RP - ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA - PARTE 24

ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA

PARTE XXIV

Cláudio dá um leve sorriso e suspira.

- Eu já pensei nisso, mas o problema não é nem meu pai. Tem muita coisa envolvida.

- Por causa do bebê? Filho não prende marido, Cláudio. Não, se ele não estiver feliz.

- Não é só por ele... É sim, também, mas... é mais por ela. Eu não sei do que ela seria capaz de fazer se eu me separasse dela.

- Está falando do quê?

- Do comportamento dela. Numa das nossas brigas, há algum tempo atrás, eu meio que sugeri isso. Me separar dela. Ela não fez escândalo, não gritou nem reagiu. Só disse com muita calma que se eu a deixasse... ela se mataria.

- Como assim?

- Me deixou falando sozinho e se trancou no quarto.

- Ela pode ter blefado. Tânia é inteligente. Ela te conhece e sabe que você não ia querer isso.

- Seria bom se fosse, mas não é só blefe. Ela está obcecada por mim...

- Credo! Isso é uma coisa muito séria pra se dizer, amigo.

Cláudio ergue o corpo e apoia os dois braços na mesa.

- No início do ano passado, eu recebi uma carta de uma amiga íntima da primeira mulher do meu pai...

- Sua mãe...?

- É... e do Wagner... Ela morou aqui em Casa Branca por dois anos antes da morte da... minha mãe. Essa mulher ajudou meu pai em tudo quando ela adoeceu e ajudou a me criar e ao Wagner depois que ela morreu. Karen Johnson é o nome dela. Mora em Nova Orleans e escreve de lá algumas vezes pra mim pra saber como eu estou e ele e coisas assim. Quando a carta chegou em casa, eu não estava. Tânia recebeu e, como eu não me importo que ela veja minha correspondência, ela abriu a carta e leu. Eu nunca tinha falado da Karen pra ela. Nunca gostei de falar da minha infância com ninguém, mesmo com ela, e a Karen faz parte dessa infância. Apesar de tudo que esse período da minha vida representa pra mim, eu gosto demais da Karen. Ela foi quase minha mãe, depois que a Cristina morreu. E eu sei que ela gosta de mim como de um filho. Na carta, ela revela isso de uma forma muito carinhosa e, quando leu, Tânia entendeu tudo errado. Se ela tem ciúme até do meu irmão, pra você ter uma ideia, imagine o que deve ter pensado ao ler a carta de uma mulher dizendo que me ama. Encontrei a carta rasgada em cima da cama...

- Caramba! Então você acha que ela pode fazer uma besteira, se você falar em separação.

- Não sei, mas eu não posso e não quero arriscar.

- E vai viver nesse inferno a vida toda? Se eu fosse você, explicaria a situação pra sua família e internaria ela num hospital psiquiátrico. Você não pode carregar esse problema nas costas sozinho. Do mesmo modo que ela é sua mulher, ela tem pais, um tio e um sogro influentes na cidade. Diga a eles que sua mulher está ficando neurótica e pronto.

- Não é tão fácil assim.

- É sim! Enquanto você passa dias e dias vivendo nesse tobogã emocional, perde a chance de encontrar alguém de quem você goste de verdade, que te ame também. Alguém que te dê uma família, no verdadeiro sentido da palavra. Família com filhos, tranquilidade, amor. Você tem vinte e sete anos, cara! Acorda!

- Pode ser que eu faça isso, mas não agora. Tem um problema bem maior estourando aí.

- Está falando do bebê da Mônica?

Cláudio olha para o amigo, surpreso.

- Bebê? Então ela está mesmo grávida? Você... já sabe também?

- Eu a examinei. Ela fez todos os exames comigo.

- E você não me disse nada...

- Eu não devia estar te dizendo nada nem agora. Ela me pediu segredo e acho que se eu fosse te contar naquela época, você não ia gostar de saber.

- E qual a diferença? Há quanto tempo você sabe disso?

- Eu não vou falar mais nada. É um segredo dela e ela mesma diz que é problema dela. Só dela.

- Foi o que ela disse ao Wagner. Ele está apavorado com isso. E eu também não entendi.

- E não vai entender. Pelo menos eu não vou explicar, ele diz, querendo se levantar pra ir embora, mas Cláudio segura seu braço e o impede.

- Agora você começou, vai terminar. Desembucha, Miguel.

- Não posso! Eu não devia nem ter começado, ainda mais que ela me pediu. Ela é minha paciente. Você não revelaria um segredo de uma paciente.

Cláudio reconhece que ele tem razão.

- Então por que começou?

- Reconheço que foi um erro meu, mas, de qualquer maneira, se, como você disse, a bomba estourar, tudo vai ficar esclarecido. É uma questão de tempo. A Mônica tem um pai muito inteligente. Ele vai descobrir mais cedo ou mais tarde e aí... a surpresa vai ser grande.

- Já foi surpresa quando ela contou pro Wagner que tinha se envolvido com ele, no dia da festa de aniversário deles. Eu não pensei que pudesse acontecer uma coisa assim com ela e ainda mais que ela acabasse colocando meu irmão na estória.

- Mas por que ela contou justamente pra ele? Eu não sabia que ele estava envolvido. Ela disse que... ele é o pai?

- O pior é que não, mas eles ficaram juntos na festa de aniversário deles, no dia trinta de outubro, e ela deu a entender que havia acontecido alguma coisa entre eles.

- Que rolo... - Miguel diz, intrigado.

- Por quê? O que você sabe sobre isso?

- Nada... mas sei que, se ela meteu ele nessa confusão, você tem que fazer alguma coisa pra ajudá-lo.

- Tenho, mas o quê?

- Não faço ideia, mas Wagner não tem nada a ver com isso.

- Ele estava bêbado na tal festa, embora não se lembre de nada do que aconteceu.

- Mas esse problema não é dele e você vai arranjar um meio de tirá-lo dessa encrenca. Tenho certeza. O problema dela é bem anterior a trinta de outubro.

Miguel se levanta. Cláudio o segue com os olhos.

- Se você sabe de alguma coisa que pode tirar meu irmão dessa roubada, fale, Miguel.

O médico olha para o amigo em silêncio por alguns segundos e finalmente fala:

- Não. Infelizmente eu não posso fazer nada. Sinto muito. Já me meti demais. Tchau, vai dormir um pouco. Boa noite.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... CASA BRANCA

PARTE 24

BOM DIA E OBRIGADA!

DEUS ABENÇOE A TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 05/02/2018
Código do texto: T6245377
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