RP - ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA - PARTE 5

ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA

PARTE V

Wagner se joga no sofá aliviado, mas tem que se levantar rapidamente porque Leonardo Valle está descendo as escadas, lentamente, seguido por Magda e da filha menor, Elis, de quatro anos.

Leonardo se aproxima de Cláudio e o cumprimenta com um sorriso:

- Bom dia, filho!

Cláudio se aproxima dele e lhe dá um beijo no rosto.

- Bom dia, pai.

Cláudio pega Elis no colo lhe beijando o rosto. Leonardo se volta para Wagner.

- Eu acho que devo dizer bom dia e boa noite pra você. Não disse ontem, não foi? Ah... Feliz aniversário!

Wagner não consegue olhar nos olhos do pai e fica em silêncio. Leonardo chega bem perto dele e insiste:

- Pra quem só estava na casa do irmão, você me parece meio desconfiado.

- Ele estava, sim, pai, Cláudio se antecipa em seu lugar. – Ele está só envergonhado por não ter avisado. Eu também sinto muito, a gente...

- Quanto ele te paga para defendê-lo? - Leonardo o interrompe, sem tirar os olhos do filho caçula.

Cláudio se cala. Ainda amedrontado, Wagner ergue os olhos e encara o pai.

- Eu sinto muito...

- Wagner, alguma vez eu encostei a mão em você ou ameacei fazer isso? - Leonardo pergunta.

- Não, senhor.

- Já te prendi em casa e te impedi de sair da fazenda por qualquer motivo?

- Não, pai...

- Então por que você morre de medo de mim?

Os olhos do pai não se desviam dos dele e isso o intimida justamente por ter alguma culpa na situação. Consegue responder, com o coração aos pulos:

- Eu... não tenho... medo de você, pai.

- Não tem? - Leonardo pergunta quase querendo rir.

- Não... senhor.

- Então pare de tremer como uma vara verde. Se você não fez nada errado, está com medo de quê? Ou fez?

- Não! - ele responde prontamente.

Leonardo balança a cabeça e vai para perto de sua poltrona favorita, sentando-se nela. Como Wagner não sai do lugar, ele manda:

- Vá tirar essa roupa do seu irmão. Antes de ir se hospedar na casa de alguém, você tem que avisar o anfitrião e levar roupas pra dormir e se trocar. Eu acho que eu devo ter incluído isso na educação que te dei.

- Sim, senhor.

Wagner se afasta dos dois e corre para escada, subindo de dois em dois degraus. Leonardo olha para a mulher e para Cláudio, que está com Elis no colo, e sorri.

- Quem vê acredita que eu sou um carrasco de três cabeças que chicoteia ele todos os dias.

- É só respeito, pai, diz Cláudio. – Tenho certeza de que ele nunca mais passa a noite fora de casa sem avisar vocês.

- Isso é bom. Pelo menos ficou mais assustado que a gente. Pra alguma coisa, eu sirvo. Está tudo bem com ele mesmo? Se você disser, eu acredito.

- Está... Está sim, diz Cláudio, segurando a mãozinha da irmã que brinca com a gola de sua camisa. – Não avisamos porque... o telefone lá de casa está mudo desde ontem... mas está tudo bem.

- Então está bem. Agora vá lá em cima ajudá-lo. Eu acho que ele deve estar tendo dificuldade de tirar a roupa, tremendo como estava...

Cláudio coloca Elis nos braços de Magda e sobe também. Ao entrar no quarto do irmão, o vê sentado na cama imóvel, olhando para a janela em sua frente. Cláudio para na porta e pergunta:

- Precisando de ajuda, moleque?

Wagner olha para ele:

- Valeu, cara. Te devo... nem sei mais quantas. Não sei como te pagar.

- Eu sei, diz ele, entrando e fechando a porta atrás de si.

- Como? Não tenho um tostão aqui comigo...

Cláudio sorri e senta-se a seu lado.

- Não repetindo a dose. Por mais que seus... amiguinhos insistam, não passe mais uma noite fora de casa sem avisar seu pai e sua mãe. Peço muito?

- Não foi culpa deles, Cláudio. Eu nunca faço nada que eu não queira, ele diz com certa tristeza na voz. - A culpa é sempre minha mesmo. Eu só quis comemorar meu aniversário com meus amigos, mas eu vou tentar.

- Não vou dizer nada que você já não tenha ouvido. Não é por nada nem por ninguém que eu peço. É por você mesmo. Vê só: eu nunca te vi bêbado, de pileque... Você não está acostumado com isso. Um copo ou dois, numa ocasião especial, aqui em casa, tudo bem. Não tem problema. Você está em casa, vai pro seu quarto, dorme e pronto. Sua família está com você, se acontecer alguma coisa, mas, na rua, lá fora... você quer mostrar pros amigos que é independente e que não tem pai nem mãe no seu pé. Quer mostrar que é livre... e você é! Mas quando entra bebida alcoólica no meio... quando você vê... acabou o autodomínio e sem ele... você não é nada, mano.

Wagner olha para o irmão por um momento e diz:

- Era isso que eu queria ouvir do meu pai, lá embaixo.

- Ele nem sabe do que aconteceu... graças a Deus! E tudo que eu sei, aprendi com ele.

- Mas ele não saberia me dizer, se soubesse. Quando você fala... dói menos.

- Eu não sou seu pai, Wagner, e o que não dói... a gente acaba esquecendo. Não faça isso.

Wagner o abraça forte.

- Nunca! Já disse que vou tentar. Obrigado.

- Se você disser que eu sou como um pai pra você... eu vou lhe dar umas palmadas. Você está merecendo, hoje.

Os dois riem ainda abraçados.

- Ah, parabéns! E vê se faz vinte anos mesmo, não doze.

Wagner ri.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... CASA BRANCA

PARTE 5

OBRIGADA!

Velucy
Enviado por Velucy em 29/01/2018
Reeditado em 30/01/2018
Código do texto: T6239550
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