RP - ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA - PARTE 10

ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA

PARTE X

Nos primeiros cinco anos de casamento, Cláudio e Tânia não quiseram filhos, primeiro porque os dois eram muito jovens e Cláudio tinha o propósito de ser médico e fazer a faculdade era seu maior objetivo. Depois, as coisas foram tomando outros rumos. Tanta coisa havia acontecido. Tânia não era mais a moça doce com que ele havia se casado. Não era nem mais a amiga de colégio, divertida e confidente com ele tinha se encantado quando era um adolescente. Ele também tinha mudado muito. Naquele momento, aquela notícia soou diferente, mesmo que eles não tivessem planejado nada. Um filho não estava sendo esperado naquele momento. A surpresa, pelo menos para ele, foi total.

Mas já não era o caso de se colocar fatos negativos na balança. Uma criança estava chegando e era seu filho, mesmo que a situação atual não fosse a ideal. Ele sente a garganta arder e uma vontade imensa de chorar, gritar e rir ao mesmo tempo, mas se contém como sempre fez a vida toda, aperta os dedos dela entre os seus e a atrai para si, abraçando-a. Fecha os olhos, beija sua testa e fica muito tempo abraçado a ela, sentindo uma vontade imensa de ficar ali pra sempre, para que nenhuma outra realidade exista mais entre eles. Só o fato de que eles vão ter um filho.

Quando volta à Santa Casa, depois de levar Tânia para casa, ele está distraído e aéreo. Miguel, que é ginecologista na Santa Casa, percebe quando ele entra no vestiário e pega o jaleco no cabide, como se não estivesse ali. Está pensativo e distante. Parece nem se dar conta de sua presença.

- Terra para Cláudio Valle! - ele brinca, aproximando-se do amigo devagar.

Cláudio olha para ele e franze a sobrancelha, como se saindo de um transe.

- O quê...? Oi?

- Oi! Você está em que planeta?

Cláudio sorri e passa as mãos pelos cabelos.

- Desculpa, eu estava... longe...

- Eu percebi. O que houve? O doutor Jairo disse todo orgulhoso que você foi raptado pela Tânia na hora do almoço e ela te levou pra ter um particular... Já posso te dar os parabéns... papai?

- Pode... - Cláudio responde quase que automaticamente, sorrindo, mas ainda meio alheio ao verdadeiro motivo. – A Tânia está... grávida...

- E você está com essa cara por quê? Não é seu?

Cláudio balança a cabeça e vai verificar os prontuários que deve atender naquela tarde.

- Você não está feliz.

Foi uma afirmação de Miguel e não uma pergunta.

- Claro que eu estou feliz, Cláudio afirma, olhando rapidamente para ele. – É que... eu já não esperava mais... depois de oito anos... Não foi planejado...

- Besteira... Você se casou cedo demais. Está é a época certa pra se ter filhos. Vocês já se conhecem bem, estão mais maduros, têm a vida ganha.

- É... - ele diz, folheando as páginas do prontuário, como se não as visse.

Miguel estranha aquela resposta e apoia os braços no arquivo.

- O que significa esse “É...”?

Cláudio olha para ele.

- Estou apenas concordando com você. Que é que você quer que eu diga?

- Que esse é o momento mais feliz da sua vida, que você ama sua mulher demais, que não vê a hora de acabar seu turno aqui nesse hospital pra ir pra casa ficar com ela e beijar a barriga dela, porque lá dentro dela tem um filho seu que vai nascer! Caramba, Cláudio, o que você está fazendo aqui? Você devia estar em casa babando seu filho!

- Miguel, agora mesmo é que eu tenho que trabalhar pra sustentar esse filho que vai nascer!

- Mas você ficou sabendo disso hoje, pombas! Às vezes, parece que você não tem sangue nas veias, cara!

Cláudio coloca os prontuários sobre o arquivo, irritado, e se afasta dele passando as duas mãos pelo rosto.

- Cada um reage de uma forma a esse tipo de notícia, Miguel! Me deixa em paz!

Ele sai da sala, nervoso. Miguel se espanta, achando aquela reação muito estranha.

- Que foi que eu disse?

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O aniversário de Leonardo no início de novembro vem servir para comemorar e dar boas-vindas ao novo herdeiro e as famílias Telles e Valle se reúnem na fazenda Quatro Estrelas.

A gravidez de Tânia deixou a todos muito felizes e a escapada dos garotos no final de semana passado foi praticamente esquecida. Wagner, em homenagem à chegada do sobrinho, resolve conversar pacificamente com a cunhada e fazer as pazes com ela. Aproveita que ela está sozinha, sentada na varanda que contorna a sede toda e vai lhe falar. Senta-se no murinho baixo de madeira que circunda o lugar.

- Oi! – ele diz, sorrindo, pra iniciar a conversa.

Ela olha para ele séria, mas indiferente e responde:

- Oi.

- Eu estou te devendo os parabéns pelo baby. Estou muito feliz que a família vai aumentar.

Ela fica calada por um momento, coloca os óculos escuros apoiados na cabeça, depois, secamente, agradece.

- Obrigada...

Wagner imagina que deva começar pedindo desculpas por tudo que já fez para irritá-la desde que se casou com seu irmão, mas a teimosia e o orgulho são maiores, pois, afinal de contas, algumas vezes quem provoca é ela mesma. A culpa nem sempre é dele. Os dois realmente não se dão, desde a vida passada.

- Eu espero... sinceramente que a gente... dê uma trégua e não brigue mais... pelo bem do garoto. Ele pode não gostar.

- Não ligue pra isso. Ele pensa como eu, já que está dentro de mim.

- Tânia, dá um tempo. Vamos fazer as pazes, vai? Eu não quero mais brigar com você com... um sobrinho meu na tua barriga. O que ele vai pensar de mim? Afinal, ele é metade do meu irmão e... as crianças sentem tudo que se passa aqui fora, segundo o Cláudio. Eu acho estranho, mas se meu irmão disse, eu acredito. Vamos dar uma pausa de oito meses, depois a gente decide o que faz, ok?

Ele estende a mão.

- Paz?

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... CASA BRANCA

PARTE 10

OBRIGADA E BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 31/01/2018
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