RP - ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA - PARTE 26
ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA
PARTE XXVI
Wagner fixa os olhos na escuridão e começa a ver a silhueta de uma pessoa que, pela voz, parece ser uma garota.
- Quem é? Quem está aí?
A pessoa se aproxima mais. É realmente uma moça.
- Meu nome é Linda. Eu estou perdida nesse fim de mundo. Você pode me ajudar?
Wagner fica algum tempo impressionado com o tom de loiro que ela tem nos cabelos. É a primeira vez que vê cabelos tão claros, quase brancos, numa pessoa tão jovem. É interrompido novamente pela voz dela. Ela tem um sotaque diferente que ele presume ser realmente português.
- Pode ou não pode? Se não puder, eu me mando.
- Como você conseguiu entrar aqui? A porteira...
- Eu entrei pelo pasto. Tem uma parte em que a cerca tem um espaço e eu passei por lá. Só preciso de ajuda, por isso entrei.
- Mas tem nem meio metro entre...
Ele para de falar quando, olhando melhor, percebe que a garota é muito magra e esguia e passaria com facilidade em qualquer espaço.
- Espera um pouco. Eu já vou descer. Você está a pé?
- Não. Deixei meu Rolls Royce na estrada. Que pergunta mais besta. Claro que estou a pé! Senão não estaria perdida.
Ele sorri e percebe que a pergunta foi mesmo idiota.
- Espera...
Sai da sacada, veste o roupão e sai do quarto. Desce as escadas tentando fazer o mínimo barulho para não acordar ninguém. Abre a porta e sai, dando a volta pela casa até onde ela está. A moça sorri ao vê-lo se aproximar. Está vestida com um jeans batido, camiseta de malha preta, jaqueta de couro e tem uma mochila nas costas tipo capanga.
- Oi, que bom que você desceu. Estava morrendo de medo dessa escuridão.
- Oi... ele diz, medindo-a de alto a baixo, ainda meio desconfiado.
- Que foi? Nunca viu uma moça?
- Não a essa hora da noite, num lugar como este e... vestida desse jeito.
- Desse jeito como? O que tem meu modo de vestir? - ela pergunta, olhando pra si mesma.
- Bom... não é muito comum por aqui.
- E como é que as moças por aqui se vestem? Vestido de chita e lacinho na cabeça? - ela pergunta numa gozação.
Wagner não gosta daquela atitude.
- Basta dizer que elas se vestem como... moças. De onde você está vindo? De Portugal? - ele cutuca.
- Xi, acho que não vou gostar daqui. Não, não estou vindo de Portugal. Eu estou vindo de São Paulo. Lá tem a maior diversidade de pessoas do país e do mundo inteiro, já ouviu falar?
Ele vê que ela vai continuar provocando, chamando-o de caipira ignorante, mas não se rende.
- Já, o suficiente pra compreender que é de lá que saem as pessoas mais esquisitas... de todos os países do mundo.
- Quem não está acostumado, estranha mesmo. Ainda mais quem nunca saiu do lugar onde vive.
- Pra onde é que você vai ou... estava indo? - ele desconversa.
- Casa Branca, fica longe?
- Não, quatro quilômetros naquela direção, ele aponta para as luzes da cidade ao longe. – Se você for a pé, leva uma hora e pouco.
- Ei! Quem disse que eu vou andar mais quatro quilômetros nessa escuridão no meio desse mato todo?
- Não tem perigo nenhum. Aqui não é como São Paulo. Não tem ladrão nem tarado. Só um ou outro quati, algum gato do mato, cachorro... e muito carro na estrada.
- Pois eu prefiro enfrentar todos os ladrões de São Paulo a ter que andar no meio dessa floresta até chegar na estrada.
Wagner respira fundo e percebendo que a moça fala aquilo tudo mais para provocá-lo que para ofendê-lo, reprime um sorriso e diz:
- Bem, se era só isso que você queria saber, o caipira ignorante aqui quer ir pra cama dormir.
- E vai me deixar aqui sozinha? - ela diz, segurando no braço dele, parecendo temerosa e olhando em volta.
Wagner olha para a mão dela, apertando seu braço. Sente o perfume dela e gosta disso.
- Mas você não veio sozinha até aqui?
- Não, vim de carona. O homem do caminhão me deixou na estrada porque viu luz na sua janela e percebeu que era uma fazenda. Achou que alguém poderia me ajudar.
- E por que ele não te levou até a cidade?
- Porque ele não ia para a cidade. Estava indo para outra direção. Santa Cruz... não sei das quantas...
- Das Palmeiras, ele termina.
- É, isso aí mesmo. Será que não dava pra arranjar algum lugar pra eu dormir? Podia ser aqui fora mesmo. Isso aqui parece tão grande. Você não mora sozinho, mora?
- Não, claro que não, mas você não pode ficar em lugar nenhum aqui fora, a não ser que queira dormir com as vacas ou com os cavalos no seleiro.
Ela faz uma careta de repulsa e Wagner sorri.
- Logo vi que não. Tem também o armazém, mas fica um pouco longe da casa grande. Você vai se sentir sozinha lá. Ainda não tem luz elétrica... como em São Paulo. Só lampião a gás e a gente não acende essas coisas... perigosas aqui. Fogo não combina com feno ou palha. Se é que você me entende.
- O que tem nesse armazém?
- Ração pros animais, feno em fardo para os cavalos, ferramentas, dois tratores...
- Cabem dois tratores lá?
- Não sei se você percebeu, mas isso aqui é uma fazenda de gado, não um hotel.
- Desculpe. Eu estou nervosa, sozinha... Não quis te ofender. Só quero descansar um pouco e seguir viagem de manhãzinha bem cedo. Ninguém vai nem saber que eu estive aqui.
- Linda, não é?
Ela balança a cabeça, afirmando.
- Vem comigo. Eu te mostro o armazém.
A moça hesita, desconfiada.
- Você disse que não tem luz elétrica lá?
- Já falei que tem um lampião. Tem cinco cavalos de potência.
Ela continua hesitante. Wagner ri.
RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... CASA BRANCA
PARTE 26
BOA TARDE!
DEUS ABENÇOE A TODOS!