RP - ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA - PARTE 23

ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA

PARTE XXIII

Tânia e Bárbara viajam para o Rio de Janeiro à tarde. À noite, Cláudio, Miguel, ginecologista/obstetra e seu amigo desde a faculdade, e vários outros médicos participam da reunião de trabalho presidida por Jairo. Terminada a reunião, Jairo, Cláudio e Miguel saem para jantar juntos.

- Quando tempo faz que você não dorme em casa, Cláudio? - Jairo pergunta.

- Três noites, doutor.

- Você sabe que não precisa fazer isso, ainda mais agora. Sua mulher está grávida, rapaz. Ela não reclama?

- Um pouco, mas... eu gosto demais do que eu faço e eu só fiquei porque era necessário.

- Todos os dias é necessário. Gente doente e principalmente criança doente tem todo dia, infelizmente. Mas nós temos as enfermeiras e outros plantonistas e você anda trabalhando por cinco deles. E anda levando minha filha pelo mesmo caminho. Ela fica três dias por semana no hospital e dois domingos por mês no orfanato, fora os estudos. Vão acabar se matando.

- Eu gosto do que faço, já disse. Não tenho culpa se ela puxou ao pai.

- Gosta das olheiras também? - pergunta Miguel. - Você está horrível. Daqui a pouco, vai precisar de um médico. É o cúmulo da ironia.

- Vá pra casa descansar hoje. É uma ordem, diz Jairo.

- A Tânia não está em casa. Viajou com a Bárbara pro Rio.

- É, eu sei. Me lembro que ela disse que tinha assuntos urgentes a tratar por lá. Vá lá pra casa então.

- Obrigado, doutor. Eu me arrumo no hospital mesmo. Não se preocupe.

- Mas não vai trabalhar, vai?

Cláudio demora a responder, olha para Miguel, sorri e diz:

- Não... Se não precisarem de mim...

- Não adianta, doutor Jairo. Esse não tem mais jeito, diz Miguel.

- Mas o senhor tem razão quanto a sua filha. Ela é jovem demais pra trabalhar tanto. Eu sei que ela gosta tanto quanto eu do que faz, mas...

- E você não é jovem? - Jairo pergunta. – Trabalhar no que a gente se propôs a seguir como missão é muito gratificante e nobre, mas pra cuidar dos outros, a gente tem que cuidar da gente mesmo, em primeiro lugar. Concorda?

- Claro, concordo demais, por isso eu insisto: dê o mesmo conselho pra Mônica. Eu sei me cuidar e sei dos meus limites. Cuide dela. Ela é muito nova pra trabalhar tanto. Quando ela se formar vai ter muito que fazer. Já conhece muito do trabalho, mas tem que se importar com os estudos, agora.

- É o que eu digo a ela. Eu propus que ela fosse fazer Medicina na Europa, Sem contato com trabalho nenhum, só estudo. Sabe o que ela disse? “Não vou cuidar de gente da Europa. Quero cuidar de gente brasileira e aqui também tem boas faculdades.” E ela quer fazer Enfermagem, não Medicina. Disse que isso ela deixa por minha conta. O que vocês querem que eu diga? Não posso dizer nada. Mônica é dona da cabeça dela e teimosa como eu.

- A Mônica tem muita opinião mesmo, diz Miguel. – O senhor só deve se orgulhar.

- E me orgulho mesmo. Só tenho feito isso nesses dezessete anos. Só peço a Deus que ela consiga fazer e ser o que quer. E por falar nisso... - ele olha no relógio. – Eu tenho que levá-la pra casa. Vocês ficam?

- Mais uns dez minutos, fala Miguel. – Deixa a conta comigo, doutor.

- Muito obrigado! Desse jeito eu quero vocês no meu “cast” pra sempre.

Jairo ergue-se, despede-se e sai do restaurante. Cláudio encosta o rosto no braço apoiado na mesa e fecha os olhos, parecendo tremendamente cansado. Miguel diz:

- Você não vai dormir aqui na mesa, vai?

- Do jeito que eu estou, durmo até no chão, se você me jogar na calçada.

- Não sei o que você ganha se matando desse jeito. Pra quê? Você não precisa disso. Nunca precisava nem trabalhar, se não quisesse.

- Já ouviu falar em objetivo de vida?

- Já, eu também tenho, só não tenho uma mulher me esperando em casa.

Cláudio ergue a cabeça e desabafa.

- Esse é justamente o motivo das minhas vinte e cinco horas de trabalho.

- Está tão apaixonado assim? - Miguel ironiza.

- E triste ter que admitir isso, mas eu dou graças a Deus por ter e gostar do meu trabalho. Eu não gosto é de ir pra casa. Tânia, às vezes, é tudo que eu não quero encontrar quando volto pra lá. Ela simplesmente não significa mais nada pra mim. E ainda por cima, existe um filho envolvido nesse casamento... estagnado. Não sei como eu pude deixar chegar nisso.

- Você pode não saber, mas ainda deve sentir alguma coisa por ela, lá no fundo. Senão, não teria ficado casado tanto tempo e ela não estaria grávida.

- Claro que sinto... Ela é uma mulher bonita. Eu sinto... respeito, amizade... desejo... mas amor... não existe mais há muito tempo.

- Olha, sinceramente, pelo que você já me contou, acho que você perdeu metade da sua vida com uma mulher que não ama, se é que um dia amou, por causa de uma tradição idiota que vai acabar te levando à loucura qualquer dia desses. Eu acredito que seu pai não seria tão egoísta a ponto de não entender, se você dissesse a ele que não quer mais ficar nesse casamento... estagnado, como você mesmo diz. Você precisa se libertar disso. Viver sua vida, como o doutor Jairo disse: você ainda é jovem, cara!

Cláudio dá um leve sorriso e suspira.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... CASA BRANCA

PARTE 23

BOA TARDE E OBRIGADA!

DEUS ABENÇOE A TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 04/02/2018
Código do texto: T6245031
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.