RP - ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA - PARTE 3
ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA
PARTE III
Wagner, já vestido com roupas do irmão, vem descendo as escadas.
- Não sei se vou devolver essa camisa sua não. É bacana pra caramba! Preciso visitar mais o seu guarda-roupas. Você quase não usa. Vive de jaleco branco...
Vê Cláudio com o bilhete nas mãos e pergunta:
- Que foi? Que é isso?
- A Tânia saiu sem mim, diz ele, estendendo-lhe o bilhete.
Wagner o pega, lê e ri alto.
- Babá de marmanjo... Continua geniosa a mocinha.
- Eu poderia estar na estrada pra Poços agora... mas quem está sendo babá de marmanjo sou eu... É o fim... - Cláudio diz, em voz baixa.
- Ter um fim de semana com essa chata? Eu hein! ‘Tô fora.
- Pra você tudo é simples e descartável, não é? Quando você vai crescer, cara?
Wagner pula o encosto do sofá e se joga deitado nele, agarrando uma das almofadas.
- Eu não vou me conformar nunca de você ter se casado com essa mulher, Cláudio. Nossos santos não rezam o mesmo catecismo, não se cruzam, não adianta. Eu já tinha me separado dela no primeiro ano de casamento.
- A gente não se casa pensando em separar... Casamento não é brincadeira de criança.
- Viver infeliz com uma mulher que você não ama, é? Você não gosta dela, cara! Nunca gostou.
- Você sempre repete isso. O que te faz pensar que eu não gosto dela? Eu...
- Gosta? - Wagner o interrompe, se levantando. – Mais do que isso, você ama a Tânia? Me diz com todas as letras.
Cláudio demora a responder. A voz sai triste.
- Isso não é mais relevante agora.
- Não, claro que não, porque você não ama! Ninguém é capaz de amar uma víbora como ela a não ser que seja Jesus Cristo, e você é muito bom, meu irmão, mas não é Ele. Tem que ser muito burro, ou cego e surdo pra não perceber como ela é. E, graças a Deus, isso você também não é! Você não vai negar isso.
Disposto a não continuar com aquele assunto, Cláudio desconversa:
- É melhor a gente ir pra fazenda. Deve estar todo mundo bem preocupado com você lá.
Cláudio vai passar por ele, mas Wagner o segura pelo braço.
- Por que você sempre muda de assunto e desconversa quando eu falo disso?
- Porque eu estou casado há oito anos e não tenho motivo nenhum pra tentar sequer pensar em separação. Tem muita gente que sofreria um bocado, se isso acontecesse. Meus sogros, meu pai, o tio dela. Você não põe isso na balança? Pra você, a vida é uma boate barulhenta e iluminada, não é? Mas não é assim! Eu gosto demais de todos eles para evitar isso o mais que eu puder.
Wagner dá de ombros, balança a cabeça e vai para a porta. Cláudio pega as chaves do carro e o segue.
Em menos de quinze minutos, estão nas terras da Fazenda Quatro Estrelas. Uma fazenda de gado leiteiro de propriedade de Leonardo Valle, de cinquenta anos.
Quando o carro atravessa os portões da fazenda, Lopes, o administrador da imensa propriedade que está a cavalo, se aproxima do Mercedes azul metálico e pergunta, sorrindo, ao ver Wagner sentado no banco do passageiro:
- Onde o senhor achou essa preciosidade, doutor? Estávamos procurando por esse boi fugido desde ontem à noite.
- Me dá alguma coisa por ele, Lopes? - Cláudio pergunta, saindo do carro e olhando também para irmão.
- Eu não, mas o patrão está querendo muito colocar as mãos e outras coisas nele, ele responde, apoiando-se no capô do carro, gozador.
- Vê se te mete com a tua vida, Lopes, Wagner diz em voz muito baixa, entre dentes. – Não enche. E boi fugido é a...
- Se continuar, eu te deixo aqui e vou embora! - Cláudio se adianta, antes que o rapaz termine a macriação.
Wagner se cala, emburrado. Cláudio aperta a mão de Lopes, volta a entrar no carro e segue. Depois de alguns metros, atravessam uma alameda e entram num jardim ladeado por pés de azaléias, ipês e jabuticaba, árvore símbolo de Casa Branca, que Magda, a dona da casa, cultiva com muito amor e uma pitada de ciúmes que ela mesma faz questão de declarar. Ao chegar diante da sede, Cláudio desce novamente, mas Wagner não faz o mesmo, ficando indeciso e temeroso.
- Vossa Alteza não vem? - Cláudio pergunta, com um sorriso, sabendo do que se passa na cabeça dele.
Wagner não responde e nem sai do carro. Passa as duas mãos no rosto e encosta o braço na porta do carro, coçando a testa suada.
Cláudio abre a porta em que ele está apoiado, quase o fazendo cair e manda:
- Vem. Eu não tenho o dia todo.
RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... CASA BRANCA
PARTE 3
OBRIGADA E BOM DIA!