TEACHER VII - ESPERA - CAP. 3
ESPERA – Capítulo 3
Rupert passou o resto da manhã esperando por notícias de Laura, mas elas não vieram. O sedativo que lhe haviam aplicado começou a perder o efeito totalmente pouco antes do meio dia.
Ele se levantou e Tereza perguntou preocupada:
- Aonde você vai?
- No banheiro, posso?
- Ah, desculpe, claro... Quer que eu vá comprar alguma coisa pra gente comer? A gente podia ir almoçar em algum lugar aqui perto mesmo...
- Não estou com fome... ele disse, sem parar de andar. – Se você quiser ir, pode. Vá pra casa, Tereza.
Ela não foi. Não queria deixá-lo sozinho.
No meio da tarde, Rupert começou a ficar nervoso e chegou no balcão da recepção para tentar falar com Hélio, mas a única coisa que conseguiu foi falar com uma enfermeira que já sabia do seu caso.
- O doutor Hélio pediu pra você ir pra casa, se quiser.
- Eu não vou sair daqui!
- Sua mulher está na mesma, mas está sendo monitorada o tempo todo por ele e pela equipe dele... O senhor já viu seu filho?
- Não, eu quero ver a Laura.
- Lamento, mas... o doutor Hélio...
- Eu quero saber da minha mulher! O que está acontecendo de verdade com ela! Eu preciso falar com o Hélio pessoalmente! Faz quase oito horas que eu estou sentado naquele sofá e ninguém me diz nada!
Percebendo que Rupert está ficando muito exaltado e, sob prescrição de Hélio mesmo, a enfermeira pediu ajuda aos seguranças e lhe aplicou outra injeção calmante que o colocou dormindo.
Ele foi levado para uma maca na sala de emergência e dormiu por mais algumas horas, com Tereza ainda a seu lado, na maior parte do tempo, mas de vez em quando um amigo a rendia e ela teve tempo para ir até em casa tomar um banho e almoçar. Mas voltou mais tarde, com um marmitex para ele.
De resto, Rupert passou a noite inteira e parte da madrugada à base de sedativos leves, mas não chegou a dormir direito nem por uma hora. Ficou sentado em silêncio no sofá com Tereza a seu lado. Décio já tinha ido embora.
No meio da madrugada, Carla chegou e, ao vê-los ali, aproximou-se de Rupert.
- Hi, dear! – ela falou, passando a mão por seus cabelos.
Ele chegou a sorrir.
- Hi, teacher!
- Soube que você não comeu nada a noite toda. Trouxe um sanduíche.
Ela estendeu a ele um pacotinho com o sanduíche que parecia ter sido feito naquele momento e cheirava bem.
- Não estou com fome, não.
- Mas precisa comer, ela disse.
- Falaram alguma coisa pra você?
- Não, só o que você já sabe. Que ela está na UTI e está sendo muito bem tratada, sendo monitorada o tempo todo pelo doutor Hélio. Ele só não vem te falar nada porque quer vir quando tiver alguma novidade boa. Não fica zangado com ele. Eu consegui ver o seu garotinho. Ele é lindo!
- Eu ia lá, mas eles me deram uma injeção pra matar cavalo. Estão me dopando o dia inteiro. Eu não consigo nem pensar em levantar que sinto como se o chão fosse de marshmallow.
Carla e Tereza sorriram.
- Pelo menos seu humor ainda não acabou... É melhor mesmo você ficar aqui. Mas é por isso mesmo que você precisa comer. O sedativo está te deixando assim porque você está praticamente de estômago vazio.
- Ele não dormiu nada ainda também, disse Tereza.
- Nem você, ele disse. – Seu pai deve estar bem preocupado com você.
- O Décio disse que ia ligar pra ele quando chegasse em casa. Disse que não pôde ficar...
- Eu sei. Eu ouvi. Não tinha cabimento mesmo ele ficar aqui. Ele também tem a mulher e o filho dele pra cuidar.
Rupert fechou os olhos e passou a mão pelo rosto, demonstrando cansaço.
- Se você quiser ir pra casa, vá, Tereza, falou Carla. – Eu fico aqui com ele.
- Eu vou sim, mas é avisar o Nelson e a Sara. Ele está sem telefone e ela deve estar com ele agora. Volto logo, viu?
Rupert pegou sua mão e sorriu e pegou o sanduíche das mãos de Carla, entregando a ela.
- Come um pouco.
Ela devolveu.
- Come você. Você precisa estar forte pra quando a Laura acordar e for te dar uma bronca por ser tão teimoso.
Tereza o beijou carinhosa no rosto e afastou-se.
- Grande amiga, não? – perguntou Carla.
- A maior delas... ele disse, com um suspiro. – Senta aí. A casa é pobre, mas o sofá até que é gostoso... O governo dá pra gente ficar de molho aqui.
Carla sentou-se onde Tereza estava e sentiu vontade de chorar, mas conteve-se. Rupert percebeu.
- Não se acanhe. Eu não choro porque eles não querem. A gente não pode nem gritar por quem a gente ama nesses hospitais. Incomoda, sabe?
Carla encostou a cabeça no ombro dele e chorou baixinho. Rupert apenas respirou fundo e fechou os olhos. Parecia ter uma pedra dentro do peito e areia nos olhos.
Minutos depois, Carla notou que ele tinha adormecido. Ergueu a cabeça. Mas o sono dele durou apenas mais quinze minutos.
Rupert acordou quando Nelson e Sara chegaram. Nelson trazia um tabuleiro de damas embaixo do braço. Colocou a mão no ombro dele.
- Fala, meu irmão! – disse ele, apertando a mão de Rupert. – Tudo certinho, paizinho fresco?
Rupert ajeitou o corpo no sofá e perguntou:
- Que é isso aí?
- Meu tabuleiro de damas. Lembra que a gente jogava nos intervalos nos dois primeiros anos de faculdade? O bedel tomou, lembra?
- Lembro. Ele devolveu?
- Devolveu. Agora eu sou quartoanista em véspera de formatura. Devolveu com o pedido de desculpas ainda.
Rupert conseguiu rir.
- Quer perder um pouco? - o rapaz perguntou.
- Não estou com cabeça, não, Nelson. Se você já ganha de mim, comigo estando sóbrio, imagine dopado.
- Mas eu justamente te convidei pra perder!
- Não... Joga com a Sara. Quero assistir ela bater em você.
A moça sorriu e esfregou as mãos, olhando para o namorado.
Nelson colocou o tabuleiro no colo de Rupert só para mexer com ele e fazê-lo pensar em outra coisa e começou a ajeitar as peças, devolvendo o olhar para ela com cara de vilão. Rupert sorria, ainda sentindo a cabeça rodar.
Tereza encostou a cabeça no ombro de Carla e começou a chorar em silêncio para ele não perceber.
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Welcome to my dreams...
CAPÍTULO 3