RP - ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA - PARTE 8

ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA

PARTE VIII

Jairo vai para o corredor, correndo, e dirige-se ao quarto da filha. Entra e aproxima-se da cama, sentando-se a seu lado e segurando sua mão. Mônica é uma jovem muito bonita. Cabelos bem curtos, pretos e lisos, pele clara, olhos castanhos. Ela está sentada na cama, recostada num travesseiro e sorri, olhando para o pai.

- Está melhor? - ele pergunta.

Ela apenas balança a cabeça, confirmando.

- Está sentindo alguma coisa?

- Um pouco de dor de cabeça, mas passa logo. Não estou acostumada a ficar a noite inteira acordada. A Jô já me deu uma aspirina, ela responde, segurando a mão dele. - Eu te peço desculpas por tudo, papai. Não fique zangado comigo.

- Não estou zangado. Estou preocupado, ele diz lhe beijando a mão. – Não faça mais isso comigo, filha. Eu nem sei o que eu faria se acontecesse alguma coisa com você...

- Não aconteceu nada e eu não sou de papel, pai. Não sou mais criança... Só queria me divertir um pouco e o Wagner me convidou pra comemorar nosso aniversário e... eu fui. Desculpa por ter me excedido no horário, mas eu te garanto que não bebi nada...

- Você é minha única preocupação, Mônica. Entenda isso...

- Está tudo bem. Fique tranquilo.

Ele a abraça e, ao se afastar, diz:

- Eu vou pedir pra Jô trazer alguma coisa pra você comer. Logo estará tudo bem.

Jairo beija seu rosto da filha e se levanta, indo para a porta e saindo do quarto. Mônica une as mãos, cruzando os dedos e sente vontade de chorar, mas se controla e não o faz, respira fundo e coloca as mãos sobre a barriga. Deita-se novamente, se agarrando aos cobertores.

Jairo faz as recomendações a Jô e volta à biblioteca onde Jorge ainda o espera.

- E então? - ele pergunta.

- Tudo bem. Ela está só com um pouco de dor de cabeça, mas...

Jairo olha para o telefone e aproxima-se dele.

- Acho que eu vou ligar pra fazenda do Leonardo...

- Você acha que vale a pena?

- Eu preciso saber do Wagner o que foi que houve. A Mônica não vai se abrir comigo. Eu conheço minha filha. Ele é o único do grupo com quem eu tenho alguma intimidade. Ele é irmão do Cláudio e não vai mentir pra mim...

- Por isso mesmo, Jairo, fale com o Cláudio primeiro. Acho que não vale a pena aborrecer o Leonardo com isso. Ele já deve ter se aborrecido demais com o filho.

- Mas e a minha filha, Jorge?

- Ela já disse que está tudo bem... e o Wagner não era o único rapaz lá. Converse com o Cláudio primeiro. Ele é capaz de aconselhar o irmão e colocar um pouco de juízo na cabeça dele.

Jairo se cala e senta-se numa poltrona, encostando a cabeça no espaldar.

- Acho que você tem razão. De mais a mais, a culpa não foi só dele...

- Isso mesmo. Fique tranquilo. Relaxe e curta seu domingo com sua filha. Já está tudo bem.

Jairo consegue sorrir. Jorge bate em seu ombro e pede:

- Me acompanha até a porta? A Bárbara está me esperando para irmos até o orfanato levar uns presentes aos guris que ela cuida. Você sabe, todo ano antes da época do Natal, ela faz isso.

Jairo se levanta e passa o braço em volta do ombro do irmão.

- As portas do céu já estão abertas pra vocês.

- Pra mim, se for um portãozinho já está ótimo, Jorge diz, sorrindo.

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No dia seguinte, no Hospital Santa Mônica*, que, junto com a Santa Casa de Casa Branca, cuida da saúde dos moradores da cidade, Cláudio já começou a trabalhar. Ele é pediatra e atende crianças com câncer e cardíacas, ajudando Jairo, que às oito da manhã ainda não chegou para trabalhar. Ele está na ativa desde as cinco e não consegue parar de pensar no cafezinho que ainda não teve tempo de tomar.

Quando Jairo chega, acompanhado de Mônica, já são onze e meia e Cláudio já está com Miguel no refeitório.

- Bom dia, senhores, diz Jairo, com um sorriso, abraçado à filha.

- Bom dia, doutor, respondem os dois.

- É a primeira vez que o senhor enforca uma manhã de segunda-feira, hein? O domingo foi proveitoso? - Miguel brinca, sorrindo, mastigando uma coxinha. – A gente pensou que o senhor nem viesse mais hoje.

- Eu sei que posso deixar meu hospital nas mãos de dois médicos tão eficientes como os dois. E sei que o doutor Henrique também segura as pontas por aqui. Eu resolvi prolongar o fim de semana com a minha mascote, ele diz, com ar amistoso, passando o braço em volta do ombro da filha. – Mas eu também preciso trabalhar. Tudo bem por aqui, doutor Cláudio?

Cláudio se surpreende que a pergunta seja feita especificamente para ele, já que Miguel é quem cuida da parte administrativa do hospital Santa Mônica, mas não se abala e responde:

- Tudo tranquilo, doutor. Espero que com o senhor também.

Ele olha para Mônica e a cumprimenta.

- Bom dia, Mônica.

- Oi, ela diz, muito séria. – Papai, eu vou falar com a Ana Luísa. Ela ligou pra mim hoje cedo. Estava preocupada comigo... As notícias nessa cidade correm rápido...

- Certo, mas não se perca de mim. Nós vamos juntos à pediatria.

- Volto em dez minutos. Encontro você no seu consultório.

Ela se afasta. Cláudio a segue com o olhar e se levanta, olhando novamente para Jairo.

- Eu posso falar com o senhor, doutor?

Jairo não muda de expressão, concorda e os dois vão até seu consultório. Miguel fica sozinho, ainda mastigando sua coxinha despreocupadamente.

* O Hospital Santa Mônica não existe de fato na cidade de Casa Branca, mas como ele já existia originalmente, no livro escrito em 1980, resolvi deixar, pois ele faz parte da trama da novela e é importante. Uma sutil licença poética...

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... CASA BRANCA

PARTE 8

OBRIGADA E BOA TRADE!

Velucy
Enviado por Velucy em 30/01/2018
Reeditado em 30/01/2018
Código do texto: T6240670
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