show itinerante. Adam... Elyn e Adam. Decidir, desfrutar... e desfrutar um pouco mais. E mais um pouco, e novamente. Ela surgiu, não por mágica ou milagre, mas uma novidade ausente. Subtraindo o excesso, enaltecendo o desconhecido, mascarando a submissão. Adam se torna ‘Elyn & Adam’. Elyn e seu modo articulado. Suas sobrancelhas grossas, as meias listradas em seus pés. Elyn em primeiro lugar!

Elyn, Elyn, Elyn... nas profundezas. Adam novamente é Adam, após meses. O que emparedou o sol? Uma vívida masturbação recíproca e... descartar! Oh, Elyn... seu entorpecente beijo sincero agarrado pela monotonia. Há uma hora em que a felicidade pesa nos joelhos e a decadência torna-se a liberdade. Adam, desajeitado, balançando sobre a mesa de algum bar, Elyn folheando fotografias. Adam, dividindo risadas com seus pseudo-amigos, Elyn vendo a reprise da novela. Adam e sua canção momentânea, Elyn esmagada pelas notas.

Adam canta sobre lugares do qual ninguém valoriza, conhece. Canta sobre Elyn... uma carcaça de carro enferrujando no meio-fio. Entediante, frustrado. Adam decreta o prólogo do fim.

Elyn, sedada. Já é domingo há 40 minutos. Corvos em sua cabeça. A ponte já foi concluída para o êxodo dos pecados.

Já é domingo há 1 hora. Adam desfruta e descarta o corpo de Elyn. Elyn, submersa em seus pecados, liberta a primeira estrela, exalando pólvora da morte brandida em suas mãos. Corvos craquejando. A estrela da decepção fragmenta um pedaço da carne de Adam. Agora Adam é mais Adam ainda. Resquícios de amor vazam de seus punhos cerrados. ‘Adeus, lindo rosto’. Já é domingo há 2 horas... não para Elyn. Não mais.

Adam canta sem cessar... quando o fogo torna-se cinzas.