RP - ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA - PARTE 28

ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA

PARTE XXVIII

Jairo não se move por algum tempo diante da declaração da filha de que está grávida, depois olha para a xícara de café em sua mão e a coloca lentamente sobre o pires, depois respira fundo e tenta sorrir.

- Filha, que brincadeira é essa?

- Não é brincadeira. Se você quiser, eu mostro todos os exames. Foram todos feitos lá mesmo na Santa Casa...

Ele se levanta, coloca as mãos nos bolsos e começa a andar lentamente em volta da mesa já que não sabe o que fazer.

- Fala alguma coisa, Mônica pede, não menos nervosa.

Ele para e olha para a filha, nitidamente perturbado.

- Eu pensei que não tivesse mais que pensar nisso. Pensei que tudo já estava bem... Não tenho nem que perguntar quem foi, não é? Foi aquele cretininho do Wagner Valle...

- Pai, você não vai desconfiar de ninguém sem ter a minha palavra antes. Nós estamos falando de mim.

Jairo volta a se sentar à mesa longe e do lado oposto do dela. Mônica se levanta e vai até ele, mas quando se aproxima, ele se ergue e se afasta bruscamente, saindo da casa. Pega o carro e sai da garagem queimando pneus.

- Pai... - ela diz, em voz baixa, imaginando onde ele deva estar indo.

Ela vai até o telefone, meio tonta e liga para o hospital, mais especificamente para o consultório de Cláudio. Ele está no intervalo de uma consulta e atende:

- Santa Casa de Misericórdia de Casa Branca, Cláudio Valle.

- Cláudio! - ela diz, quase sem voz.

Ele reconhece a voz dela.

- Oi... Bom dia, Mônica. Tudo bem?

- Preciso de você. Papai... está indo pra fazenda.

- O... quê? Que fazenda? A do meu pai?

- É, e acho que... pra fazer nada de bom.

- O que aconteceu?

- Eu disse a ele.

- Disse... o quê?

- Eu contei pra ele que estou grávida.

Ele para e fica em silêncio por um momento.

- Você ainda está aí? - ela pergunta.

- Você ficou maluca?

- Ele ia ficar sabendo de qualquer forma e talvez por outros meios. Preferi eu mesma dizer tudo. Só que ele nem esperou que eu explicasse nada. Já pensou no Wagner e saiu feito um doido. Vá atrás dele, por favor. Eu não quero que nada aconteça ao seu irmão. Ele não tem culpa de nada.

- Pelo menos o Wagner sabe disso?

- Sabe, sabe desde o começo disso tudo. Impeça meu pai, por favor.

- Vou tentar.

Cláudio desliga o telefone, passa as mãos pelos cabelos procurando pensar e se levanta, indo avisar Regina que vai precisar sair para uma emergência e, em seu carro, tenta pegar o caminho mais curto até a estrada principal que leva até a fazenda Quatro Estrelas e consegue, por uma fração de segundos.

Ladeada pelo capim amarelado, corre a estrada de terra, caminho aberto pelo avô de seu pai, quando a família Valle chegou ao Estado, vinda de Minas Gerais.

Ali foi construída uma pequena casa que mais tarde seria transformada em sítio e fazenda posteriormente, mas mesmo depois da construção da rodovia, o caminho de terra foi conservado.

Já próximo à bifurcação com a estrada, ele avista o carro de Jairo, pois a vegetação é baixa e não há muitas árvores por lá. Por sorte, não é uma estrada de muito movimento e Cláudio consegue alcançá-lo, ultrapassando o carro de Jairo e colocando seu carro atravessado na estrada na frente do dele. Jairo é obrigado a parar para evita um acidente. Cláudio desce do Mercedes e se aproxima da porta do motorista do carro de Jairo, ofegante e nervoso.

- Vamos voltar, doutor.

- O que você está fazendo aqui?

- Vim evitar que o senhor faça uma bobagem.

- Como você...?

- A Mônica ligou pra mim. Ficou com medo de... Doutor, o senhor é médico, não nasceu pra ferir ninguém, ainda mais um inocente...

- Esse irresponsável não é inocente! Ele pode ser seu irmão, mas... ele fez mal a minha filha, Cláudio! Minha Mônica está grávida... do seu irmão!

Vendo que Cláudio não se surpreende, Jairo deduz por si só.

- Você sabia, não é?

Cláudio não responde, mas seu silêncio diz tudo.

- Pra que eu quero amigos? Pra ser traído assim?

O médico se debruça ao volante e começa a chorar.

- Eu só tenho ela, Cláudio. É minha única filha. Eu fiz tudo por ela, dediquei minha vida inteira pra educá-la. Não quis me casar de novo pra que ninguém viesse interferir na nossa amizade, nossa união. Eu não queria outra mulher que fosse o que a mãe dela foi. Fiz tudo, tudo pro bem dela, pra felicidade dela. Não era esse o futuro que eu queria pra minha Mônica.

Cláudio, ainda que penalizado, abre a porta do carro e pede:

- Me deixe entrar, doutor. Vamos voltar pra cidade. O senhor não está bem. Não está raciocinando.

Jairo não reage. Passa para o banco do passageiro e Cláudio retira a chave do carro.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... CASA BRANCA

PARTE 28

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 06/02/2018
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