Jasmim
Iniciando mais uma história...este é o primeiro capítulo do meu segundo romance, gostaria muito da opinião de vocês se comecei bem. Aguardo vossas opiniões nos comentários.
CAPÍTULO I
Uma fumaça branca cobria um cômodo penumbre da casa. Olhando pela janela da sala, e imaginando um futuro brilhante para o filho que acabara de dar os primeiros choros, estava seu Armitão, tragando seu cachimbo feito de barro. No restante da casa pairava uma euforia e gritaria de mulheres, correria.
— Nasceu, siô!
Ao ouvir o anúncio, Armitão, sem se mover do lugar e nem se virar para ver quem falara, apenas disse:
— Já sei, ouvi os berros do muleque.
Em pé, como estava, continuou fumando seu cachimbo, ora ou outra uma tragada mais profunda, uma tossida; seu olhar sempre fixo na imensidão da fazenda. Do lado de fora, os trabalhadores cercavam a propriedade, curiosos para saber se era mesmo menino, como o patrão tanto dissera que seria.
— Será que é menino? — perguntava um.
Outro respondia:
— O patrão estava certo que seria menino, sempre falava em muleque.
O diálogo é quebrado por dona Imbira, mulher de pele morena, cabelos crespos, um metro e cinquenta; ela tinha como tarefa na fazenda o cuidado no preparo de toda a comida, estava com a família a duas gerações, gozava do respeito dos patrões, principalmente da senhora Indira, a mesma que dara à luz a pouco:
— Vamos trabalhar seus curiosos, ficam aí futrigando a vida dos outros, hum.
— Que nada, dona Imbira, estávamos aqui somente querendo saber se o mule...ou melhor, a criança já nasceu. — Falou José, o mais novo funcionário.
— Já nasceu sim, e o patrão estava errado.
Trocaram uns olhares e sorrisos de felicidades, mas também confusos; todos estavam felizes com o nascimento do herdeiro de senhor Armitão.
— José, meu fie, vá pegar uma caipira, vou preparar uma canja para a sinhá Indira, pois depois de ganhar o muleque ela precisará para recuperar as forças.
— Vou sim, volto já.
O casarão e sede da fazenda São Francisco era uma construção antiga, contava com vinte quartos, duas cozinhas grandes, uma sala enorme, corredores longos e escuros. Imóvel, continuava se deliciando em seu cachimbo, parecia perdido nos pensamentos.
— É bom o senhor não fumar perto da criança, pode fazer muito mal a frágil saúde dela — Disse Dona Vergulina, a parteira. Mulher respeitada pelo povo da região, pois a muitos anos, todas as crianças que nasciam eram separadas da mãe pelo corte de sua tesoura. Moveu-se para olhar a mulher que adentrava na sala trajando roupas sujas de sangue e carregando seus objetos de trabalho, estava suada, cansada e um pouco triste, continuou:
— Tenho duas notícias nada agradáveis para dizer.
Olhando a mulher com os olhos semicerrados, rosto coberto pela fumaça branca que teimava em sair constantemente de sua boca, disse:
— Desembuche.
— Sua esposa estar muito fraca, a criança deu muito trabalho para nascer...
— E a segunda — Disse cortando sua fala.
— É uma notícia boa, nasceu uma linda menina!
— O quê?
— Isso lá é notícia boa — Disse entristecido — Preciso é de um menino e que seja cabra-macho para me ajudar na lida, não uma menina.
Do quarto, ouve-se pedido de ajuda, era Imbira que vinha correndo desesperada pelos corredores escuros:
— Ajudem, ajudem, a Sinhá, a Sinhá....
— O que tem ela, mulher....
— Vá lá dona Vergulina....
Correram ambas para o quarto. Na penumbra do cômodo a criança sugava o peito da mãe na esperança de encontrar qualquer alimento, chorava; a mãe tentava com muito esforço alimentar a filha, estava preocupada e chorava, falou com uma voz cansada suas últimas palavras:
— Se eu morrer, por favor, cuidem da minha pequenina; o nome dela será Jasmim...
Virou a cabeça e junto com o movimento foi fechando também os olhos dando o último suspiro, expirou! As mulheres que ali presenciaram a cena se abraçaram olhando a criança que ainda tentava, em vão, sugar qualquer alimento que fosse. Retiraram-na e a colocaram em um berço que ficava ao lado da cama. No dia seguinte foi o cortejo fúnebre. A vila inteira de Jacarandá estava presente, assim como figuras importantes: O padre seguia na frente, depois vinham o prefeito e a primeira dama, alguns vereadores; e sempre ao lado do caixão, seguia Armitão sempre em silêncio, sem trocar uma palavra com ninguém.
(....)