RP - ERA UMA VEZ... EM LONDRES? - PARTE 26
ERA UMA VEZ... EM LONDRES?
PARTE XXVI
Em sua hora de almoço, Cláudio resolve ir pra casa levar o inusitado presente que a sogra lhe deu pelo aniversário de casamento, mas antes passa no Orfanato do Desterro para ligar para Wagner, como o pai pediu. Depois de falar com algumas crianças que brincam na área de recreação e com as irmãs de caridade que cuidam delas, vai ao seu consultório, fecha a porta, pega a agenda disca para Londres.
O telefone chama três vezes e finalmente atendem. É a voz de uma mulher.
- Hello!
- Hello. Here’s from Brazil. My name is Cláudio Valle…
- Cláudio!? Quem bom falar com você?
- Quem está falando? - ele estranha falar com alguém que fale português.
- Meu nome é Linda. Tudo bem?
- Tudo, eu fico feliz que tenha alguém aí que fale português. Eu precisava falar com meu irmão...
Mr. Russel pega a extensão no escritório e diz:
- Eu atendo, Linda. Pode deixar.
Há uma pausa no telefone e a voz de Linda se cala.
- Alô? - diz a voz do velho.
- Alô, quem fala?
- Stanley Russel. Deseja fala com quem?
Cláudio não responde e pensa no que dizer para o homem que levou seu irmão de casa daquela forma nada convencional por motivos bem específicos.
- Alô...? Fale, Cláudio. Eu estou esperando.
- Mr. Russel...? Como vai?
- Bem e você? É uma surpresa ouvi-lo.
- Surpresa mesmo? Não parecia. O senhor sabia que era eu que estava na linha.
- Nenhum brasileiro liga para mim a esta hora da manhã. Meus clientes estrangeiros gostam de ligar para mim depois das seis e sua voz não me pareceu com a de nenhum deles. Foi dedução apenas.
- Eu admiro seu senso de dedução.
- Apesar da minha idade, não é?
- Não, isso não tem nada a ver com idade. Mas, no seu caso, é surpreendente.
- Posso ajudá-lo?
- Eu preciso... falar com meu irmão. Ele está?
Stanley Russel não responde imediatamente. Senta-se na poltrona ali perto, tranquilamente.
- Não, não está.
- Não está? E posso saber aonde ele foi?
- Ele saiu. Foi dar umas voltas pela cidade para conhecer melhor o lugar onde a mãe dele nasceu.
Cláudio se cala de novo. Stanley reinicia a conversa.
- É um prazer enorme falar com você, apesar de tudo.
- Sinto não poder dizer o mesmo. O que o senhor fez não deixou minha família muito feliz. O senhor assustou a todos nós, tirando o Wagner daqui da forma que tirou.
- Não conseguiria conhecer meu bisneto de outra forma, você há de convir comigo.
- Um diálogo resolveria tudo.
- Nunca houve diálogo entre sua família e a minha. Você sabe disso.
- Como o senhor sabe que eu sei?
- Pelo modo como você fala sobre mim e o que pensa a meu respeito.
- O senhor nunca conversou comigo. Como pode saber como eu penso?
- Eu sei, simplesmente. Seu modo de pensar é o que seu pai colocou na sua cabeça.
- Ele não precisou colocar nada na minha cabeça. O que eu penso sobre o senhor e sua família é resultado do que eu vivi.
- Eu imagino que não deva ter sido fácil pra você, mas você já tentou se colocar no lugar da minha neta?
Cláudio se cala de novo e fecha os olhos. Em seguida diz:
- Eu era uma criança...
- Uma criança que minha neta foi obrigada a criar, filho de uma aventura de Leonardo Valle. Um bastardo que ela suportou por sete anos até morrer...
Cláudio desliga o telefone com raiva e coloca as duas mãos no rosto. Levanta-se e vai até a janela, de onde pode ver a igreja de Nossa Senhora do Desterro, começando a chorar, sentindo uma vontade muito grande matar o homem quem estava no outro lado da linha. Na mesma hora se arrepende daquele sentimento.
- Me ajuda, mãe! Me ajuda, por favor!
Ele procura respirar fundo e se recompor, enxuga o rosto rapidamente e seguida sai do consultório e do prédio. Entra no carro e volta para a cidade. Olha o bolo que Bárbara deu, sobre o banco do carro, e decide ir para casa entregar para Tânia para que ela decida o que fazer com ele.
Ao entrar em casa, ouve o som da vitrola ligada na sala, mas não há ninguém ouvindo. Como o som está muito alto, ele coloca o bolo sobre a mesinha de centro e vai abaixar o volume do aparelho.
- Tânia! - chama, imaginando que ela esteja na cozinha, mas ninguém responde.
Ele percebe que há muitas flores nos vasos pela sala inteira. As janelas estão abertas e as cortinas puxadas exageradamente como se fosse dia de festa. Vai até a cozinha, mas não vê ninguém. Sobe as escadas e vai até o quarto do casal. Tudo está enfeitado de flores, como no andar térreo e a cama está forrada como uma colcha que ele nunca viu antes, mas ele ainda não consegue saber onde Tânia está. Desce novamente e a encontra vindo da cozinha, usando um avental por cima de um vestido de gravidez que ainda não é necessário, pois ela ainda não tem barriga nenhuma; está ainda no segundo mês. Ela sorri, ao vê-lo descendo.
- Oi, amor... Eu tinha certeza que você viria...
Cláudio se aproxima dela, estranhando seu jeito de falar.
RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... EM LONDRES?
PARTE 26
OBRIGADA E BOM DIA!
DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!