TEACHER VII - BOAS NOTÍCIAS, ENFIM! - CAP. 4
BOAS NOTÍCIAS, ENFIM! – Capítulo 4
Tereza encostou-se na parede próxima e ficou assistindo jogo, meio distraída. Nelson perdeu três partidas e reclamou:
- Pô, meu! O Rupert fica soprando tudo! Assim não vale, Sarinha!
- Eu? – defendeu-se Rupert. – Você empresta minha perna pra jogar e ainda diz que eu estou soprando? Como é que se pode soprar um jogo de damas?
- Com os olhos, indicando pra ela onde mandar as pedras...
- Ah, dá o fora daqui, Nelson. Ser ruim é uma coisa, agora jogar em cima de mim a culpa já é demais.
Acabou o jogo. Rupert se sentou reto no sofá e esfregou o rosto, impaciente; tentou se levantar, mas não conseguiu e continuou sentado para colocar a cabeça em ordem.
- Queria andar um pouco. Queria tanto ver a Laura...
- Não pode. Ninguém entra na UTI a não ser os médicos e as enfermeiras, falou Carla.
- Mas o que é que estão fazendo com ela, lá? Ninguém fala nada. Não se tem nenhuma notícia desde cedo...
- Eu te disse que o Hélio só vem falar com você quando tiver alguma novidade.
- Eu sei… Já estou até vendo ele dizer pra enfermeira: “Segura aquele marido dela lá embaixo. Não quero confusão no meu hospital.”
- E ele tem razão, concordou Carla. - Se você não quer ir pra casa, se quer ficar aqui, não pode perder a paciência alegando cansaço. Tem que fazer uma forcinha pra se acalmar sozinho, sem precisar de sedativos.
- Mais calmo do que eu estou é impossível. Acho que eu nem estou aqui. Isso aqui é só minha casca, uma coisa sem emoção, sem reação nenhuma, morto... frio... Eu mesmo estou lá com a Laura, dentro dela... no lugar do nosso filho...
As lágrimas começaram a rolar no rosto dele. O efeito do remédio estava passando de novo. De repente, ele se lembrou de algo e pediu:
- Tê, cadê minha mochila?
- Está aqui, ela disse, tirando a mochila dele que estava no ombro dela todo o tempo.
Ele a apanhou e abriu, retirando de dentro dela o envelope que havia pegado na porta do apartamento de Laura naquela manhã.
- O que é isso? – Nelson perguntou.
- Estava na soleira da porta da casa da Laura hoje cedo. É pra mim...
- Então abre! É o logo na Nestlé! Você mandou currículo pra eles?
- Mandei, pra eles e pra Panasonic. Preciso mudar urgentemente de emprego. Não posso mais continuar trabalhando naquela oficina.
Rupert rasgou a borda do envelope e tirou de dentro dele a carta dobrada em duas. Começou a ler apenas com os olhos e aos poucos um sorriso foi surgindo no rosto dele.
- Que foi, cara? Fala logo!
- Eles me aceitaram... Estão pedindo aqui pra eu ir até lá na primeira segunda-feira depois do feriado.
- Caramba que legal!
- Eu vou sair daquela oficina… A Laura me deu sorte. Queria tanto contar pra ela...
- Você vai contar. Tenha fé, Rupert, disse Sara, colocando a mão sobre a dele.
Hélio apareceu no final do corredor e aproximou-se deles. O médico tinha o ar cansado, mas parecia calmo. Rupert olhou para ele e se levantou, contendo a ansiedade.
- Se você está aqui... é porque tem novidades. Que novidades, doutor Hélio? Boas ou ruins?
- Eu sabia que ela reagir. As novidades são boas. Sua mulher acordou e está bem. Nossa Laura é uma mulher muito forte e tem muita gente rezando por ela aqui fora.
Rupert voltou a se sentar e abriu um largo sorriso, misturado com lágrimas.
- Obrigado, meu Deus!
Não houve quem não chorasse junto com ele. Passada a emoção, Rupert perguntou:
- Eu já posso vê-la?
- Você não acha melhor ir pra casa, tomar um banho, um café reforçado e voltar mais tarde? A maratona aqui já foi bem difícil. Vamos amanhecer o dia direitinho. Vai fazer um dia que você está aqui. Já viu seu filho?
- Não, ainda não.
- Ele vai fazer um dia daqui a pouco. Você tem consciência disso?
Rupert ficou em silêncio pensando no fato. Sentiu-se horrível.
- Vai pra casa e volta mais tarde refeito pra ver os dois. A Laura vai estar aqui esperando por você e, se der tudo certo... com ele nos braços pra te ver. Ela está ansiosa pra ver os dois.
O rapaz concordou.
- Obrigado, Hélio... Muito, obrigado e... desculpa.
- Já vi coisa pior. Você não tem nem ideia! Mas você não sabe como eu te entendo. Eu não queria ter estado no seu lugar. É complicado mesmo ficar sem notícias sobre a saúde de quem a gente ama num lugar como esse. Mas acabou tudo bem. Vão pra casa, todos vocês. Eu também vou. Meu plantão terminou à meia noite!
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Welcome to my dreams...
CAPÍTULO 4